Com o perdão do pleonasmo, vamos começar do começo. Vou repetir o que tenho dito sobre o Campeonato Gaúcho desde a parada. Há três meses, o Caxias devia ter sido declarado campeão. E essa realidade só pôde ser alterada por questões econômicas dos clubes do interior para pagar salário de pais de família. Sobre a perspectiva esportiva, essa volta não faz o menor sentido.
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Movimentamos toda uma logística para subir a Serra e disputar um jogo após os clubes sequer terem tido a condição de treinar, no dia que o RSregistrou quase 50 mortes pelo novoCoronavírus. O desejo desenfreado da volta do Gauchão me lembra o ensaio fotográfico da Nana Gouvêa em meio aos destroços do furacão Sandy, nos EUA, em 2012. Fazendo pose em meio ao caos.
Dito isso, precisamos tentar analisar tecnicamente – se for possível – um clássico com todos os elementos de tensão e acirramento que o circunda no alto do pico da curva de Covid-19 no Estado. E eu até acho que a força que o Inter fez para isso se realizar é porque, no fundo, achava que venceria, afinal, estava embalado e jogava um melhor futebol antes da parada. Seria franco favorito para o Gre-Nal do Beira-Rio na Libertadores. No entanto, o que se viu, não foi nem um rascunho daquele time.
Foto: Ricardo Duarte/Divulgação Inter
Essa suspeita de favoritismo no clássico fundamentava-se nesse bom futebol pré-parada. Mas, na prática, o que vimos foi o confronto de um time que joga junto há quatro anoscontra outro que joga junto há quatro meses. A lógica do futebol jamais estaria a nosso favor. Jogamosde forma burocrática, enfadonhae, absurdamente, mostrando clara faltade ritmo, com erros bobos de quem, evidentemente, estava parado há mais de 100 dias.
Porém, um campeonato que não devia se realizar, um jogo que não precisava acontecer, com jogadores desembocados, atuando em um gramado péssimo, não apaga problemas históricos que o Inter tem. E não é de hoje.
Enquanto o Grêmio perde um lateral e repõe com um da base, troca um volante medalhão por outro da base e escala quase a metade do time com jovens promessas (Guilherme Guedes, Matheus Henrique, Jean Pyerree Darlan – que entrou no intervalo), o Inter não tinha nenhum atleta da base entre os titulares. Entre os 16 que entraram em campo, apenas dois eram da base: Zé Gabriel e Praxedes.
Com um time sem ritmo de jogo, dois jogadores acima de 35 anos no ataque, Musto comprometendo novamente, não sendo expulso por detalhe e tendo que ser sacado no intervalo, repetimos alguns problemas do início da temporada. É o máximo que se pode extrair de um jogo que não devia acontecer. Mas já que aconteceu, que possamos absorver os erros e não repeti-los quando o jogo valer, mesmo, alguma coisa.