O Palmeiras entrou no gramado do Allianz Parque, no último domingo (27), para enfrentar duas situações: a constante busca pela evolução do seu futebol e a tensão psicológica causada pelo Flamengo, que, em uma semana, deu um espetáculo antidesportivo e exemplos de como não se cumprir o protocolo acordado. O rival carioca, que teimou em não seguir olimpicamente os tratos para a volta do futebol ao qual tanto forçaram para retomar em meio à pandemia, arquitetou a não participação no jogo contra o Verdão em uma flagrante reivindicação que, se concretizada, seria a prova definitiva de que a regra não vale para todos. 

Palmeiras empata até em dia que protagoniza vitória do futebol brasileiro fora de campo
Palmeiras empata até em dia que protagoniza vitória do futebol brasileiro fora de campo

Nos dias que antecederam o jogo de domingo, houve quem fizesse de tudo para jogar o ônus ao Palmeiras, com acusações de interesse em levar vantagem, se aproveitar do rival desfalcado. Acontece que se esqueciam de que outras equipes também se sacrificaram em partidas com jogadores afastados pela COVID. Assim foi o combinado, assim se firmou o pacto para começar o Brasileirão, até que chegou a proposta de virada de mesa por parte do Flamengo, desprezando os protocolos definidos pela CBF e pelos clubes que disputam o torneio.

Imbróglio

Depois de o Flamengo conseguir a suspensão da partida através do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro (TRT-RJ), uma liminar já no domingo determinava que, como o surto se instaurara, o time - ao não participar do jogo pelo Brasileirão - deveria cumprir uma quarentena séria de 15 dias, sem treinos, sem jogos.

Curioso que desta maneira, o Flamengo, que aguardava decisão derradeira no hotel, talvez receoso por ter problemas na Libertadores - tem jogo marcado contra o Independiente Del Valle nesta quarta (30) - resolveu se encaminhar ao Allianz Parque. Fiquei com a impressão de que a quarentena proposta pelo Rubro-Negro - para resguardo de seus atletas e de todos - era apenas para o jogo de domingo. Pleitear regalias que fogem da legalidade para a Conmebol suprir suas vontades individualistas poderia ser mais difícil. 

A realização da partida foi uma vitória do futebol, pois manteve a isonomia do campeonato e brecou viradas de mesa. Felipe Melo teve razão ao apontar que não jogaram uma partida normal. A equipe do Palmeiras cumpriu rigorosamente os resguardos para correr menos riscos possíveis, afinal quem leva a sério a pandemia sabe o quão revoltante e estressante é ter uma postura responsável e assistir a seus pares não se importando com o coletivo.

Dentro de Campo

 

Se as questões que cercavam os lados sinistros do futebol brasileiro encontraram respostas positivas, a busca por um jogo ofensivo, outro desafio alviverde, não teve sucesso. Com um time lento, paralisado pela bem armada base do Flamengo, viu praticamente todas as suas tentativas de criar algo fracassadas justamente por jogar espaçado demais, como afirmou o genial Paulo Catedral de Luz, colunista do portal “Palmeiras Todo Dia”. O Palmeiras apresenta uma formação de time de pebolim, jogadores fixos à espera da bola sem prover movimentação. Para completar a frase de Catedral, afirmo que, ao menos no pebolim, o toque de um time espaçado pode terminar em arremate para o gol, o que para o Palestra tem sido um suplício.

E vem da “Armada Palestrina”, canal sempre aberto para as ideias e papos palestrinos, outra preocupante percepção que indaga o ponto que chegamos. Luiz Chantre, palmeirense do “Terça na Rede”, live que conversa sobre as jornadas esmeraldinas, levantou a seguinte questão: o time chegou no seu limite técnico, no seu limite de rendimento? A pergunta cabe, porque desde o início da jornada palestrina na retomada do ano atípico, se percebe uma breve melhora. Mas se as atuações improdutivas forem o padrão estabelecido, o que talvez seja o teto de evolução atingido, aí sim a paranoia pode acometer a massa verde e branca com certa razão. 
 

Lampejos

No festival de chutões, bolas rifadas e desconexão entre setores, começa a vir à tona que não apenas uma pane de armação vive o Palmeiras. Não são só dificuldades em criar jogadas, a criatividade dos jogadores para fazer o diferencial também fica sob xeque. Com jogo engessado, toquinho de lado, o time se distancia do gol, se afasta da vitória. Com isso, dá-lhe Gustavo Gomez sobrando na zaga para garantir mais um empate.

A base do Flamengo mostrou o quão desnecessária foi a polêmica medrosa que o clube da Gávea bancou nos dias que antecederam o jogo, pois neutralizou o Palmeiras, bem como levou muito perigo ao gol de Weverton. Mas da base do Palmeiras veio outra atuação impecável pela força que emana e dedica ao time. Patrick de Paula gastou a bola na partida, garantindo algum brilho ao opaco Palmeiras. Combativo e incansável como nunca, guardou mais um gol depois de um petardo fora da área, que contou com desvio providencial de Thiago Maia.

Pressão

Luxemburgo, em entrevista coletiva após a partida, finalmente admitiu que o Palmeiras deve rendimento e performance. Já era hora, pois se chegou ao ponto em que não dá mais para dourar a pílula de resultados que demonstram como o time patina e não avança. O único invicto do Campeonato Brasileiro, na verdade, apresenta uma situação anormal, em que não perde, mas também não pode se tranquilizar já que se mostra incapaz de vencer. Luxa já divide a torcida, sua cabeça é pedida assim como sua permanência é ponderada por meio da tese de que sua saída pode piorar a situação.

O Palmeiras perdeu uma ótima oportunidade de colocar um bom resultado em sua galeria de vitórias, pois foi protagonista fora dos campos para que exceções a regras fossem praticadas. O empate veio com gosto de derrota no dia em que o futebol brasileiro venceu a virada de mesa.