Já são 12 anos desde a chegada de Andrés D’Alessandro ao Inter. O ponto de interrogação era do tamanho do seu potencial. Surgiu como um meteoro na Argentina. Ídolo do River muito jovem, venda milionária para a Europa, retorno inesperado ao futebol argentino e negociação para um clube brasileiro. Tudo isso com 28 anos.
D’Alessandro chegou e vestiu a 15 (a 10, à época, era de Alex). E com poucos meses de Inter, tornou-se protagonista na conquista da Sul-Americana. No ano seguinte, desempenho exuberante e um vice da Copa do Brasil, com uma expulsão polêmica na final, seguida de um segundo semestre oscilante, especialmente fora das quatro linhas.
Por mais que apresentasse um grande futebol, D’Ale ainda carregava o fardo de um jogador envolto a polêmicas, com a cabeça tão esquentada quanto o certeiro pé canhoto. E então, na Libertadores 2010, surge ainda mais consistente. Líder de um time campeão. Em 2012 assumiu a braçadeira do time e, a partir daí, colecionou recordes.
O gringo disputou 484 jogos com a camisa colorada, marcou 94 gols e deu 111 assistências. Ou seja, esteve envolvido diretamente em 205 gols enquanto esteve em campo. Números absurdos de um ídolo monstruoso. Já é o jogador colorado com o maior número de jogos na Libertadores da América. E, também, o jogador argentino que mais participou da Copa, com 86 jogos.
Faço referência a esses dados assombrosos apenas para dar uma noção do tamanho da afirmação que faço no título dessa coluna. Se o jogador D’Alessandro é tão grandioso, o cidadão D’Alessandro é ainda maior. Um craque inquieto que conseguiu centrar suas energias em fazer o bem. O Lance de Craque, evento criado por ele, já levou mais de 110 mil pessoas ao Beira-Rio, arrecadando cerca de R$ 3 milhões de reais que beneficiaram mais de 30 instituições de caridade.
E, enquanto muitos jogadores descansavam e aguardavam inertes o fim do isolamento social provocado pela Covid-19, um D’Ale inquieto e solidário arregaçou as mangas e foi para a linha de frente. Ao lado de outros jogadores e amigos, distribuiu refeições para moradores de rua, entregou toneladas de alimentos para entidades beneficentes, fez live solidáriae contribuiu com diversas outras ações sociais, ajudando, ao seu modo, a abrandar o impacto social de um isolamento necessário.
Infelizmente o tempo é soberano e o ídolo encaminha-se para o fim de uma grande trajetória nas quatro linhas. Sentiremos falta do La Boba, dos gols de perna canhota, das assistências, de incendiar um jogo morno, de ser quase um de nós em campo, porém, teremos a honra de seguir acompanhando o cidadão D’Alessandro, que se incomoda com as injustiças sociais e usa do seu carisma e apelo para fazer a diferença e marcar golaços na vida de quem mais precisa. Na minha casa é proibido falar mal de Andrés D’Alessandro.