Renê Júnior construiu do zero a sua relação com o futebol duas vezes, algo que nem sempre acontece com os jogadores. A primeira foi ainda novo, ao ser pai pela primeira vez, e dedicar-se ao esporte porque seu talento precisava sustentar a estrutura da família. A segunda, já mais velho, foi após sofrer lesões sucessivas e, ainda assim, sentir que poderia fazer muito mais.
Aos 32 anos, ele reconhece que está longe de parar. São mais quatro ou cinco anos. A confiança voltou, o corpo não sente dores nem ameaça qualquer machucado, e ele conseguiu a sonhada sequência — o que mais desejava desde 2019 — com a Chapecoense, na reta final da Série A deste ano. O mercado está aberto e existem sondagens. “A notícia, quem sabe, já vem antes da virada do ano”, disse ele, em entrevista em exclusiva ao Bolavip Brasil.
“Eu queria me provar e provar às pessoas que eu aguentava jogar. No Corinthians, eu sempre tive o carinho da torcida, sou reconhecido como um jogador que passou por lá, e a única coisa que me entristeceu foi não ter sequência, não ter mostrado que estava bem. O clube me ajudou a curar, a passar por um momento difícil, e eu queria compensar isso com o meu futebol. Não pude, mas a Chape me deu essa oportunidade. Voltei a jogar uma Série A, mostrei que estou 100% e agora vou mais longe”, garantiu Renê.
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No começo da entrevista, o jogador parecia tímido. A volta ao futebol era um marco da sua vida, verdade, mas tudo se fazia possível por conta das pessoas que se mantiveram próximas dele desde o começo: a esposa, que o acompanha há 14 anos, as filhas de 13 e 7 anos, e os colegas que, ao vê-lo em campo, davam parabéns e o empolgavam a continuar.
“A cabeça do jogador geralmente muda com o tempo. Ali, eu precisei de muito suporte e ainda bem que recebi. Eu conheço meu corpo, sei dos cuidados que preciso, tenho profissionais me acompanhando sempre. Chego cedo e saio tarde dos treinos. É um esforço necessário para manter o alto nível e conseguir continuar competindo. E não é só físico, porque eu estudo o jogo, aprendo com os técnicos. A tática ganhou uma importância muito maior nos últimos anos do futebol brasileiro”, analisa.
Renê também tem forte ligação com o futebol nordestino. Foi no Bahia, em 2016 e 2017, que conquistou títulos importantes na carreira e ficou marcado na história. Trabalhara com Guto Ferreira, um dos técnicos que considera em ascensão, e conquistaram juntos uma Copa do Nordeste.
“O Bahia é o time que torço, que sempre acompanho. Estive no ano do acesso, participei de outro bom ano com a equipe, e continuo sendo parte dos fãs. É uma coisa inimaginável entrar ali em Pituaçu para jogar. O povo nordestino sabe fazer festa, sabe comemorar. Os times de lá precisam, inclusive, estar sempre nesse alto nível, na Série A. Uma pena que o Bahia tenha caído, mas sei que voltará forte.”
Renê se rende ao falar do Bahia. Segundo ele, a torcida do Bahia e a do Corinthians fazem as maiores festas no futebol brasileiro. Porém, também foi no Tricolor de Aço que o volante passou pelo pior momento da carreira. Era o último Ba-Vi do ano e imagens da tristeza de Renê ganharam o noticiário. Havia sofrido racismo.
“Nunca tinha vivido isso dessa forma. Estava num estado de maior população negra, sou negro, tenho família negra e sei a importância da cultura negra. Estamos longe de sair disso, sabe? Parece que as coisas vão piorando. E o racismo não é só apontado, porque tem muita coisa velada. Já me pararam porque me veem num carrão. O negro entra num shopping, as pessoas seguem. Vai numa loja, seguem também. E em muitos casos, o negro paga com a vida. Aí não dá nem para recorrer”, analisou.
“Eu sempre acompanhei a cultura negra por conta da música. Eu leio, vejo os pensadores, reclamo das situações. Nós temos atletas de todos os esportes se manifestando, mas o caminho ainda está longo para nos livrarmos disso. A mensagem que eu passo é para que as próximas gerações de negros não sofram isso, da forma que nós estamos sofrendo há tantos anos. É como diz o Djonga: ‘Fogo nos racistas’”, complementou.
Renê também viveu fora do país, na China, onde conquistou o campeonato nacional em duas oportunidades. Tinha dificuldades com o idioma, mas conseguiam ajudá-lo. Seu momento mais engraçado, porém, foi no Brasil, na sua negociação com o Santos, que contava com Neymar na época.
“Eu estava na Ponte Preta e nós pegamos eles no Moisés Lucarelli. O Neymar estava voando e eu tinha que marcar ele. Cheguei forte, a gente discutiu, teve de tudo. No intervalo, fui perguntado se eu queria ir para o Santos no próximo ano e aceitei. Daí, na temporada seguinte, entro no vestiário e dou de cara com André, Neymar, Arouca. O Neymar vira para mim e fala, rindo: ‘Agora que tá jogando comigo, quero ver você pegar os caras como fez comigo’. Quebrou o gelo na hora, virou amizade. Ele [Neymar] é um dos jogadores mais difíceis que já marquei, junto com o Ronaldinho e o Cazares, sem dúvida”, relembrou.