Os bastidores em ebulição no morumbi
O São Paulo atravessa um momento raro de tensão política interna, e o epicentro da crise é o presidente Julio Casares. A perda da condição simbólica de clube brasileiro mais vencedor da Libertadores agravou um cenário já delicado. O desgaste vinha se acumulando nas últimas semanas. Agora, veio à tona de forma evidente.

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A temporada expôs falhas estruturais profundas. Crise no departamento médico, atrasos no pagamento de direitos de imagem e resultados esportivos ruins pressionam a gestão. O ambiente interno passou de desconfortável para instável. A sensação é de início de fim de ciclo.
Casares vive o pico de pressão desde que assumiu, em 2021. Até aliados históricos reconhecem o enfraquecimento do presidente. A blindagem política que sustentou a gestão começa a apresentar fissuras claras.
A articulação para evitar isolamento
Antes mesmo da goleada por 6 a 0 sofrida diante do Fluminense, Casares já sentia o peso da instabilidade. O presidente iniciou uma série de conversas com figuras experientes do clube. A palavra de ordem passou a ser “união”. O objetivo era conter a erosão interna.
Entre os nomes procurados estão dirigentes históricos e líderes políticos do clube. O discurso foi direto: crise se enfrenta com coesão. Mesmo assim, dentro da própria base de apoio, o termo “isolado” passou a circular com frequência. Casares nega o rótulo. Ele cita reuniões recentes com os seis grupos que compõem sua coalizão. Oficialmente, o acordo político segue válido, mas, na prática, desgastes já são evidentes.
A semana seguinte destravou a crise de vez. Após a goleada no Maracanã, o então diretor de futebol Carlos Belmonte deixou o cargo, junto com seus adjuntos. A saída atingiu diretamente a base política do presidente. Não foi apenas técnica, foi política. Belmonte representava um dos grupos centrais da coalizão. Outro grupo também foi impactado com a saída de dirigentes ligados à articulação interna. O equilíbrio construído ao longo de anos começou a ruir.

SP – SAO PAULO – 19/07/2025 – BRASILEIRO A 2025, SAO PAULO X CORINTHIANS – Calleri jogador do Sao Paulo antes da partida contra o Corinthians no estadio Morumbi pelo campeonato Brasileiro A 2025. Foto: Marcello Zambrana/AGIF
A debandada e ruptura silenciosa
Nos bastidores, já se fala em candidatura própria de ex-aliados. O acordo de sucessão previsto para 2026 sofreu a primeira grande fratura concreta. O jogo virou. Mesmo sob pressão, Casares conseguiu aprovar um empréstimo de R$ 25 milhões no Conselho Deliberativo. Foram 46 votos contrários, número considerado dentro da oposição já consolidada. Ainda assim, o recado foi claro: o apoio não é mais automático.
O cenário político do São Paulo historicamente dificulta uma oposição ampla. Por isso, falar em isolamento total ainda seria exagero. Mas o grau de resistência interna aumentou de forma consistente. Hoje, o apoio existe, porém é condicionado. A gestão passou a operar no limite. Cada decisão virou uma batalha política.

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Um dos principais projetos da gestão, o FIP de Cotia, foi colocado em espera. A iniciativa previa até R$ 350 milhões em investimento externo sobre receitas da base. A diretoria avaliou que não há votos suficientes para aprovação neste momento. A parceria com a Galápagos, que também administra o FIDC do clube, segue em suspenso. A decisão simboliza o momento delicado. Grandes movimentos estão congelados. A prioridade agora é sobreviver politicamente. O planejamento de longo prazo ficou em segundo plano.
As promessa de mudanças no futebol
Casares admite a gravidade do momento. Em entrevista recente, prometeu “mudanças profundas” no futebol. Departamentos médico, de fisiologia e preparação física estão no centro da reformulação prometida.
A temporada evidenciou limites claros do modelo atual. Lesões, elenco curto e queda de rendimento cobraram seu preço. A cobrança interna é intensa. O discurso agora é de correção de rota. Se haverá tempo político para isso, ainda é uma incógnita.








