Campeão mundial dos 400m com barreiras, Alison dos Santos conquistou um título inédito para o atletismo brasileiro. O primeiro homem a ganhar uma medalha de ouro em Mundial para o Brasil teve um planejamento minucioso e traçado pelo treinador Felipe Siqueira. O profissional detalhou como prepara o treinamento de Piu, além de revelar como trabalhou o ponto fraco do corredor para o igualar com os seus principais adversários.
“A gente tem as distâncias entre as barreiras e a gente tenta montar um programa, uma estratégia onde o atleta se ajuste a essas distâncias. Isso vai muito do biotipo do atleta, da estatura [Piu tem 2,00m], do nível de força e do nível técnico. O Alison ainda é um atleta jovem, então a gente buscou o melhor modelo para ele”, começouFelipe. O brasileiroatingiu a marca de 46s29 em Eugene, nos Estados Unidos, o terceiro melhor tempo da história da prova.
“Algumas barreiras nos primeiros 200m ele faz uma passada a menos, então ele corre com 12 passadas quatro barreiras nos primeiros 200m. Depois disso, ele vai para 13 passadas. É uma questão fisiológica também. Ao ponto que ele vai ficando cansado, a gente aumenta o número de passadas para manter o mesmo nível de frequência (cardíaca)“, afirma. Inclusive, obrasileiro costuma ser conhecido por acelerar quando entra nos últimos metros.
Técnico revela melhorano ponto fraco de Alison
Siqueira explicou que Alison necessitava evoluirnos primeiros 200m da prova. Nos últimos meses, ele trabalhou em reduzir a diferença aos dois adversários do brasileiro, o norueguêsKarsten Warholm e o norte-americano Rai Benjamin, que largavam melhor.
“Essa primeira parte da prova está relacionada ao nível de força do atleta e isso você só vai ganhando com o tempo. O Alison ainda é jovem, então a gente trabalha isso de maneira gradativa. A gente sabe que esse (a primeira metade da prova) é o ponto forte do Warholm e do Benjamin, então a gente tinha que tentar empatar isso para ganhar na segunda. Então a gente melhorou os primeiros 200m dele para ele passar a primeira parte da prova junto dos dois. Deu certo”, esclareceu.
Como vantagem para Alison, o tamanho das suas pernas, 1,11m, o possibilitaatravessar a barreira com as duas pernas. Isso o diferencia justamente deWarholm eBenjamin, mais baixos na altura. “[…] Rai Benjamin tem a perna direita dominante e o Karsten a perna esquerda. Quando os dois têm uma necessidade de trocar a perna, eles acabam aumentando o número de passos. O Alison tem essa vantagem de dar um número menor de passadas, mantendo a mesma frequência”, disse Felipe. Alison retorna às competições no próximo dia 6 de agosto na etapa da Diamond League, na Polônia.