O choro de Filipe Toledo nas águas de Trestles, na Califórnia, nos Estados Unidos, não era somente de comemoração pela conquista de seu primeiro título mundial de surfe. Tinha outro componente, o de recompensa. “Estoume sentindo aliviado depois de tanto trabalho”, disse Filipinho. Neste ano, ele dominou o Circuito Mundial de Surfe (WSL), chegou em sua “casa” como o número 1 da temporada e não deu chances para Italo Ferreira na finalíssima. O que explica a evolução do brasileiro? Confira o nosso especial!
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Vasto repertório
Filipinho é um surfista com um amplo repertório de manobras, como os aéreos e rasgadas. A combinação acabou sendo perfeita para as ondas de Trestles na Califórnia, onde ele residedesde 2014. “Ele mora e treina láe é um surfista que tem essa versatilidade que a onda pede. Ele sabe dar a rasgada na hora certa,tem velocidade e precisão nas manobras eum arsenal aéreo melhor do que os outros. Então, ele está um degrau acima dos demais”, analisaDiogo Mourão, autor do blog “Boas Ondas” do GE e comentarista do Grupo Globo.
Inclusive,Trestles contribui para os surfistas mostrarem diferentes técnicas, visto que ela seriauma onda de alta performance. “Basicamente, ela tem mais direitas do que esquerdas. Facilita os surfistas que pegam com o pé esquerdo na frente[na prancha]. Éuma onda de alta perfomance, ela oferece aos surfistas mostrarem um variado repertório de manobras, sejam batidas, aéreos, rasgadas, chamadas de manobras de linhas”, explica Mourão. Na última onda da decisão, Filipinho escolheu o lado direito, fez várias rasgadase ganhou uma nota maior em comparação com Italo, garantindo a vitória.
Toledo comemorando o título na Califórnia. Reprodução/Instagram oficial de Filipe Toledo
Parte mental
Filho do surfista Ricardo Toledo, conhecido comoRicardinho, Filipinho conta com o seu pai em sua comissão técnica.Na verdade, Ricardinho esteve ao seu lado em todas as suas competições sendo essencial desde o seu começo na modalidade. O pai tem apoiado em outra questão importante: a mental. Para Mourão, este seria o principal fator de evolução do atual campeão mundial.
“O surfe do Filipinho está bem parecido com o que ele sempre executou nos últimos anos. Talvez ele tenha exercitado mais a força mental.[…] Às vezes, ele se afobava um pouco, mas neste ano isso não aconteceu. Ele está mais tranquilo nas baterias. Ele perdeu uma ou outra no detalhe e algumasmal julgadas, incluindo em finais. A evolução talvez não tenha sido no surfe, mas um pouco na parte mental. Tanto que o pai dele está indo para a praia com uma camisa escrita: ‘Sem medo, Toledo'”. Em 2019, já entre os melhores do mundo no circuito, o paulista revelou ter sofrido com depressão.
Experiência
Nove anos de WSL, três anos seguidos entre os quatro melhores e um vice-campeonato de 2021. Mesmo ausente dos Jogos de Tóquio no ano passado, – cada país poderia ter somente duas vagas, o Brasil acabou sendo representado por Gabriel Medina e Italo – a WSL teve um nome e sobrenome entre os homens em 2022: Filipe Toledo.
Ganhador de duas etapas (Bells Beach e Saquarema – esta comum 10 na final), o brasileiro chegou na 2ª posição em outros três eventos deste ano. Liderando o ranking da temporada com antecedência, Filipinho soube utilizar a experiência a seu favor.Calejado pelas dificuldades dos últimos anos, ele se mostrou fisicamente e mentalmente pronto para levantar o título. O Brasil tem um novo campeão mundial de surfe.