“Pude ver os Jogos Olímpicos voarem das minhas mãos. Um período da minha vida, logo no início da pandemia — em que começaram a cancelar tudo e eu não tinha atingido pontuação ainda —, e no final deu tudo certo, então acho que foi uma superação muito grande. Uma Olimpíada de muita superação”, nas palavras da ciclista sorocabana Priscilla Andreia Stevaux Carnaval, que representa o Brasil, junto de Renato Rezende, na noite desta quarta-feira (28), nas quartas de final da corrida BMX nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Priscilla Stevaux Carnaval nos Jogos do Rio, em 2016. (Foto: Getty Images)
Priscilla Stevaux Carnaval nos Jogos do Rio, em 2016. (Foto: Getty Images)

Em entrevista exclusiva ao Bolavip Brasil, a atleta contou sobre os dias pré-competição olímpica, das dificuldades que enfrentou até conseguir, enfim, ser convocada para representar o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio. Afinal, devido à pandemia da Covid-19 o calendário de diversas modalidades foi prejudicado, com adiamentos de provas e campeonatos inteiros, além das restrições para treinamento dentro e fora do país, enquanto havia um impasse sobre o desenvolvimento de vacinas e consequente avanço no controle da pandemia mundo afora.

Priscilla Stevaux também contou ao Bolavip Brasil sobre seus sonhos e seus planos para a próxima edição dos Jogos Olímpicos — que será em Paris, em 2024. Leia a íntegra da entrevista à seguir:

Como tem sido esses dias pré-Jogos Olímpicos? Pode falar um pouco da sua expectativa?

Esses dias pré-Jogos Olímpicos têm sido, para mim, de muito entusiasmo, ainda mais porque nem estou acreditando que estou vivendo [isso] finalmente. A gente está conseguindo, mesmo com a pandemia, fazer esses Jogos Olímpicos. Estou podendo viver esse sonho, além do sonho que é poder participar das Olimpíadas, minha segunda edição, mas dessa vez fora do Brasil, e em meio a uma pandemia como esta, que tem sido muito, muito difícil, não só para participar dos campeonatos e fazer a pontuação necessária, mas também por muitas vezes ter tido dúvidas sobre o cancelamento (se iam cancelar, se não iam cancelar).

Pude ver os Jogos Olímpicos passarem pelas minhas mãos, voarem das minhas mãos. Um período da minha vida, logo no início da pandemia — em que começaram a cancelar tudo e eu não tinha atingido pontuação ainda —, e no final deu tudo certo, então eu acho que foi uma superação muito grande. Uma Olimpíada de muita superação — acho que essa é a palavra —, principalmente para o [atleta] brasileiro, pelo fato de que nós tivemos muitas dificuldades para nos preparar, para viajar, para classificar.

Foi tudo tão difícil nesta pandemia, tantas incertezas, e agora poder estar aqui, nos Jogos Olímpicos [de Tóquio], para mim tem sido sensacional, um sonho surreal — [e] mais uma vez! Estou feliz demais por poder estar representando o nosso país na modalidade do ciclismo BMX.

A pandemia impactou seu treinamento? Se sim, como e em que nível?

Com certeza impactou bastante, ainda que eu tenha sorte de ter como treinador o meu irmão — então pude manter o contato com meu técnico. Tenho uma academia pequena em casa, em que eu fui fazendo os treinamentos físicos, para evitar qualquer contágio com qualquer pessoa contaminada nesta pandemia, nesta fase tão difícil, e fomos adaptando muitas coisas, mas tivemos muitas pistas fechadas.

Fiquei mais de um mês sem poder treinar em pista, depois a gente acabou buscando oportunidades de viajar internacionalmente, para poder ter chances de treinamento, possibilidades melhores de preparação. E para isso, sempre, todas as vezes que saímos do Brasil, tinha que ficar 14 dias de quarentena, sem poder fazer nada específico. E logo em seguida já começaram as Copas do Mundo, as quatro únicas [competições] que pontuariam para os Jogos Olímpicos, e foi muito, muito difícil mesmo acompanhar o nível internacional nessas provas, então foi uma conquista muito grande poder atingir o índice e ainda finalizar a minha última prova, que valia ponto olímpico, com uma sexta colocação na final de Copa do Mundo foi muito positivo, mas com certeza acredito que para a gente foi muito, muito difícil, sim, a pandemia — e conseguimos superar, então é por isso que, para mim, esses Jogos Olímpicos significam muita superação.

A gente acabou não conseguindo participar de muitas competições, porque não tínhamos abertura do Brasil para os demais países, e aí [fomos] deixando de pontuar muitas vezes. Como eu disse, [fomos] deixando de conseguir nos preparar, porque não tinha pista para treinar, ainda que não fossem as melhores pistas (as mais ideais e técnicas como as de demais atletas que são as adversárias internacionais).

Até mesmo [para] as pistas mais simples nós não tínhamos muito acesso, porque acabou tendo tudo fechado por conta da pandemia, [e] no Brasil os casos começaram a piorar, e tudo isso foi gerando muito desespero, muita dúvida, muita insegurança. Mas, conseguimos dar a volta por cima.

Imagino que você tenha realizado muitos dos seus sonhos como atleta — já tão jovem —, mas pode falar um pouquinho sobre os principais? E poderia dar uma palhinha sobre suas inspirações no esporte?

Com certeza, tenho e tive muitos sonhos já realizados, e tenho muitos por realizar ainda. Eu sou uma menina muito sonhadora, e [é] até por isso que cheguei onde eu cheguei hoje, porque eu nunca me impus limites e sempre fui assim “eu quero? Eu quero, eu vou, eu consigo e posso” e fui à busca dos meus objetivos.

E bom, quando eu era criança, de início, meu sonho era poder ganhar uma competição seja lá qual fosse (Regional, Paulista). Depois, logo em seguida, foi participar de um campeonato mundial, e fui finalista — consegui ser finalista na categoria amadora. Depois, fui finalista de um campeonato mundial, já na categoria profissional-júnior. Isso foi a primeira abertura, a primeira coisa que me abriu os olhos para pensar em algo maior.

Um dos outros sonhos que tive foi entrar na Seleção brasileira, e hoje já sou atleta da Seleção brasileira há mais de 10 anos. [E] participar de uma Olimpíada, é claro, principalmente sendo no Rio de Janeiro, no Brasil, com o calor de toda a minha família… Bom, [e também] conquistar mais uma participação olímpica.

Ainda assim, tenho este grande sonho — é uma meta de vida para mim —, que é conquistar uma medalha para a minha modalidade (o ciclismo BMX), trazer para o Brasil essa medalha. [Também] poder estar motivando, incentivando os atletas de todas as idades ao BMX, [me] mover em prol do crescimento do esporte e incentivar também as meninas à prática esportiva, [de] esportes radicais principalmente, mas todas as atividades físicas, e acima de tudo motivar as pessoas a não desistirem dos seus sonhos, a irem atrás, acreditarem e irem até o final, com a garra do bom brasileiro.

Tenho ainda como objetivo participar dos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. Também vai ser mais uma busca pela medalha. Quero muito poder chegar ali, numa grande evolução, provavelmente no auge da minha carreira, nos próximos Jogos Olímpicos, e poder continuar motivando e incentivando todas as pessoas a realizarem seus sonhos.

Priscilla Stevaux Carnaval entra na pista de BMX nesta noite, a partir das 22h00 do fuso horário nacional para competir, na bateria 2, com Laura Smulders, dos Países Baixos; Axelle Etienne, da França; Felicia Stancil, dos Estados Unidos; e Natalia Suvorova, da Rússia.