O Botafogo está prestes a viver uma das maiores mudanças da história do clube. O Alvinegro Carioca está bem próximo de ser tonar uma Sociedade Anônima do Futebol- SAF, o que significaria que o Glorioso seria vendido para uma empresa, ou investidor, e passaria então a ter um “dono”, condição que pode gerar tanto benefícios, como criar situações problemáticas para o clube, não é à toa a situação divide opiniões.

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF | O torcedor botafoguense vive a esperança de a SAF traga dias ainda melhores para o Glorioso
Foto: Thiago Ribeiro/AGIF | O torcedor botafoguense vive a esperança de a SAF traga dias ainda melhores para o Glorioso

Um dos pontos negativos apresentados para quem defende que o clube não se torne uma SAF é justamente o fato de que o time passaria a ter um dono. Essa, inclusive, foi a opinião da jornalista Milly Lacombe, no “UOL News Esporte”. A jornalista é completamente contrária a privatização dos clubes. “ Vai ter gente comemorando a privatização do seu time, pelo amor de Deus, a gente precisa do caminho oposto, socializar os times, dar o poder a quem ama o time não a quem quer ganhar dinheiro com o time, time não é para dar lucro, time não é uma planilha de custo-benefício, futebol é socialização, é paixão, é circulação de afetos, é um circuito enorme de afetos e a gente está matando isso”, afirmou a jornalista.

De acordo com uma matéria publicada pelo O Globo, um dos grandes riscos do SAF é que o interesse do dono esteja acima ao da torcida. “Há um risco de um novo acionista mudar o modelo de negócios, investindo muito menos do que se esperava, deixando de ser uma equipe competitiva para ser um formador e negociador de direitos de atletas”, alertou César Grafietti, consultor do Itaú BBA ao “O Globo”.

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF | O Botafogo poderá investir na contratação jogadores e ter uma equipe mais competitiva

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF | O Botafogo poderá investir na contratação jogadores e ter uma equipe mais competitiva

Porém, o SAF tem como um dos grandes benefícios a profissionalização da gestão da empresa e do futebol. “Quem de fato demonstrou ter entendido o que a Lei da SAF se propõe foi o time do Botafogo, ao apresentar ao mercado um modelo viável para fins de captação de recursos, demonstrando verdadeiro pioneirismo no futebol. A lei representa uma nova possibilidade para que os clubes possam ter acesso a inúmeros benefícios, um deles é não ver seus aportes financeiros a mercê de gestores incapazes de demonstrar qualquer resultado satisfatório. Quando falamos em SAF significa mercado profissional, onde tudo acontece distante do costumeiro amadorismo do modelo associativo e da retórica que o clube é do torcedor que nada contribui financeiramente”, afirma Bruno Coaracy, advogado especialista em direito tributário e colunista do Lei em Campo, ao UOL .

Na contra mão de quem enxerga o SAF como um negócio viável, que pode contribuir financeiramente com o Botafogo, alguns ao tomarem conhecimento de que o clube estava muito próximo de concretizar a venda da SAF do clube para o fundo americano Eagle Holding, liderado pelo empresário John Textor, por R$ 400 milhões, não se mostraram satisfeitos com o negócio, como foi o caso de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara e torcedor do Alvinegro. “Entregaram o Botafogo de graça. Usaram a operação do Cruzeiro para fingir que há um bom negócio pro Botafogo. Engano forte. Vender o clube para um comprador em dólar ou euro é fácil. Uma promoção do Black Friday”, escreveu Rodrigo Maia em sua conta no Twitter.

Apesar da crítica feita por Rodrigo Maia, esta pode ser a oportunidade de ouro do Botafogo equilibrar as suas dívidas. César Grafietti, em sua entrevista ao “O Globo”, pontuou a dificuldade enfrentada por alguns clubes e que os investidores da SAF podem ser a única oportunidade para obtenção de dinheiro novo. “Para muitos clubes, pagar a dívida e ao mesmo tempo aumentar o investimento no futebol e aumentar a receita já ficou muito difícil. Organicamente, o futebol brasileiro está perto do teto. É muito difícil conseguir isso sem um investidor externo. Os investidores são o dinheiro novo no mercado, a única opção, que possa estabilizar financeiramente os clubes”, explicou.

Eduardo Carlezzo, especialista em direito desportivo, também se manifestou ao “O Globo”, apontando outro ponto positivo da SAF, que é a reestruturação das dívidas do clube. “A sociedade anônima de futebol nasce zerada de dívidas, porém você precisa resolver a questão do passivo do clube associativo. Isso acontece mediante o envio de 20% das receitas da SAF para o plano de pagamento dos credores. Além disso, a lei trouxe um regime tributário diferenciado, vantajoso para as SAF’s. Você paga 5% do faturamento nos primeiros cinco anos sem incidência sobre a venda de direitos de jogadores. Depois disso, esse número cai para 4%, com a incidência sobre transferências” explicou Eduardo Carlezzo.

Mas vale lembrar que nem tudo são flores e que a preocupação de alguns com o negócio não é à toa. Uma dos maiores problemas que a SAF pode trazer é que, como qualquer outra empresa, existe a possibilidade da declaração de falência, caso os resultados financeiros da empresa sejam desfavoráveis. “Sem dúvida, esse é o principal ônus da sociedade anônima. Os clubes estão protegidos. Já a SAF pode falir”, reconheceu Guilherme Caprara, ao O Globo.

Até o momento só existe um contrato não-vinculante entre Botafogo e Eagle Holdings, mas alguns detalhes ainda não foram definidos e isso ainda gera muitas dúvidas e incertezas. O fato é que o clube vai seguir a tendência de grandes equipes brasileiras que também enfrentam problemas com endividamento, necessitando ter investimento e gestão ideal para continuar crescendo e se tornando ainda mais competitivo, mesmo diante dos risco que essa nova estrutura possa oferecer.