No dia 21 de março, Formiga, ex-atleta do São Paulo, revelou ao Uol os problemas internos que fizeram com que a jogadora desistisse da ideia de se aposentar dos gramados usando a camisa do clube que a revelou para o esporte mundial. Durante a entrevista, Formiga relatou a precariedade das condições de treino e recuperação para a equipe feminina do time. 

Getty Images. Formiga rebate afirmações do São Paulo
Getty Images. Formiga rebate afirmações do São Paulo

Depois de 30 anos longe do time do coração, a jogadora conta que encontrou as mesmas condições que vivia no Clube nos anos 1990, sem se adaptar à evolução do futebol feminino nesse período. Formiga conta que a academia tinha um horário estabelecido para ser usado pelas atletas, além de apenas um turno disponível para fisioterapia.

Formiga machucou as duas coxas em sua segunda passagem pelo São Paulo e precisou de fisioterapia intensiva para se recuperar. Por conta da limitação de horários, ela relata que buscou tratamento particular como alternativa para voltar mais rápido aos gramados. "Ouvi do supervisor [Kaio Pereira, que já não está mais no clube] que eu não deveria fazer fisioterapia fora do São Paulo, que não era certo. Mas se só me ofereciam um período, eu ia fazer o quê? Ficar em casa dormindo? Eu queria voltar a treinar logo", revelou ao Uol.

A ex-atleta da Seleção Brasileira revela que seus pedidos por melhorias para a equipe feminina eram recebidos com deboche por parte da supervisão. "Quando voltei ao São Paulo, foi algo absurdo. Um choque de realidade muito grande. Fiquei muito triste com o que vi. A gente juntava a galera para conversar e debochavam quando eu sugeria melhorias. A estrutura que dão até hoje para o futebol feminino não é boa. Não é bacana", complementa.

"Vi muitas meninas rompendo o ligamento do joelho por causa do gramado sintético. Não tem como você treinar a semana toda no sintético para chegar no fim de semana e jogar num campo. Tem uma diferença grande, e é o que acontece ali. No campo, você escorrega. É difícil de acostumar. E o clube não oferece sequer uma chuteira de society para elas treinarem. Eu sou cascuda, estou acostumada, então não me prejudicava. Mas eu via as meninas sofrendo. E não imaginava que ainda hoje tudo isso aconteceria. Estamos num momento em que não podemos dar passos para trás. Daqui para frente, tem que ser só melhoria", disse a jogadora.

Colega de seleção e atualmente no Santos, Cristiane usou suas redes sociais para salientar o relato de Formiga, revelando que, quando teve sua passagem pelo São Paulo, o cenário foi o mesmo apresentado pela veterana. Cristiane deixou o Tricolor em 2019 sob maus termos com a gestão da equipe. Confira o posicionamento da atacante abaixo.

Nesta quarta-feira (29), Formiga voltou a falar sobre a experiência que viveu em sua segunda passagem pelo Tricolor, e ainda ressaltou que a realidade não fica dentro apenas dos muros do clube paulista. "É a estrutura. É campo, academia, é você ter uma nutricionista, fisioterapia, não só um período. É poder escutar atleta para buscar melhorias, isso não acontece. Muitas vezes, nós levamos porta na cara. Não é só o São Paulo, outros clubes passam por essa situação. Então, não adianta um presidente ou um diretor querer, às vezes, ameaçar as atletas. Quando eu saí do PSG e voltei para o Brasil, eu achei que a situação poderia estar melhor. Na década de 90, a gente tinha mais coisas do que tem hoje dentro desse Cube. Para mim, é inadmissível você chegar em uma equipe de camisa e não ter uma academia decente para treinar", salientou Formiga.

 
Formiga também reforçou que não se arrepende te ter retornado ao São Paulo, mas que as falhas precisam ser corrigidas. " Eu não digo arrependimento, de verdade, até porque todos sabem que é o meu time do coração, mas chateada por não colocarem pessoas que são envolvidas realmente no futebol e não fora dele. Eu acho que você precisa ter entendimento do que é isso. Nós temos tantas ex-atletas capacitadas para assumirem esses cargos e infelizmente o clube não abre as portas. Quando abre e quando essas atletas tentam reivindicar algo, são mandadas embora. Eu acho que no mínimo tem que ter respeito, não só pela minha pessoa, mas também por tantas outras atletas que ali estão e sabem das dificuldades que existem'', disse. 
 
'' Eu achei até meio irônico em parte da nota que soltaram dizendo que tínhamos e temos até hoje o direito de frequentar a Barra Funda, o que é mentira. Temos que pensar na evolução do futebol feminino. Por mais que o clube tenha por obrigação, tem muitas meninas ali que estão em busca de um sonho. Então, nada melhor do que dar boas condições para que elas possam desenvolver um bom futebol", pontuou. 
 
A veterana ainda pediu que suas ex-colegas de equipe continuem pedindo por melhorias para o futebol feminino. '' O que eu posso dizer para essas meninas é que está na hora de começarmos a nos manifestar, porque duas pessoas não vão resolver tudo. É louvável elas deram as mãos e pedir essa evolução e essa melhora dentro do clube, porque se não estaremos dando passos para trás enquanto outros países evoluem. É preciso ter essa união das atletas para que falem e não se calem'', declarou.