Alex Bez é um jogador profissional de poker do Brasil com grande destaque no cenário online. Foi nos feltros virtuais que ele conquistou a maior gloria da carreira, em 2020, quando ficou com a medalha de ouro no BSOP após bater um field de 2.092 entradas e recebeu uma premiação de US$ 55.941. No ano passado, mais dois grandes resultados, um segundo lugar no Evento #02-H do SCOOP onde ele levou US$ 65.623 e um terceiro lugar no OSS Event #77 do Americas Cardrrom premiando US$ 73.259.

Alex Bez concedeu uma entrevista exclusiva ao Bola Vip (Foto: Carlos Monti/BSOP)
Alex Bez concedeu uma entrevista exclusiva ao Bola Vip (Foto: Carlos Monti/BSOP)

Recentemente o jogador revelou nas redes sociais o apoio que recebeu da esposa para grindar em um dia comum. Segundo a postagem, não estava nos planos de Alex jogar naquele dia, mas a companheira dele o incentivou. Os resultados mostraram que ela estava certa. Foram três mesas finais naquele dia, com uma cravada e uma forra total de aproximadamente US$ 18 mil.

A família é algo muito importante na carreira de todo profissional de poker. A transição para o jogo profissional é quase sempre algo muito complicado e no caso de Alex não foi diferente. “É bem difícil a família aceitar desde o começo. Eu entendo o meu pai não ter aceitado, eu estava fazendo faculdade, o curso que ele fez, o sonho do pai é o filho seguir a carreira dele, ninguém sonha com o filho sendo jogador de baralho”, contou Alex em entrevista exclusiva para o Bolavip Brasil.

O bate papo com o jogador foi descontraído e ele falou bastante do começo da carreira, de como conheceu o jogo que mudou a vida dele, além de revelar detalhes da conquista do BSOP. Outro assunto abordado de grande interesse foi a maneira como ele encontrou para superar uma downswing e também a valiosa dica para quem quer se tornar profissional de poker

Confira a entrevista completa:

Bola Vip: Como você conheceu o poker? Como foram os primeiros contatos e a transição para se profissionalizar?

Alex Bez: O primeiro contato foi com a minha família, quando eu tinha entre 12 e 13 anos. Jogávamos o poker fechado, todos brincando, usávamos grãos de feijão para apostar, sem valer dinheiro, só na brincadeira mesmo. Depois fui morar em Joinville e fazer faculdade, foi quando conheci alguns amigos que jogavam toda quarta-feira à noite em um Home Game. Comecei mesmo por lá, a maioria das pessoas começam assim.

Um outro passo foi quando eu passei a jogar online, ali teve a minha transição para o profissional, um momento um pouco complicado da minha vida.  Eu estava fazendo faculdade, mas não ia bem nos estudos, só que era bem lucrativo no online, já tinha um gráfico decente. Naquele momento a minha namorada na época – que hoje é minha esposa – engravidou. Fiquei numa sinuca de bico, não sabia se largava a faculdade de engenharia mecânica que estava quase jubilando e me dedicava somente ao poker. Acabei optando pelo baralho.

BV:  Você considera a sua maior vitória no jogo a cravada no BSOP? Como foi a sensação, alguma mão ou momento especial dessa cravada que você se recorda com grande carinho?

AB: Em questão de conquistas foi a principal, mas em questão de tamanho, de valor monetário não foi a maior. Mas pelo reconhecimento a sensação de cravar o Main Event do BSOP, mesmo sendo online foi muito boa. Tinha bastante pessoas acompanhando nas redes sociais, teve o bracelete que mandaram me entregar em casa, foi algo bem marcante. Todo jogador profissional busca um bracelete desses, seja da WSOP, do BSOP, eventos renomados.

Eu não me esqueço da mão da cravada, um 39s, no heads-up, que eu completo o raise do adversário e acerto dois pares no flop, com ele tendo um 9 e uma outra carta alta. Fomos de all in e eu sai vitorioso. Também me lembro do 3handed quando dei um 3bet light com 36º. Eu era o último em fichas, tinha 15bb e precisava me mexer. Tive coragem de fazer essa jogada e ganhei um suspiro.

 

BV: Como a sua família se relaciona com a sua profissão?

AB: Acho que essa questão é complicada para todos. Enquanto não aparecer um resultado expressivo, não mostrar que comprou algo bom com dinheiro do jogo, não vai ter credibilidade. Foi assim comigo e com vários amigos. Em 2018 eu fiquei em quinto lugar no Main Event do BSOP Florianópolis, já tinha uns 5 ou 6 anos que jogava online, com bons resultados, mas meu pai não via esses gráficos. Na época acho que recebi R$ 78 mil e passei a ter mais credibilidade da minha família.

BV: A vida de um jogador de poker é feita de altos e baixos. Quais são as vantagens e as desvantagens dessa carreira?

AB: As vantagens que eu vejo estão na questão do horário flexível. Nunca fui bom com horários, então tem dia que me programo para jogar às 14h, surge um imprevisto e só vou começar às 17h. Isso em uma profissão comum seria impossível, não dá para chegar atrasado. Tem também a liberdade, poder jogar em qualquer lugar, basta levar o computador, fazer uma rotina. Mas é claro, tem que trabalhar muito para ter sucesso, não adianta jogar três vezes por semana, tem que jogar e estudar muito mais, 10 horas por dia. No começo é bem desgastante.

Também encaixo nas vantagens a questão da cotação do dólar. A maioria dos sites opera nessa moeda e ganhar em dólares no Brasil é muito bom. Se fosse uma cotação tipo um para um acho que não seria tão lucrativo. Já as desvantagens são os longos períodos na frente do computador. As vezes passamos 8, 10, 12 horas no grind. Na minha modalidade que são os MTT não tem jeito, enquanto não cravar o torneio não pode parar de jogar.

BV: Qual foi o seu pior momento como jogador de poker? E quais conselhos você daria para alguém que quer começar na profissão?

AB: Tive uma downswing online quando jogava para a Pocarr, fiquei 2 anos e 9 meses empatando. Nesse período tive que ir atrás de outras rendas. Cheguei a dar cartas em clubes de poker para tentar ganhar um dinheiro, pagar contas. O time também me ajudou muito, mas chegou uma hora que não dava mais, o acordo com eles só foi aumentando. Hoje em dia eu tenho outros negócios envolvendo o poker, então não preciso só do resultado nas mesas para sobreviver. Quando você não tem dinheiro no banco, o teu psicológico fica abalado, se toma bad beat acaba influenciando nas outras jogadas. Hoje eu tenho uma empresa de compra e venda de fichas online, a SOS fichas, algo que me dá segurança.

Isso já é um conselho para quem quer começar. Ter uma renda extra. Claro que o ideal é só jogar e estudar, mas muitas vezes a pessoa não vai conseguir. Ajudar o time na parte administrativa, fazer alguma coisinha é sempre bom. Na parte técnica o conselho é subir devagar os limites, tomar muito cuidado com isso, mesmo quando acerta um bom prémio. Entrar em um time é sempre uma boa opção e aqui eu preciso fazer um “merchan” eu tenho um time de jogadores micro e low, o Wide Poker Team e as inscrições estão abertas, é só procurar a gente nas redes sociais.