Após uma longa investigação, liderada pelo professor canadense Richard McLaren, famoso por ter revelado o esquema de doping no esporte russo, concluiu que houve manipulação de resultados em lutas de boxe nas Olimpíadas do Rio, em 2016, e também nos Jogos de Londres, em 2012. O canadense e sua equipe falam de cerca de 10 lutas com resultados combinados previamente, veja mais detalhes a seguir.

(Foto: Getty Images)
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    Conforme o relatório de 149 páginas apresentado por McLaren, cerca de 11 embates foram manipulados só nos Jogos do Rio, em 2016, e o esquema contou com a ajuda do ex-presidente da AIBA (Associação Internacional de Boxe, na tradução da sigla), juízes e árbitros.

     

     

     

     

     

     

    Entenda como funcionava o esquema de corrupção 

     

     

    Conforme McLaren, existia o que ele classificou de "cultura de medo, intimidação e obediência" no sistema de arbitragem das lutas de boxe. E para que as manipulações de resultados funcionassem, a AIBA formava árbitros e juízes apenas para distorcer os resultados reais das lutas, de modo que eram selecionados informalmente nas seletivas olímpicas.

     

     

     

     

    “Essa estrutura informal permitia cumplicidade e anuência dos árbitros e juízes, que eram designados para garantir resultados previamente acordados em combates específicos”, contou McLaren, que fez também relatórios relevantes sobre o doping na Rússia, numa apresentação que deu também nesta quinta (30), em Lausanne, na Suíça.

     

     

     

     

     

    Quanto a quem encabeçou o esquema especificamente, McLaren não precisou um personagem, mas afirmou que tanto os juízes quanto os árbitros eram informados sobre quem tinha de vencer determinado embate horas antes das lutas.

     

     

     

     

     

    Dentre as principais polêmicas da edição Rio 2016 está o duelo que se deu entre 
    irlandês Michael Conlan e o russo Vladimir Nikitin, nas quartas de final do peso-galo (até 56 kg). Conlan dominou a luta, mas a arbitragem deu vitória ao russo. O estranho disso tudo é que o vencedor posteriormente não conseguiu voltar ao ringue nas semifinais, por conta dos ferimentos causados por Conlan. O irlandês ainda chegou a acusar os dirigentes da AIBA de trapaceiros.

     

     

     

     

     

     

    O esquema de corrupção nos Jogos de Londres

     

     

    A investigação do professor canadense também mostrou o envolvimento de um ex-presidente da AIBA no esquema de manipulação de resultados. No caso, C.K. Wu teria participado desse sistema tanto antes quanto depois dos Jogos de Londres 2012. 

     

     

     

     

    O dirigente teria orientado um diretor executivo da entidade a assegurar que lutadores turcos integrassem o megaevento esportivo, sob a justificativa de que o país dos lutadores já havia organizado um pré-olímpico que custara bastante. Ainda segundo McLaren, Wu também teria determinado que atletas do Azerbaijão não conseguissem medalhas de ouro no boxe em 2012. 

     

     

    A nobre arte pode ser banida dos Jogos Olímpicos

     

     

    Não só pelo que McLaren e sua equipe trazem à tona agora, anos após as duas edições dos Jogos Olímpicos, mas pelo histórico da AIBA, dos escândalos envolvendo seus dirigentes, o boxe pode ser banido dos Jogos Olímpicos.

     

     

     

     

    Desde o ano passado a federação que comanda a nobre arte está suspensa pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), devido ao envolvimento em crimes de corrupção. Wu C. K. e seu sucessor, Gafur Rakhimov, que presidiram a AIBA, nas temporadas 2017 e 2019, foram obrigados a renunciar à cadeira de dirigente, devido à pressão gerada pelas investigações do COI. Também houve suspeita de envolvimento da AIBA com tráfico de heroína durante a gestão de Gafur.

     

     

    Essa investigação, no caso, integra o plano de recuperação da imagem da AIBA, sob a tutela do atual presidente, Umar Kremlev. Em 2017, a AIBA chegou a expulsar os “árbitros mais famosos”, digamos assim, de seu quadro, sob a alegação de concentração de poder de decisão e influência indesejável. 

     

     

     

     

    Porém, a AIBA ainda pontuou que eles não interfiriram em resultados. Neste ano, após mais denúncias de corrupção e irregularidades financeiras, a AIBA perdeu o direito de organizar o esporte na edição Tóquio 2020 dos Jogos Olímpicos.

     

     

    Com a acusação do professor canadense, o esporte pode deixar de integrar a cartela de modalidades dos Jogos Olímpicos, dado o histórico crítico da principal federação a organizá-lo.