Dealers ou crupiês são aqueles responsáveis pela aplicação das regras em uma mesa de poker e o bom andamento do jogo. Eles são como os juízes para uma partida de futebol, ou seja, a autoridade máxima no esporte. Contudo, se vocês imaginam a figura do dealer como um homem ranzinza e de cara fechada está completamente engando.

Juliett Trevizan e Laura Vianna, duas das principais dealers do Brasil (Foto: Carlos Monti/Reprodução Instagram)
Juliett Trevizan e Laura Vianna, duas das principais dealers do Brasil (Foto: Carlos Monti/Reprodução Instagram)

 

Não é segredo para ninguém, os dealers brasileiros são os melhores do mundo e sem sombra de dúvida os mais simpáticos também. Em um esporte majoritariamente praticado por homens, duas mulheres se sobressaem na arte de distribuir as cartas e controlam muito bem as ações no poker live.

O time de dealers do BSOP durante etapa de 2018 (Foto: Carlos Monti/Divulgação BSOP)

O time de dealers do BSOP durante etapa de 2018 (Foto: Carlos Monti/Divulgação BSOP)

Estamos falando de Juliett Trevisan e Laura Vianna. As duas tiveram um papo exclusivo com o Bola Vip sobre o inicio delas no poker, sonhos e amizades conquistadas através desse esporte e também as dificuldades que passaram durante o longo período de pandemia onde os jogos presenciais foram interrompidos.

 

Juliett veio do Sul, já viajou o mundo todo trabalhando em eventos do PokerStars, está sempre nas mesas televisionadas do BSOP. Já Laura Vianna é de uma família tradicional de dealers brasileiros, a mãe dela, Ruth Vianna, foi uma das pioneiras na profissão e deixou muitas saudades ao falecer vítima de um AVC em abril deste ano.

Confira a entrevista completa com Juliett Trevizan e Laura Vianna

Bola Vip: Como vocês começaram e com quem aprenderam a profissão?

Juliett Trevizan: Comecei em 2007, em Porto Alegre. Na verdade, eu não fazia ideia do que era poker e do que iria trabalhar. Fui em uma entrevista de emprego e me apresentaram, tive treinamento de uma semana, e depois inauguraram o primeiro clube de poker de Porto Alegre e provavelmente do Sul, era agosto de 2007.

Laura Vianna: Eu comecei no poker em um clube que abriu na Praia Grande. Quem me ensinou a dar cartas foi a minha mãe, isso em julho de 2012. Em novembro eu já era dealer.

 

BV: Qual foi a situação mais constrangedora que vocês já passaram dando cartas?

JT: Nossa, são 14 anos já... Tem muitas histórias boas e momentos desagradáveis também. Algo que marcou muito foi em 2013, no Rio de Janeiro, quando não deixaram a gente entrar no hotel. Naquela época tinha um ônibus que levava do H2 (Clube de poker em São Paulo) até os locais do BSOP, e uma juíza decidiu proibir o campeonato no dia que ele ia acontecer. Ficou toda a equipe “abandonada” em frente ao hotel, parecendo mendigo, até que chegou um ônibus para trazer a gente de volta para Sâo Paulo.

LV: Situação constrangedora foram várias, as pessoas perdem a noção de lidar com dealer. Trabalhamos com gente que acaba perdendo dinheiro e isso é meio estressante, mas não lembro de nenhuma situação muito específica não.Só que as pessoas se perdem um pouco.

 

BV: O poker ajudou a realizar quais sonhos pessoais de vocês?

JT: Todos os sonhos eu acredito. Viajar foi o maior deles, se hoje carrego tantas histórias e carimbos foi o poker que me proporcionou.

LV: O poker me ajudou a ter muito mais estabilidade, principalmente financeira, e atingir alguns objetivos como ter uma vida mais confortável, querer alguma coisa e poder ter. Isso a mim e a minha família inteira que trabalha no poker.

 

BV: Na opinião de vocês, é possível fazer amigos no poker?

JT: Com toda certeza sim. Maioria dos meus amigos são do poker, eu sai do Sul, vivo em São Paulo, rodei BSOP desde 2010, fiz torneios internacionais, melhor de tudo isso são meus amigos.

LV: O poker é basicamente para fazer amigos, principalmente o jogo presencial. A gente encara isso com muito afeto, meus melhores amigos são do poker, hoje todos são! Tem o Pedro Padilha que todo mundo sabe que somos muito próximos, Luan que trabalha comigo, Rudnei, a Lívia mulher dele, Bruna, o Zangue, o Goiano... Esses são os melhores amigos que eu fiz no jogo, fora muitos que eu vou esquecer de citar nomes né.

 

BV: Quais dificuldades vocês passaram no período de recesso do poker durante a pandemia?

JT: Eu estava passando por um momento delicado pessoal. Minha ex-sogra estava com câncer terminal, eu me divorciando, vivendo em países diferentes. Fiquei aqui em São Paulo sozinha no meu apartamento, passando por tudo isso, um turbilhão de sentimentos, mas tive oportunidade de home office com a PokerStars, uma experiência que foi o mais longe e onde eu queria chegar no poker.

Depois, em outubro, meus pais perderam a casa em um incêndio, de novo uma fase complicada. Só que tudo se resolve, meus pais estão vivos e bem, com casa nova. Aos poucos deu tudo certo, tenho quem eu amo vivo e com saúde, meus pais, minha Irmã, meu sobrinho, a família dela, meus amigos, estão todos bem. Isso é o mais importante o resto, com consciência, vai se ajeitando.

LV: A gente está habituada a lidar com gente, uma correria no dia a dia, foi difícil parar, mas a maior dificuldade foi que perdemos muitas pessoas durante a pandemia, gente do jogo, amigos, colegas de profissão, e a questão financeira também deu uma abalada né.

Não tive do que reclamar porque estava bem estruturada, tive apoio do meu marido, então em relação a isso conseguimos passar e bem e também ajudar muita gente com o projeto “Adote um dealer” que criamos. É na falta de trabalho que a gente percebe o quanto dependemos disso para tudo, até para ficar bem mentalmente falando.