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“A bike foi fundamental para tudo se encaminhar como está”, conta Carlos Alberto, ciclista que estreia nas Paralimpíadas de Tóquio 

Ciclista da Seleção paralímpica brasileira desde 2018, Carlos chegou a tentar o gol, no futebol, quando criança, mas acabou seduzido pelo pedal; conheça a história do atleta na entrevista exclusiva dada do Bolavip Brasil

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Por lreis

Aos 26 anos, o ciclista goiano Carlos Alberto Soares vai disputar sua primeira Paralimpíada, em Tóquio, a partir do dia 24 de agosto, e contou ao Bolavip Brasil, em entrevista exclusiva, um pouco de sua história, de como a bicicleta, que a priori era apenas um meio de transporte para ele, fez com que sua vida mudasse a ponto de levá-lo à Seleção brasileira de ciclismo paralímpico.

Carlos Alberto, durante o Campeonato Mundial de Paraciclismo, no Rio de Janeiro, em 2018. (Foto: Getty Images)
Carlos Alberto, durante o Campeonato Mundial de Paraciclismo, no Rio de Janeiro, em 2018. (Foto: Getty Images)

“Se os meus músculos não tivessem mais um ganho de firmeza, eu poderia estar numa cadeira de rodas até os meus 18 anos, porque iam atrofiar mais. Mas, isso não aconteceu, não, e a bike foi fundamental para tudo se encaminhar como está hoje”, contou o ciclista paralímpico, que foi diagnosticado com poliomielite aos seis anos de idade. De lá para cá ele tentou outras modalidades esportivas, mas foi a bike que mudou sua vida de vez, conforme conta no decorrer da entrevista. Leia a íntegra a seguir.

Nos conte um pouco da sua história de vida e sua história no esporte.

Tenho 26 anos, aos seis tive paralisia infantil, uma poliomielite, que afetou a minha locomoção e o meu caminhar. Dos seis até os meus 12 anos, ela foi sempre se agravando, eu comecei a fazer tratamento e procurei alguns hospitais — a Santa Casa, no estado de Goiás, depois procurei tratamento num hospital de base, que foi em Brasília, e depois de um tempo comecei a tratar no [Hospital] SARAH.

Sempre fui um menino assim, que mesmo com a limitação, sempre um pouco acelerado, sempre busquei fazer as coisas, vim superando qualquer dificuldade que eu tinha, desde criança.

E a bike entrou na minha vida primeiro como um meio de locomoção — que para mim era mais rápido, por ter uma deficiência, [ao] ter uma locomoção com a bicicleta eu conseguia desenvolver mais rápido —, e fazendo os tratamentos no Hospital SARAH, eles optaram por alguma atividade física, [como a] musculação, [e] eu aderi por um tempo, só que eu vinha desenvolvendo muito os membros superiores, e os inferiores — pela lesão, pela deficiência — não estavam desenvolvendo.

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Daí, como eu sempre andava de bike, já ajudava um pouco a “melhorar” minha deficiência. Melhorava, [pois] eu tive um ganho a mais de força… E eu tentei outros esportes, sabe. Eu tentei futebol, mais para interagir com os amigos e estar junto. Daí fiquei um tempo no gol, mas foi uma passagem muito rápida. E para este lugar [em] que eu ia treinar com o pessoal, eu ia de bike; a bicicleta, para mim, ajudava bastante. Por ir sempre de bike, eu acabava fortalecendo meus membros inferiores, e depois, com o tempo, comecei a praticar o mountain bike.

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Como estava trabalhando numa oficina de bicicleta, e eu consegui ganhar uma bike bem simples num passeio, acabei vendendo-a e comprando uma mountain bike, mas para ir junto dos amigos, num pedal para curtir a natureza. Nada de competir, não tinha isso em mente.

Porém, fui melhorando cada vez mais no esporte e na vida (fisicamente, meu caminhar estava mais preciso, estava caindo menos) e meu médico até perguntou “qual atividade física está fazendo, Carlos?”, daí falei “olha, estou no ciclismo, no mountain bike” e tal. E a minha família tinha um pouco de receio, com medo de eu cair, porque é um esporte um pouco agressivo, mas daí então ele [o médico] falou “olha, que bom. Você está ganhando mais força, a gente viu em seus exames que você está ganhando mais firmeza em seus músculos”. Se os meus músculos não tivessem mais um ganho de firmeza, eu poderia estar numa cadeira de rodas até os meus 18 anos, porque iam atrofiar mais. Mas, isso não aconteceu, não, e a bike foi fundamental para tudo se encaminhar como está hoje.

E eu fiquei no mountain bike entre os meus 17 a 19 anos. Sempre andava com os amigos, fui para algumas competições amadoras, corri na categoria turismo, comecei a me sair bem, consegui chegar em alguns pódios e estava gostando. E então, eu tinha um amigo de Brasília, que era técnico e amigo do treinador da Seleção de paraciclismo, e ele falou “faça um teste, tem uma competição em Goiânia e você está bem próximo, faz um teste na prova”, e eu fui.

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Peguei todos os exames, uma road (a bicicleta de ciclismo de estrada) emprestada e fui, fiz a classificação, na xlasse C1, na qual estou até hoje, e já comecei bem, fazendo o segundo lugar numa prova de estrada e o primeiro na contra-relógio. Comecei bem e o pessoal viu que eu tinha futuro, por se um jovem e já com um ganho de potencial.

Em que ano exatamente você ingressou na Seleção brasileira de ciclismo paralímpico?

Em 2018 eu ingressei na Seleção brasileira de ciclismo, no campeonato mundial, no Rio de Janeiro. Foi a minha primeira participação com a Seleção, e daí em diante eu integrei a equipe em 2019 e 2020, e agora, em 2021, [novamente] nos Jogos Paralímpicos.

Esta é sua primeira participação nas Paralimpíadas, correto? Como está sua expectativa para esta estreia nos Jogos?

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Vai ser minha primeira Paralimpíada, e para mim é magnífico poder fazer parte da Seleção, poder representar [o país], usar a bandeira no peito. Como tinha uma deficiência, não conhecia muito do esporte paralímpico e eu jamais me imaginaria estando em competições, na Seleção e podendo conhecer outros países, e graças ao ciclismo, hoje eu consigo viver dele [o esporte]. Estou muito motivado e feliz com tudo isso.

Hoje você conta com patrocínio, bolsa ou algum incentivo do governo ao esporte? Se sim, qual/quais?

Tenho, sim. Tenho patrocínio do Bolsa Atleta, então já consigo me manter e [também] faço parte da equipe Memorial, de Santos, que também tem minha ajuda, meu salário. Então, graças a tudo isso, hoje eu consigo viver só do esporte. Até brinco: eu não trabalho, porque quem ama o que faz não trabalha.

A pandemia afetou seu treinamento de alguma forma? Se sim, como?

A pandemia “afetou”, sim, o treinamento, porque as competições acabam sendo um treinamento. É onde você vai ver como está o seu adversário de prova, o que você tem que melhorar, e com a pandemia parou tudo.

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Então, a forma física teve uma queda (um pouco, mas teve), [porque] como não tinha corrida, uma prova-alvo para estar treinando, você acaba dando uma ‘tirada de pé’. Mas, eu continuei mantendo alguns treinamentos.

Como [o treino com] a bike é ao ar livre, no início de tudo, da pandemia, quando não conhecíamos muito sobre a doença [a Covid-19], eu fiquei mais em casa, fiz treinamento no rolo, que era o mais indicado.

E com o tempo, fui fazendo treinamento de estrada, só não o de academia — este a gente foi aprimorando em casa, [já] que dá para fazer muitas coisas. Então, acabou que [a pandemia] afetou nessas partes.

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Carlos Alberto Soares competirá nas provas de ciclismo de estrada e pista (velódromo), nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Para acompanhar a programação do paraciclismo no evento, que começa dia 24 de agosto, clique aqui.

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