O São Paulo se tornou alvo de uma denúncia enviada ao Ministério Público de São Paulo por um autor anônimo que aponta possível gestão temerária na administração do clube. O documento cita quatro pontos principais: o déficit de 2024, supostas vendas abaixo do valor de mercado, a antiga proposta de parceria com a Galápagos Capital e um possível conflito de interesses envolvendo Julinho Casares. Embora o material tenha chegado ao MP, ainda não há investigação aberta, apenas um pedido de esclarecimentos ao clube.

Foto: Erico Leonan/São Paulo FC
Foto: Erico Leonan/São Paulo FC

Em entrevista, o advogado do São Paulo, Guilherme Salutti, explicou o estágio do processo. “O Ministério Público recebeu esse material e falou o seguinte: ‘eu não vi provas aqui, e está tudo muito genérico’. Então, antes de iniciar um inquérito, ele quer ouvir o São Paulo e aí decide se vale a pena ou não dar início”, afirmou. Segundo ele, a resposta já foi enviada e agora o clube aguarda manifestação do órgão.

Guilherme também deixou claro que o cenário é preliminar. “Não tem investigação ainda. Aqui a gente está numa fase muito preliminar, diferente do caso do Corinthians, que já tem inquérito aberto”, ressaltou o advogado. Para ele, o conteúdo da denúncia não apresenta os elementos mínimos que sustentariam a abertura de uma investigação formal.

Defesa técnica: déficit, vendas e projeto de Cotia

Ao detalhar cada ponto, o advogado explicou o entendimento jurídico do clube sobre as acusações. Ele iniciou pelo conceito legal: “Gestão temerária é utilizar o clube com a deliberada intenção de causar prejuízo. Tem que ter dolo. Ou seja, a intenção tem que ser causar o mal.” Sobre o déficit de 2024, Guilherme reforçou que a denúncia não apresenta fatos, nem autores, nem condutas específicas. “Ele simplesmente falou: ‘dirigentes do São Paulo causaram déficit’. Assim não tem como avançar”, afirmou.

No tema das vendas abaixo do valor de mercado, o São Paulo apresentou comparações com negociações recentes de outros clubes. “O jogador vale o que o mercado paga e o clube aceita. Pegamos atletas parecidos de Flamengo, Palmeiras, Inter e Fluminense, e mostramos que o valor é condizente”, explicou. Segundo ele, os negócios envolvendo Lucas Ferreira, Matheus Alves e Henrique do Carmo seguiram padrões nacionais.

Luciano no São Paulo. Foto: Jota Erre/AGIF

Sobre o projeto de Cotia, Guilherme explicou que a denúncia partiu de uma premissa errada. “O argumento era de que o projeto envolvia compartilhamento de direitos econômicos, o que a Fifa proíbe. Mas o objeto não era esse”, disse. A ideia consistia em um novo CNPJ para gerir a base com modelo de investimento em lucros. Ainda assim, o projeto foi suspenso pela diretoria. “Isso estaria na geladeira de qualquer forma, muito menos agora em ano eleitoral”, completou.

Conflito de interesses e possível motivação política

O advogado também rebateu a acusação envolvendo Julinho Casares. “Lá atrás, quando o Julinho estava na faculdade, ele e dois amigos pensaram num negócio de produtos para pets. Isso nunca operou”, explicou. Um dos amigos, Aref Abdel Latif, tornou-se empresário de atletas e possui jogadores na base tricolor. “Todos os treinadores disseram que os meninos performam e passaram na peneira. O Julinho nunca interferiu”, disse Guilherme.

Questionado sobre motivação política, ele foi direto. “Exatamente pela falta de técnica gritante nessa notícia de fato, a gente tem convicção de que ou é um torcedor querendo encher o saco, ou é oposição começando a velha prática de expor dirigentes na véspera do ciclo eleitoral”, afirmou.

Por fim, Guilherme explicou que o Ministério Público não tem prazo definido para responder, mas deve se posicionar nas próximas semanas. “A gente vai ter acesso à decisão, seja para arquivar, seja para abrir inquérito”, concluiu. O São Paulo, em nota oficial, garantiu que segue à disposição do órgão para qualquer esclarecimento adicional.