Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1993, um domingo nada calmo nos arredores do Maracanã. O torcedor de futebol no país que escolheu amar o esporte inventado pela elite inglesa não estava muito contente. A Seleção de Carlos Alberto Parreira corria o risco de ficar de fora pela primeira vez de uma Copa do Mundo. O torneio mais importante do planeta, como era considerado na época, sempre havia tido a Amarelinha como competidora. Muita coisa mudou e quem diz isso são as ruas.

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Vezes como postulante ao título, vezes sem tanta organização, a Canarinho sempre tratava com imenso respeito o Mundial da FIFA. Pobre coitada seleçãozinha, não poderia imaginar o drama que viria em 20 anos. Com um público pagante de 101.670 pessoas no Maracanã – cento e um mil, seiscentos e setenta, isso mesmo – o Brasil bateu o Uruguai por 2 a 0, com dois gols de Romário, um deles inesquecível, e se garantiu na Copa de 1994. Essa edição vocês já sabem, o Baixinho brocou e trouxe o Tetra dos EUA. Mas e depois? O que virou a Copa?
Fábula de um futebol globalizado
Seria inocente dizer que ali, de repente, o futebol migrou para a era moderna como conhecemos hoje. Zico não viveu em 1986 o que Pelé sofreu em 1958, muito menos viu Neymar em 2022 o que enxergou Ronaldo em 2002. Mas é certo afirmar que, aos poucos, o antigo esporte que servia como entretenimento das massas foi se caracterizando como produto midiático de um novo mundo. Mundo esse que é frequentemente vendido como conectado, globalizado, mas que pouco entende de união. Mais sedes não quer dizer maior conexão entre países.

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Os 101.670 que torceram para Romário driblar o goleiro Siboldi em 1993, teriam que se dividir ao menos em dois jogos para ver Neymar no “mesmo” Maracanã atualmente. Mesmo entre as aspas para minimizar o enorme paradoxo implementado pelo Padrão FIFA, que sob a rasa justificativa de segurança preferiu diminuir a capacidade dos estádios, mas sem justificativa plausível nenhuma acabou com a arquitetura antiga ao mirar à nova Arena Mário Filho, onde não é possível mais chamá-los mais de estádio. Em um projeto que esvazia o social e preenche bolsos de cifras, chegou a vez de acabar com a Copa do Mundo.
Copa do Mundo 2030 com 6 sedes
Que fique registrado, pois nesta quarta-feira (4), o presidente da FIFA, o senhor Gianni Infantino, apresentou um modelo para a Copa do Mundo de 2030 com seis sedes, espalhadas em três continentes, mas com pouquíssimo sentimento. Quer dizer, pouco sentimento de apaixonados pelo futebol, acostumados a verem o Mundial em sede única, mas possivelmente com grande sentimento dos engravatados, que operam o jogo em salas climatizadas. É realmente bonito pensar em um torneio que une nações, mas não apenas de forma fantasiosa.
Espanha, Portugal, Marrocos, Uruguai, Argentina e Paraguai vão sediar ao menos um jogo no Mundial 2030, em um modelo jamais visto, jamais sentido, e que talvez nunca tenha sentimento de fato. Isso tudo poderia passar batido, se a Copa do Mundo não fosse uma das poucas tradições que resistisse dentro do futebol moderno como o assistido hoje. Apesar dos pesares, o torneio ainda surgia como a oportunidade de países como África do Sul, México, Japão e outros mostrarem suas culturas tradicionais.
A FIFA é um sucesso, o futebol nem tanto
O torneio da FIFA ainda deve continuar sendo organizado por muitos anos. A entidade máxima do futebol registrou receitas na casa dos 7,6 bilhões de dólares, algo como R$ 39,5 bilhões na cotação atual. O produto midiático também é um sucesso, com a final de 2022 entre França e Argentina sendo assistida por 1,5 bilhão de pessoas. Já dentro das novas arenas, os rostos mudaram, a classe social de quem assiste o esporte também. Mas hoje, a Copa do Mundo como a rua se acostumou, pode ter chegado ao fim após mais um duro golpe.

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