Em 2012, o São Paulo enfrentava o Tigre pela grande final da Copa Sul-Americana. Na época à frente do Tricolor Paulista, Ney Franco vivenciou a briga daquela noite de perto - confusão que interrompeu a partida ainda no primeiro tempo e deu o título ao São Paulo, que vencia os argentinos por 2 a 0 até o intervalo. O treinador relembrou os acontecimentos que testemunhou naquela noite, no Morumbi, como um segurança do Clube com o braço quebrado após ser atingido por membros da delegação adversária.

Piervi Fonseca/AGIF. Ney Franco relembra decisão polêmica contra Tigre pela Sul-Americana de 2012
Piervi Fonseca/AGIF. Ney Franco relembra decisão polêmica contra Tigre pela Sul-Americana de 2012

Na época os vestiários do São Paulo tinham armários de pau, e eles [jogadores do Tigre] arrancaram algumas ripas de pau, teve uma batalha dentro dos corredores, espaço pequeno. Me lembro bem que no nosso vestiário tinha uma porta que dava para o corredor, eles tentaram até uma invasão ao nosso vestiário”, relembrou Ney Franco em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

A gente percebia muita gritaria, muita confusão. Teve um momento que a porta se abriu e passou um segurança com o braço quebrado, se eu não me engano, com fratura exposta. Isso marcou bastante os atletas. A gente fez um intervalo diferente, um pouco longo, e retornamos para o campo sem muitas informações”, completou.

Apesar de alguns membros da equipe argentina terem Lucas Moura como alvo em campo - o atacante chegou a ser ferido no nariz, pelo lateral-esquerdo Orbán, e deixou os gramados sangrando e com um algodão no local do ferimento - a motivação para a briga generalizada foi, de acordo com o ex-comandante, a proibição de aquecer no gramado do Morumbi antes da partida começar.

A gente teve uma confusão antes do jogo, na época por alguma decisão da diretoria. Não foi a comissão técnica que proibiu o Tigre de fazer o aquecimento no gramado. A gente nem sabia que isso tinha acontecido. Já teve um desgaste antes dos atletas com a segurança do São Paulo. Não sei quem teve essa decisão de não deixá-los aquecer dentro do campo. A equipe do Tigre já entrou com esse lado mental mudado, isso era nítido no primeiro tempo”, comentou Ney Franco.

Lucas Moura confrontou o responsável pelo ferimento, o que foi apenas o estopim para a briga generalizada que aconteceu depois. “Na minha opinião, era para ter jogadores do Tigre expulsos no primeiro tempo. Eles tentaram parar o São Paulo e não conseguiram, foi 2 a 0 no primeiro tempo, e no segundo tempo poderíamos fazer 3 ou 4 a 0. Eles tentaram fazer um jogo violento, o Orbán, lateral-esquerdo, dá uma pancada no Lucas, que foi o que originou tudo. O nariz do Lucas sangrou. Ao término do primeiro tempo, ele tira o algodão do nariz e mostra para o Orbán. Ali já chegaram outros jogadores do Tigre e geraram uma confusão”, disse o ex-técnico do São Paulo.

O Tigre já havia dado uma prévia da postura violenta que adotaria no jogo de ida da decisão, em La Bombonera, quando abusou da força física e provocações, que levaram à expulsão de Luís Fabiano. “Interessante que no primeiro tempo, lá na Bombonera, já foi um jogo catimbado, com o Luis Fabiano expulso. Confronto de uma equipe muito técnica contra uma equipe que veio para a final tentando parar o adversário na pancadaria, em muitos momentos sendo desleal”, prosseguiu.

Apesar da confusão, os jogadores do São Paulo voltaram para o segundo tempo no Morumbi, até que foram informados de que os adversários não voltariam para o segundo tempo. “A gente não sabia a gravidade do que tinha acontecido, a gente viu um segurança com braço quebrado, mas em momento nenhum passava pela nossa cabeça que o adversário não voltaria pro campo. Aí chegou um momento que o Tigre definiu que não voltaria para o jogo. E toda a direção da Conmebol desceu ao gramado, foi montado o palco e fizemos a nossa comemoração do título. O ideal é que não fosse dessa forma, que tivesse o segundo tempo, a gente estava numa noite muito inspirada, a equipe estava jogando muito bem. A festa talvez seria maior, até com mais gols, essa era a nossa expectativa para o segundo tempo”, concluiu Ney Franco.

Quase 11 anos após o episódio lamentável, São Paulo e Tigre se enfrentam mais uma vez, agora pela estreia da Copa Sul-Americana. O jogo de ida da fase de grupos acontece nesta quinta-feira (6), às 21h, no Estadio José Dellagiovanna, em Buenos Aires. Desta vez, Rogério Ceni comanda a equipe como treinador, e não como capitão e goleiro, como na grande final.