“É o Rodrigo Mussi!”, disse uma companheira de viagem. A expectativa de esbarrar alguma celebridade existedesde quando você põe os pés emInterlagos para um dos dias de Fórmula 1. Atônito, olho em direção a ele, que devolve o olhar, ciente que estávamos falando dele. Ele nos ultrapassa e vira à direita entrando nos boxes do circuito paulistano.
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Eu, a minha companheira, o Rodrigo, e toda a multidão ao nosso redor realizava o mesmo percurso. A rara chance de estar próximo dos carros, dos mecânicos e, quem sabe, ver algum piloto adistância, criou um trafégo carnavalesco. “Já pensou se Hamilton está ali, de bobeira?”. Na prática, um Mick Schumacher já seria mais do que o suficiente. Não veio nem um, nem outro, nem piloto algum que pudesse dar um aceno qualquer de longe.
Mecânicos a todo vapor na Haas. Foto: João Almeida
Isso não era somente uma ilusão de fãs que se aglomeravam em busca de uma foto. Um aficcionado por Sebastian Vettel estava em lágrimas próximo ao boxda Aston Martin. Trajado com a camisa da Alemanha, a mesma do 7 a 1, com o número 11 de Klose às costas, ele provavelmente receberaa notícia de que o tetracampeão não estaria ali. O alemão faz a sua temporada de despedida, o que criou uma sensaçãode Last Dance por onde passa.
A McLaren serve de fiel da balança para quem visita os boxes de um Grande Prêmio. Antes dela, existe a curiosidade pelas equipes menores, o bico desmontado, os pneus guardados em uma estante, os mecânicos trabalhando sob os olhos de todos. Depois dela, existe a concorrência pesada para andar alguns metros e se aproximar das poderosasMercedes, Red Bull eFerrari. Um clique ali é uma conquista.
O disputado box da Mercedes. Foto: João Almeida
Ao pisar à frente da Ferrari, veio o aviso de alguém correndo com um colete branco: “Vamos saindo”. Poxa, ainda faltava a Red Bull e Mercedes, cadê o oi do Hamilton, um tchauzinho do Verstappen. A mutidão se dispersa, mas descubro que o carro do holandês passa poruma verdadeira revisão, com um mecânico correndo com pneus. O box da Mercedes, bem, acabei impedido por um cinturão humano de descobrir direito o que se passava. Virou uma correria desenfreada pelos últimos cliques antes de ser engolido.
Noto um mecânico da McLaren solitário comendo uma marmita em um canto fitando o público. Pouco adiante, outros mecânicos, desta vez da AlphaTauri, saíram dos boxem conjunto e esboçavam sorrisos, como se quisessem aparecer ao fundo das selfies. Cena repetida na Alfa Romeo.
Reta principal de Interlagos. Foto: João Almeida
Todos, de alguma forma, pareciam entender o quanto a gente queria sentir um pouquinho daquele universo. Que parece não apenas distante, mas também mágico. Não é à toa que a Fórmula 1 era, no passado, chamada de circo. Pelo aspecto viajante, de logística, de estar pronta para ir da Ásia a América. Há outro componente: o de nos fazer sonhar.
O sonho quase virou pesadelo quando um fiscal me flagrou tirando fotos da reta principal colado ao muro, local onde ninguém poderia estar. A reta é linda, diga-se. O que não é bonito em Interlagos? Deutempo para acelerar rumo ao S do Senna enquanto os pingos permitiram. O celular nem mais permitia clicar coisa alguma. Não precisava. Fórmula 1 em Interlagos é um patrimônio que mais se sente do que se registra. E isso a gente leva conosco.