Dia de celebrar um gigante, 106 anos de Palmeiras. O maior campeão do Brasil, consagrado assim por ter mais títulos nacionais em sua galeria, tem fortes pilares que sustentam sua história. De Academia do futebol, com craques Divinos de trajetórias lendárias, cada geração de Palestrinos dá continuidade a um pedaço da construção de um legado que sempre primou pela valorização de sua identidade, assim como sempre seguiu sua jornada em busca da integração de sua comunidade com a sociedade.
Contudo, não é sem motivo de essência que em seu nome sempre carregou a intitulação de Sociedade Esportiva Palmeiras, desde seu nascimento como Società Sportiva Palestra Itália. O significado da palavra sociedade implica em ajuda mútua, um estado gregário que envolve pessoas imbuídas de um mesmo objetivo, dispostas a compartilhar anseios e culturas.
No contexto de um Brasil que via o povo imigrado da Itália construindo o país em diversas frentes e segmentos, a fundação do então Palestra Itália em 26 de agosto de 2014 acolheu o ideário de uma comunidade que envolvia proletários e patrões, todos os segmentos de descendentes italianos que aliado ao ímpeto de afirmar seu DNA identitário, tinha como propósito integrar sua cultura ao cotidiano dos brasileiros.
E assim se fez popular, capaz de aglutinar aqueles que viam no clube inspiração de alegrias e glórias. Ponto de orgulho à quem ajudava na construção de um país, bem como, buscava respeito a tudo que constituía seu pertencimento de formação como indivíduo. O imigrante italiano que vemos radicado no Brasil nos dias de hoje nada tem a ver com os de 1914, se hoje enxergamos certa sofisticação pelas características que cercam o mundo contemporâneo da “Bota”, naquela época eram estigmatizados por uma elite paulista “quatrocentona” que marginalizava o que não era de sua tradição aristocrática.
Nasceu Palestra Itália e se fez Palmeiras para cumprir determinações legais resultantes da participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial. Fundamentado em preconceitos e em um nacionalismo autoritário, punia os descendentes italianos no país perseguindo elementos de sua cultura. Na crucial Arrancada Heróica de 1942, segurando a bandeira brasileira, a equipe do novo Palmeiras subiu ao gramado do Pacaembu para enfrentar o São Paulo em partida épica vencida por 3 x 1. Porém, a transição destacou ainda mais a grandeza de um clube que se reinventou sem perder a ligação com suas origens.
Tal partida, que teve o componente de bastidor com o rival exigindo a mudança de nome do clube e abandonando o jogo aos 19 minutos do segundo tempo de maneira desleal, se imortalizou a frase “transformando a lealdade em padrão” presente em no belo hino entoado com orgulho.
Na frase genial do saudoso jornalista Joelmir Beting que diz “Explicar a emoção de ser palmeirense, a um palmeirense, é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense… É simplesmente impossível!”está contida toda a resiliência, resistência e glórias que o Palmeiras evoca.
Dramas e tristezas também marcam a existência, mas facilmente suplantados pelas conquistas cravadas por nomes imortais lembrados eternamente pela força demonstrada ao honrar um passado forjado nas mais esmeradas passagens. Heitor Marcelino, Romeu Pelicciari, Oberdan Cattani, Waldemar Fiúme, Ademir da Guia, Julinho Botelho, Evair, Marcos, Alex, César Sampaio, Dudu, integrantes de uma lista infindável de craques iluminados, ícones de que simbolizam em perfeição toda imponência colossal de uma instituição.
– Arte: Gonzalo Rodriguez
No caminhar de sua existência grandiosa, tornou-se o Campeão do Século XX do futebol brasileiro, por conquistar 39 títulos de expressão e vencer todas as competições que participou, feito notável, vivenciado em uma era ao qual se pode contar inclusive com 17 anos de jejum, quebrados em um apaixonante 12 de junho, vitória sobre o maior rival gravada na memória como uma aula de raça futebolística, verdadeiro massacre de bola.
Mas de suas glórias a mais emblemática é o primeiro mundial de clubes de 1951. Polemizado ou ignorado por má fé de quem tem dificuldades em entender o passado como fator propulsor e semeador do que se vivencia no presente e futuro, o título conquistado em um Maracanã Verde e Branco personifica a grandeza de um clube que conquistou um título que jogava luz em um país marcado pelas trevas da derrota da Copa de 1950. No entanto, em 1965, embora de maneira simbólica, o destino colocou o Palmeiras frente a frente com elementos do Maracanaço de 1950.
Na véspera da partida final do Mundial de Clubes de 1951 contra a Juventus de Turim, a diretoria do Palmeiras pediu permissão para que o Palmeiras atuasse com o uniforme da seleção brasileira. O sentimento de coletividade, como uma missão nacional permitia ao Palmeiras a vontade de representar o ressurgimento de uma nação para o futebol. Porém, por se tratar de uma competição oficial, supervisionada pela Fifa, o clube não obteve a autorização. Para a tal partida, a solução adotada que levasse o país junto a campo foi bordar uma bandeira do Brasil no uniforme esmeraldino.
Como aquelas ironias perfeitas que o destino promove na rede de fatos tramados pela história, passados 14 anos do título, em 7 de setembro de 1965 o Palmeiras teve a chance de concretizar o ideal de representar o país.
Do camisa 1 ao camisa 11, mais banco de reservas, o Palestra inteiro vestiu o manto da seleção brasileira para enfrentar a mesma Celeste Olímpicaque 15 anos antes havia derrotado o Brasil no Maracanã e reduzido a autoestima nacional a cinzas. Aliás das cinzas que o Palmeiras fez ressurgir e aflorar com a conquista do mundial sobre a Juventus.
Aí te pergunto… qual time tem isso em sua jornada?