O futebol brasileiro vive grandes desafios, é tanto que alguns clubes tem buscado a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), como alternativa para se desafogar das dividas, se manter nas competições em alto nivel e permanecer “em pé” de igualdade com outras equipes, que possuem um poder financeiro maior. Mas se no futebol masculino isso já é uma realidade, no feminino os abismos são ainda mais visíveis.
- Palmeiras empata com o Cruzeiro em 1 a 1 e é campeão brasileiro
- Em despedida de Fábio Santos, Inter bate Corinthians por 2 a 1
Existe um esforço dos clubes em manter as equipes masculinas em alto padrão de investimento, porém, alguns clubes encaram o futebol feminino como uma despesa extra. A pouca visibilidade, os anos de preconceito e a proibição fizeram com que a modalidade esportiva precisasse passar por um longo processo de evolução e conquistas.
Voltando nossos olhos para o futebol no Rio de Janeiro podemos ver dois clubes vivendo situações completamente opostas. De um lado, o Flamengo que vem mostrando que irá adotar uma postura mais agressiva no mercado da bola feminino e investir pesado na contratação de jogadoras. A começar pelo anúncio da meia Duda, que jogou pela seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e agora faz parte da equipe Rubro-Negra.
Foto: Divulgação/Flamengo | Flamengo anunciou a contratação de Duda, meia da seleção brasileira nos Jogos de Tóquio
Além de Duda, o clube também investiu para garantir a contratação de Cris, Gisseli e Leidiane. E assim como fez no masculino ao recorrer a um treinador português, o comandante da equipe feminina em 2022 será Luis Andrade, português que treinava o Benfica. A conduta pela equipe no passado foi através da parceria do clube com a Marinha, que tornava o órgão o responsável também por revelar jogadoras para o time. Atualmente o papel do órgão está praticamente restrita em ceder o uso da sua estrutura. O CT da Marinha é avaliado pelo clube como um dos três melhores da modalidade no país e um dos destaques é a sua localização privilegiada.
“O futebol feminino pode e deve ser utilizado para expandir a marca dos clubes. É importante que os clubes entendam a importância de ter um departamento de futebol feminino forte. A ideia de o Flamengo fazer um departamento de futebol feminino próprio demonstra que a modalidade vem ganhando importância dentro dos times brasileiros, na esfera administrativa e com a torcida”, analisou Higor Maffei Bellini, advogado especialista em direito esportivo, com forte presença no futebol feminino, ao UOL.
Foto: Matheus Lima/Vasco | Jogadoras do Vasco vivem um drama, mas clube espera resolver em breve a situação
Do outro lado, vemos a caótica situação enfrentada pelo Vasco, em que as atletas vêm enfrentado três meses de salários atrasados, corte na alimentação e falta de uniformes, mas estes não são os únicos problemas. Na verdade existe uma série de denúncias contra o departamento, que vem afetando a montagem do elenco para esta temporada. Jogadoras destaques da equipe como Bebel, Anny e Dani Barão deixaram o clube.
O Vasco inclusive emitiu uma nota na qual se posicionou depois das denúncias sobre a atual situação do futebol feminino do time. Afirmando que a direção do Alvinegro busca soluções para regularizar a situação o mais rápido possível e ainda tenta fazer com que a categoria se torne autossuficiente financeiramente. “O clube informa que tem trabalhado incansavelmente em busca de uma solução para regularizar a situação o mais rápido possível. O Vasco informa ainda que na apresentação das jogadoras ainda em janeiro, já estarão encaminhadas soluções para os problemas relacionados à alimentação e aos uniformes das equipes femininas de treino e jogo. Importante também ressaltar que em 2021 o clube batalhou junto à prefeitura de Caxias para que as meninas voltassem a treinar na Vila Olímpica, além de receberem suplementação. A partir de agora vão contar também com nutricionista exclusivo para a modalidade e coach esportivo. O Departamento de Futebol Feminino informa, ainda, que várias iniciativas de curto prazo estão em curso para garantir que a modalidade se torne não apenas autossuficiente financeiramente, mas que possa aumentar seus investimentos através de projeto incentivados, plano de marketing específicos para patrocinadores exclusivos e produtos licenciados.”
Foto: Matheus Lima/Vasco | | A expectativa do clube é que a modalidade seja autossuficiente
Outro clube que enfrenta uma situação complicada é o Bahia que, após ser rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro, decidiu suspender as atividades do futebol feminino até o mês de abril. A decisão foi comunicada às jogadoras por meio do vice-presidente do clube, Vitor Ferraz, no CT Evaristo de Macedo. Na ocasião o clube emitiu uma nota oficial comunicando o encerramento e justifica a decisão “em razão da ausência de competições até maio de 2022, somada à queda de receitas na ordem de 50% do orçamento tricolor para 2022”. Recentemente, várias atletas deixaram o Bahia, inclusive artilheira Gadu, e a lateral-direita Nine, que chegou a ser convocada para seleção de base, fez os seus agradecimentos e se despediu das Mulheres de Aço.
Flamengo e Corinthians acabaram se tornando exemplo de alto investimento na modalidade, e podem colher bons frutos, já que existe um esforço da FIFA em proporcionar um calendário mais agitado para o futebol feminino e a própria CONMEBOL decidiu ampliar a premiação entregue na competição continental para mulheres. Por outro lado, a evolução e os resultados para as atletas de equipes como Bahia e Vasco vão demandar tempo, esforço e investimento para alcançar um nível elevado de competitividade nos torneios.