Na partida inaugural da jornada palestrina no Brasileirão 2020, em um Maracanã vazio pela pandemia que o Brasil insiste em voar no escuro, o Palmeiras abriao placar contra o Fluminense aos 15 minutos do primeiro tempo em perfeito arremate de Luiz Adriano. Parecia que o Alviverde, enfim, encontrava o caminho do ouro. Zaga (Vitor Hugo) desarma, o meia pega a bola (Zé Rafael) e interliga o matador (LA).
O gol ainda despertou um Palmeiras até então sonolento. Justo, ressaca de título paulista. Bem postado e com boa marcação, o time, até os 37min do primeiro tempo, esperava o Tricolor Cariocaem seu campo para, com a posse de bola, criar seu jogo.Até bem pouco antes do gol de empate, o Fluminense tinha o dobro de posseque o Palmeiras, com apenas 2 chutes sem perigo algum para o gol de Jailson.
Ao tomar um gol em uma sucessão de vacilos, que inclui até lateral-esquerdo fazendo sabe-se lá o que no setor direito, o Palmeiras voltou ao roteiro conhecidoque, inclusive,já está fazendo da coluna um mantra redundante: falta de objetividade, armação sem efetividade, Rony desaparecido do jogo e o cara de plantão com a função de criar absolutamente inepto. No Maraca, quem saiu jogando com essa missão foi Raphael Veiga.
Tentativas e esforço são característicasque definem o quarteto que passa por essa posição. Lucas Lima, Gustavo Scarpa, Raphael Veiga e Williansãotestados e nenhum, de fato, se destaca. Acabam criando um carrossel disfuncional. Independe de quem esteja escalado, não há entrega de qualidade da última bola, aquela que alimenta atacantes.
Falta fundamento e a angústia reside justamente no progredir desse aprimoramento, já que parece patinar esse avanço. Otempo voae Luxemburgo sabe que afalta de qualidade fez o Palmeiras perder dois pontos preciosos no Maracanã. Da turma de meias, apenas Zé Rafael se encaixa, afinal, tem mantido a força nos desarmes e no propósito concedido a ele por Luxa se apresenta para auxiliar a criação. Auxilio que padece de um parceiro que, de fato,assuma a responsabilidade principal de armar.
A ineficiência dos meias faz com que se busque alternativas em Ramires, volante com características de boa marcação mas que é utilizado nessa ligação por sua velocidade que o habilita a atacar. Definitivamente não é o ideal. Outra alternativa muito recorrida são as bolas longas de Felipe Melo, que fizeram falta contra o Fluminense. Patrick de Paula também é fundamental para as armações em meioàescassez do pessoal da frente. Aliás, ter iniciado o jogo com Bruno Henrique contra o Flu foi a prova de que o banco é o lugar ideal ao camisa 19.
Não dá para Veiga, por exemplo, reclamar da falta de oportunidade. Pelo plantel farto de opções que o Palmeiras reserva, admito que é desleal a concorrência em um setor que tem, pelo menos, 3 ou até 4 alternativas. Num mundo ideal, seria cômodo dizer que Raphael precisaria ter sequência para, aí sim, analisarmos se merece ou não ser “sacado” do time. Mas, no Verdão atual, isso não cabe. Se não mostrar o mínimo de eficiência em 45 minutos, vai sair.
Veiga até tentou passes no primeiro tempo a Luiz Adriano. Tentou. Errou, mas tentou. O problema é que a falta de sintonia- às vezes beira o abismo de não saber que camisa está defendendo – irrita demais a torcida. Mesmo panorama ou até pior de Scarpa. O camisa 14 entra tão desligado nos jogos – com a feição de quem acaba de acordar – que tropeçar na bola ouperdê-la com tamanha facilidadefaz o palmeirense lavar as mãos. Lucas Lima só não teve o mesmo caminho, porque enfiou uma bola açucarada a Luiz Adriano no finzinho que poderia lhe valer a vaga de titular para o próximo jogo. Pena que o camisa 10 chutou para fora, mas talvez justo para o que LL nãoapresenta com consistência.
Se todos os envolvidosdesse meia nada criativo – pelo menos, por enquanto -alcançarem a melhora no tal fundamento de passe, na qualidade da última bola, não haverá carência de um nome, o tão falado camisa 10 de ofício, até porque isso parece raro no futebol brasileiro de hoje. Em campeonato (pandêmico) com peculiares necessidades, depender de um jogador é a certeza de fracasso, porém, a falta de sintonia e o excesso de “grossura” das peças de meio de campo preocupa o palmeirense.
No sábado (15), o compromisso é o Goiás, no Allianz Parque. Luxemburgo, pós-jogo no Maracanã, deu uma cutucada na turma da meiuca que precisa municiar Luiz Adriano no ataque. Qual será a próxima aposta nesse miolo? Será que o jovem Alanzinho não pode ganhar uma chance, assim como todos os outros têm recebido? Se a resposta for não, eu iria de Lucas Lima. Lapsos por lapsos, o último passe para LA contra o Fluminense o fez passar à frente – pelo menos, por um pouquinho – dos concorrentes.