O futebol é uma grande paixão no mundo inteiro e inspira milhões de pessoas. Alguns são pelo ídolo que se torna uma referência, pelo amor ao time, pelo sonho de meninos e meninas que planejam um dia calçar a chuteira e vestir a camisa de um grande clube. Mas existem aquelas histórias que realmente tocam o coração e faz valer a conhecida frase do “não é apenas futebol”, fatos e pessoas que se destacam por algo mais além do que o talento com a bola.
E o esporte mais uma vez trouxe ao público um destes momentos de emoção e lançou holofotes para uma linda história de superação que serve como motivação para a vida. Isto foi o que aconteceu no último domingo na final da Supertaça de Espanha, quando aos 85 minutos de jogo, entrou no gramado a volante do Atlético de Madrid, Virginia Torrecilla, fazendo com que todos os presentes ficassem de pé, diga-se de passagem, até mesmo os rivais, para aplaudir a alteração processada pelos Rojiblancos.
O momento poderia ter sido encarado com naturalidade já que modificações são comuns durante a partida, mas aquele não era um momento qualquer, Virginia Torrecilla estava pisando no gramado não apenas para reforçar a sua equipe, mas para dar mais um passo de uma longa batalha pela vida. A jogadora estava retornando a uma competição mais de 600 dias depois de ser operada para tratar um tumor no cérebro.
Virginia Torrecilla tem 27 anos e nasceu em Cala Millor , Ilhas Baleares , Espanha. Aos 11 anos iniciou sua carreira no futebol no Serverense, e aos poucos foi progredindo dentro do clube. Aos 15 anos ingressou no time principal da UD Collerense, tornando-se uma das jogadoras mais jovens a estrear na Superliga Feminina. Após duas temporadas a jogadora foi transferida para o Sporting Atlético Ciutat de Palma, onde permaneceu por uma temporada antes de partir para o Barcelona, e em sua primeira temporada com a equipe conquistou a dobradinha do campeonato e da copa .
Depois de três temporadas no Barcelona, ela foi para o Montpellier HSC. Em julho de 2019, Torrecilla retornou à Primera División, assinando um contrato de dois anos com o atual campeão Atlético Madrid. Antes disso, em junho de 2013, ela fez a sua estreia com a equipe principal da seleção feminina de futebol da Espanha. Apesar de toda a sua trajetória de sucesso no futebol, Virginia faria seu nome ganhar destaque após uma batalha pessoal.
Em 21 de maio de 2020, Torrecilla anunciou que havia sido diagnosticada com um tumor cerebral. A jogadora passou por uma cirurgia bem-sucedida em 18 de maio. Ela também foi submetida à radioterapia e quimioterapia, perdeu seus cabelos durante o processo e também precisou se afastar daquilo mais amava fazer: jogar futebol. Em entrevista ao “EL País”, em abril de 2021, ela afirmou que a quimioterapia a deixava “muito cansada”. A jogadora, que pesava 63kg, passou a registrar na balança 48kg, apesar disso, a jogadora sempre buscou demonstrar otimismo.
Em dezembro do ano passado ela realizou vários exames que garantiam que ela estava livre da doença. Vale destacar que, durante todo o período que esteve longe, Virginia Torrecilla recebeu apoio de suas colegas de equipe e da seleção. Torrecilla vinha treinando há vários meses e aguardava o regresso, que acabou acontecendo no último domingo (23). Ao entrar no gramado a volante recebeu a braçadeira de capitã e foi ovacionada pelos 1123 espectadores que estavam nas arquibancadas. Um momento que ficará marcado no imaginário não apenas da jogadora, mas de todos que participaram desta história de superação. “Fiquei emocionada só de pensar no que aconteceu. Estou muito feliz, muito mesmo. Este é um prémio para mim, independentemente do resultado do jogo. Voltar depois de tanto tempo é uma vitória muito importante”, disse, horas mais tarde, Virginia Torrecilla, que ganhou o apelido de Heroína do Balneario.
Já o técnico do Barcelona, teve um duplo motivo para comemoração, já que a sua equipe venceu a decisão pela Supertaça, por um placar de 7×0 e viu uma ex-atleta do clube viver um momento tão emocionante. “É uma alegria tremenda, é um exemplo de superação de tudo o que aconteceu. Voltar aos relvados numa final de Supertaça é um reconhecimento e tudo que se faz a respeito é pouco. Estava perto quando ocorreu a entrada em campo e isso deixou-me muito feliz. Espero que seja o início de uma nova etapa para ela”, afirmou.