Cenas de um filme já visto em recentes ocasiões. Foi assim que o torcedor do Palmeiras viu seu reencontro com o time, na última quarta-feira (22), em Derby realizado em Itaquera. Ou melhor, para ficar na referência cinematográfica, o clássico foi como a película “Feitiço do Tempo”, em que o personagem de Bill Murray acorda sempre no mesmo dia, para viver as mesmas situações e fatos.
O que se viu foi o mesmo jogo das últimas edições: um Palmeiras com mais posse de bola, mais troca de passes, ofensividade desenhada, Cássio realizando defesas importantes, mas objetividade e precisão nas finalizações ao gol “que é bom”, nada.
Desde o princípio, o rival se apresentou acuado, esperando o jogo e, é claro, pronto para aproveitar uma parca oportunidade. E foi o que aconteceu, parecia um retrato de todos aqueles jogos em que Fábio Carille estava no outro banco. Como em outros derbys recentes, após 14 minutos de um Palmeiras mais insinuante, que inclusive já havia sapecado a trave adversária com Willian, o time da casa cobra escanteio e confere em uma desatenção geral da zaga. Todos assistiram ao zagueiro alvinegro subir e marcar de cabeça. Zé Rafael escolheu assistir de costas a subida de Gil, no mínimo pitoresco.
Aliás, Zé Rafael não era o meia que a torcida esperava ver no duelo. A semana que antecedeu o jogo foi repleta de especulações e projeções para a vaga que ocupou. Falou-se em um Lucas Lima inspirado, em Raphael Veiga atuando ofensivamente e até em uma possível redenção de Scarpa, mas eis que Luxa resolve iniciar a partida com uma escolha que visivelmente não se encaixou.
Há de se levar em consideração que o time voltava de um recesso de 100 dias. Portanto, em busca de um acerto coletivo, viu-se Willian em ação por ambos os setores de ataque, Bruno Henrique lento e Zé Rafael não conseguindo dar a liga desejada por Luxa, o que sem dúvida deixou Luiz Adriano um tanto isolado no ataque, sem posicionamento adequado e bolas bem servidas para concluir.
No segundo tempo, as alterações corresponderam ao que o torcedor esperava para o início da partida: Lucas Lima para desempenhar a função de prover o ataque, algo que Zé Rafael não havia conseguido, mas muito na conta do Profexô, que o colocou aberto pela ponta direita. Palmeirenses mais atentos já sabem que o camisa 8 não rende pelas beiradas. Sem tanta velocidade, funciona mais como homem de surpresa na entrada da área, mais centralizado, algo que o Bigode parecia mais fazer – numa tentativa de cópia de Dudu como “falso 10”, talvez.
A entrada de Gabriel Menino, outro bem aguardado entre os titulares, também ajudou a melhorar o ímpeto alviverde. Embora Mayke tenha desempenhado um bom papel defensivo, Menino, cravado na maioria das escalações sugeridas durante a semana, era a aposta de um Palmeiras com mais opções de ofensividade.
Em princípio, as mudanças prometiam na etapa final, já que se viu um Palmeiras mais conclusivo, com boas chances com Raphael Veiga, que deveria substituir Zé Rafael, já que Lucas Lima mais uma vez ficou abaixo do esperado. Houve melhora na objetividade e Willian só não tratou de empatar as ações porque Cássio, mais uma vez, estava inspirado num jogo decisivo. Algo que faltou a Weverton. Não considero “frango” no gol do rival e ele tem crédito de sobra por atuações seguras ao longo dessas duas temporadas, mas, ainda com o desvio em Felipe Melo, tinha condições de agarrar a pelota. Falha indiscutível de nosso camisa 1.
Após um carrossel de chances perdidas, consagrando ainda mais o goleiro de Itaquera, o Palmeiras perdeu um pouco do ímpeto e a bola tornou a chegar quadrada na frente, pois as apostas com os meias naufragavam ao ver chuveirinhos inócuos de Felipe Melo para frente. Um time que conta com 4 meias não pode contar com as clássicas rifadas de bola, ainda mais com um atacante extremamente confuso como Rony. O excesso de individualismo do atacante o fez parecer confuso, tanto que foi substituído por Wesley. Nem o Profexô suportou a falta de pegada coletiva do camisa 11.
Mas nem tudo foi péssimo na partida. É possível lançar um olhar de interessante percepção de melhorias a este Palmeiras que retornou. Patrick de Paula fez atuação sólida no meio de campo, com vigor físico na cobertura e boas iniciativas de organização para distribuir as jogadas, a bola em determinado momento necessitava passar pelo seu pé para a construção.
Ao final do jogo, Luxemburgo lamentou a derrota, mas se disse otimista com evoluções observadas ao longo dos 90 minutos. Gostou da entrada de Diogo Barbosa, que atuou com discrição, mas cumpriu seu papel ao substituir Viña, que até então fazia uma boa partida até se machucar.
Luxa também sentiu a falta de Gabriel Veron. Deixou claro que conta com a velocidade da joia alviverde. É bom mesmo que tenha planos para um jogador que exala futuro promissor, pois que Veron traga ao time a força ofensiva necessária para quebrar a impressão de apatia e improdutividade que o time passa ao não conseguir concluir jogadas. Para completar, mandou trazer de volta Iván Angulo do Cruzeiro, que sequer estreou pelo time mineiro. Será que agora terá, enfim, uma chance? Com Rony “amassando” a bola e Wesley pouco produtivo nos minutos finais, o colombiano pode aproveitar. Basta dar chance ao menino.
O derby foi um evidente domínio de jogo do Palmeiras, com números bem díspares quando comparados ao mandante de Itaquera. O volume de jogo apresentado, embora não tenha resultado em vitória, produziu a sensação de que o Palestra jogou contra ninguém, perdeu para um time neutralizado pela própria inexpressividade e inoperância, representado por um goleiro.
Mas não basta apenas ter o domínio da posse de bola. O gol não é só um detalhe, como diz o dito popular em frase deturpada de Carlos Alberto Parreira em um longínquo passado. Um longo caminho de lapidação e aprimoramentos urge no Palmeiras. A base promete pelo currículo, o plantel se percebe como um dos melhores do país, mas haja alquimia e estratégias de Vanderlei para quebrar feitiços que prendem o time na dificuldade de concluir para o gol.