O goleiro imortal

Na história centenária do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, poucos nomes se destacam com tanto respeito e admiração quanto o de Eurico Lara, o goleiro que defendeu a camisa azul, preta e branca por 15 anos, até os seus últimos dias de vida.

Eurico Lara, ídolo do Grêmio do século XX.
© Foto: Arquivo/Museu Hermínio Bittencourt, do GrêmioEurico Lara, ídolo do Grêmio do século XX.

Nascido em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, em 1897, ele chegou ao Tricolor em 1920, vindo do Exército, e desde então construiu uma trajetória lendária de dedicação, conquistas e amor ao clube. Sua estreia aconteceu em 15 de junho daquele ano, com uma vitória por 3 a 0 sobre o Juventude.

Lara disputou pelo menos 217 partidas, com um impressionante retrospecto: 157 vitórias, 31 empates e apenas 27 derrotas, segundo registros do GrêmioPedia. Além de ser um dos pilares do time dentro de campo, o goleiro também atuou como árbitro em algumas oportunidades, demonstrando seu amplo conhecimento no esporte.

Títulos e protagonismo em campo

Lara foi peça-chave no período e conquistou 16 taças pelo Grêmio, sendo cinco campeonatos estaduais e 11 Campeonatos Citadinos, torneio municipal disputado entre clubes de Porto Alegre entre 1910 e 1960. Sua entrega em campo era admirada por gremistas e rivais, fazendo dele um dos atletas mais respeitados do futebol gaúcho, inclusive com passagens pela seleção do estado.

Entre seus feitos, destaca-se também sua presença como goleiro na histórica primeira vitória de um clube gaúcho sobre um time paulista, quando o Grêmio venceu o Santos por 3 a 2, em 1935.

Time do Grêmio que fez história em 1935, vencendo o Santos e conquistando a primeira vitória gaúcha sobre um paulista.

Seu último jogo foi emblemático: o Gre-Nal Farroupilha, disputado em 22 de setembro de 1935, em celebração ao centenário da Revolução Farroupilha. Mesmo debilitado pela tuberculose e com sérios problemas cardíacos, Lara decidiu entrar em campo como titular. O Grêmio venceu por 2 a 1, e o goleiro deixou o jogo no intervalo, exausto pela doença. A cena marcou o fim de uma era.

Imortalizado no hino e no coração tricolor

Eurico Lara faleceu em 6 de novembro de 1935, no Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre. Sua morte comoveu toda a cidade, inclusive os colorados, e deu origem à lenda de que ele teria morrido em campo após defender heroicamente um pênalti durante seu último Gre-Nal.

O reconhecimento a Eurico Lara vai muito além do simbolismo. O goleiro representa a mística gremista, a ideia de imortalidade e de que a paixão pelo clube supera os limites do corpo. Não à toa, é o único jogador homenageado na letra do hino de um clube da elite do futebol brasileiro.

“Lara, o Craque Imortal
Soube o seu nome elevar
Hoje, com o mesmo ideal
Nós saberemos te honrar”