O Palmeiras retoma sua jornada na Libertadores 2020 fazendo história em La Paz. Ao vencer o Bolivar por 2×1 na noite de quarta-feira (16), o Palestra quebrou um tabu de 37 anos sem vitória de brasileiros na altitude boliviana e ainda entra para o restrito grupo de apenas 2 clubes que conseguiram vencer na capital da Bolívia um time que, além do futebol, conta com a altitude, trunfo poderoso da natureza.

Inteligencia e garra na vitória de La Paz
Inteligencia e garra na vitória de La Paz

Não é fácil vencer no topo de La Paz, memoráveis partidas de futebol guardam em seus registros como o ar rarefeito da cidade foi determinante no resultado. Para conseguir o feito atlético digno de destaque o Palmeiras atuou de maneira inteligente, com a nítida estratégia de encurtar espaços entre seus jogadores. Movimentos precisos, garra e brilho individual foram fatores construtivos do feito que também garantiu ao Verdão os 100% de aproveitamento na competição continental.

A percepção dos movimentos precisos ficou por conta de que, bem posicionado, o Palestra acionava algumas peças para fazer funções ofensivas e de cobertura, desta maneira, Matias Vinã, Gabriel Menino, Zé Rafael e Rony, desempenharam a função de correr para um time que tinha como prioridade se resguardar e poupar fôlego para se segurar nas parcas pressões do time do Bolivar, que apresentava toda ferrugem de uma equipe que estava quase 6 meses parada. Se o problema do Palestra era manter o fôlego e a disciplina tática pra não padecer pela altitude, o problema do Bolivar era a bola.

Marcos Rocha celebra o primeiro gol com Willian. Protagonistas do lance. (Foto: César Greco/Ag. Palmeiras)

Da garra que resultou a tomada de bola de Marcos Rocha ainda no campo de defesa, para de maneira precisa lançar Rony, saiu o pênalti que abriu o placar. Willian Bigode, que teve atuação discreta, se mostrou decisivo ao cobrar o pênalti de maneira perfeita. Rony não desencantou para o encontro com o gol, mas a partida o destaca positivamente após críticas que já o transformavam em uma caricatura, caldo para memes ou manifestações furiosas nas redes.

Em La Paz, como quem nasce para jogar a 3640 metros acima do nível do mar, o camisa 11 foi efetivo. Deu passes importantes, foi referência de ataque para a estratégia de bolas longas, inverteu jogadas com lançamentos, enfim, um futebol aguardado desde sua contratação, Rony ainda surpreenderia ao receber o prêmio de melhor em campo. Com um sistema defensivo bem postado ainda foi possível ver Zé Rafael armar jogadas e dar condição para que Raphael Veiga arriscasse chutes de fora da área.

Nascido para Altitude: Rony enfim agrada e recebe troféu da Conmebol de melhor do jogo. Fundamental na partida de La Paz (Foto: César Greco/Ag. Palmeiras)

O brilho individual de maior intensidade ficou por conta de Gabriel Menino. Partida impecável da cria da Academia, importante no apoio ao ataque e muito presente no sistema defensivo, fez uma partida em que complementou a eficiência de Marcos Rocha, os dois pelo setor direito criaram uma conexão segura que preservasse a compactação do time. Gabriel Menino engavetou um golaço justamente realizando o que era a estratégia principal de um time que sabia das dificuldades em chegar ao gol tocando a bola ou em penetrações em velocidade, um petardo de fora da área que se cristaliza como o primeiro gol do habilidoso Menino no profissional com a camisa esmeraldina.

Após o segundo gol, ciente das dificuldades impostas pelo cansaço aparente nas constantes colunas prostradas e mãos nos joelhos, o Palmeiras se fechou. Em muitos momentos, o Palmeiras inteiro estava dentro de sua área para os intermináveis cruzamentos do Bolivar. O time da casa realizou 41 cruzamentos no segundo tempo, mesmo com as boas e seguras atuações de Gustavo Gomez (ganhou todos os duelos em que se envolveu) e deLuan, o Bolivar diminuiu o placar com gol deRiquelme.

Gustavo Gomez o verdeadeiro El Paredon Palestrino. Perfeito no combate, jogador com mais rebatidas na partida (11), não fez uma falta, não levou drible

Em 187 jogos, esta foi a 101ª vitória do Palmeiras na Libertadores da América, a segunda vitória em La Paz na história do clube, a primeira ocorreu em 1974. Repleta de marcos e dados interessantes, o jogo de La Paz mostra que há uma construção em curso e produtiva no Palmeiras, pois apresentou um Alviverde capaz de fazer variações ou estratégias singulares em busca de um resultado. Com a sequencia encavalada de jogos e os imprevisíveis problemas que um elenco enfrenta em sua caminhada, é possível notar como o time se adapta positivamente às constantes alterações de escalações.

Com planejamento eficiente da comissão técnica foi possível dar esse passo importante em terreno hostil por conta da altitude, houve preparo específico, o que faz da vitória uma construção ainda mais coletiva. No passo a passo, o trabalho vai tomando forma e além de uma identidade, o time de Vanderlei Luxemburgo vai adquirindo confiança. Embora com uma série de coisas a serem corrigidas e aprimoradas, não é de se ignorar uma retomada que está há 15 jogos sem perder e há 11 jogos marcando gol.