Lenda do futebol cobra responsabilidade com o legado

A ex-jogadora Formiga, ícone do futebol feminino, demonstrou preocupação com o que chamou de “oba-oba” em torno da Copa do Mundo Feminina de 2027, que será realizada no Brasil. Em fala contundente durante o lançamento da The Women’s Cup Brasil, ela alertou para o risco de falta de continuidade no desenvolvimento da modalidade após o evento. “Eu tenho preocupação desse oba-oba de sempre, e com o pós, o que será”, declarou. O Brasil foi anunciado como sede em maio de 2024.

Formiga, ex-atacante da Seleção Brasileira. Foto: Sam Robles/CBF
Formiga, ex-atacante da Seleção Brasileira. Foto: Sam Robles/CBF

Com sete Copas e sete Olimpíadas no currículo, Formiga tem autoridade para falar sobre o tema. A atleta relembrou o impacto das medalhas de prata conquistadas nas Olimpíadas e no Mundial, que geraram esperança de transformação estrutural no esporte. “A gente veio com a esperança que tudo poderia mudar no Brasil. E o futebol feminino desapareceu”, relembrou. Para ela, o país já perdeu oportunidades no passado e corre risco de repetir o erro.

A ex-volante cobrou mais comprometimento de clubes e federações, com iniciativas concretas que ultrapassem o período do torneio. “Será que os clubes vão, realmente, depois do Mundial aqui, abrir um departamento de futebol feminino?”, questionou. Ela também pontuou que a mobilização não pode ser passageira, sob pena de o futebol feminino voltar ao esquecimento. A fala foi recebida com atenção em um ambiente que ainda busca maior profissionalização e apoio.

Formiga durante entrevista. Foto: Ana Cristina Schwambach/CNN

Desigualdade de acesso preocupa ex-jogadora

Formiga destacou ainda a dificuldade que ex-atletas enfrentam para seguir carreira no esporte após a aposentadoria. “Será que nós, ex-atletas, vamos ter a chance de ter um curso grátis? Porque todos sabem que ex-atletas não têm dinheiro pra pagar um curso pra se tornar uma treinadora”, lamentou. Ela criticou a falta de apoio institucional para formação de mulheres em cargos técnicos e de gestão, e cobrou ações da CBF nesse sentido.

A Copa do Mundo Feminina será realizada entre 24 de junho e 25 de julho de 2027, com a participação de 32 seleções. Será a primeira edição do torneio sediada na América do Sul desde sua criação, em 1991. A conquista da sede foi anunciada em 2024, gerando grande expectativa no país. O desafio, agora, é transformar o entusiasmo em legado concreto para jogadoras, treinadoras e profissionais do futebol feminino.

O lançamento da The Women’s Cup Brasil, em abril, foi um dos primeiros grandes eventos ligados à preparação para a Copa. Formiga participou como convidada especial e reforçou que a visibilidade do Mundial deve ser usada com inteligência. “De que forma vamos dar continuidade no trabalho do futebol feminino?”, questionou. A fala da ex-jogadora reforça um debate que precisa estar no centro das ações até 2027 e, principalmente, depois.

Construção do legado exige compromisso coletivo

As declarações de Formiga reacendem discussões sobre políticas públicas, investimentos sustentáveis e inclusão no esporte. Sem ações concretas, há o risco de que a Copa seja apenas um espetáculo pontual, sem impacto duradouro. A preocupação da lenda brasileira é também um chamado à responsabilidade coletiva: da CBF aos clubes, das federações às instituições formadoras. O legado da Copa de 2027 só será real se o futuro for planejado com seriedade desde agora.