Já imaginou morar em Las Vegas e viver jogando poker nos melhores cassinos com os mais emblemáticos jogadores? É isso que o mineiro de 33 anos Breno Campelo faz desde o final de 2017 quando se mudou para a cidade americana no estado de Nevada. Durante o Main Event da WSOP desse ano ele alcançou o melhor resultado da carreira, ao ficar na 48ª posição entre 6.650 jogadores e receber um prêmio de US$ 136.100.
- GGPoker se consolida no Brasil com inovações e promoções para jogadores
- Provocação em jogo de poker motiva assassinato na Flórida
O brasileiro se dedica as sessões de cash game, principalmente as do Cassino Bellagio, mas durante a WSOP decidiu engatar no Main Event e garantiu que a experiência nas mesas de Las Vegas valeu muito a pena. “É absurda a vantagem de quem joga cash game nos dias 1,2,3,4,5 e 6. Cheguei com mais de 100bbs então sempre jogando bem deep, algo que se assemelha ao cash-game”, disse Campelo em entrevista exclusiva ao Bola Vip.
Breno Campelo jogando em Las Vegas (Foto: Arquivo pessoal)
Após o grande momento na WSOP o jogador tupiniquim viralizou nas redes sociais com o chamado “stack diamond”. Essa é a maneira como ele arruma as fichas dele, sempre no formato de um diamante. “Eu comecei a postar fotos e dizer para galera fazer o mesmo e marcar, divulgar que vai dar certo. A coisa toda funcionou e o pessoal passou a repostar. Fico feliz e tenho certeza que tem gente se dando bem nas mesas”, comentou Campelo.
Confira a entrevista completa com Breno Campelo
Bola Vip: Como você conheceu o poker? O que você fazia antes de virar jogador de poker? Como foi essa transição?
Breno Campelo: Conheci por volta de 2000/2002 jogava five card draw (o chamado poker fechado) na casa de um amigo, lembro que nessa galera tinha o Pedro Sergio Cayo Cavalcanti, que hoje é profissional de Spin & Go e um dos caras que mais me ensinou. Antes do poker eu trabalhava em uma multinacional, sou formado em administração de empresas.
Pouco antes de me profissionalizar eu estava em um processo de trainee na Itália, onde iria morar por dois anos e trabalhar em um cargo de chefia na Fiat, mas resolvi abrir mão de tudo e ir atrás do meu sonho. Foi uma época conturbada, decidi largar um emprego com um bom salário e morava na casa dos meus pais. O processo mais difícil foi conversar com eles, pedir apoio emocional, porque financeiramente eu tinha me preparado.
BV: Sempre gostou mais de cash game? Por que?
BC: Já fui jogador de torneios, mas sempre preferi cash game. Acho que pelo fato da liberdade de entrar e sair a hora que quiser. Se a sua mesa é boa e você que ficar ali para sempre isso pode acontecer. Torneio é a obrigação de estar ali, tomar bad beat e continuar jogando. Isso pra mim no começo era muito pesado. Eu gosto da competitividade do torneio, mas prefiro o cash game pela liberdade.
BV: Como foi a decisão de ir morar em Las Vegas?
BC: Isso aconteceu em 2017/2018. Eu já tinha vindo algumas vezes aqui para jogar e resolvi fazer um laboratório. Sempre planejei e estudei tudo na minha vida, nunca agi por impulso. Na época vim com a minha esposa e a gente veio pra ficar três meses e entender como seria. Alugamos apartamento e eu passei a jogar poker enquanto ela estudava inglês. Passado esses meses a gente decidiu que era isso que queríamos. Voltamos para o Brasil, arrumamos tudo para vir de vez para cá porque decidimos que aqui era o nosso lugar
BV: Como foi o período de pandemia para você? Jogou online?
BC: Foi conturbado porque a minha única fonte de renda foi cortada. Eu tive que buscar outras alternativas, comecei a jogar online no PPPoker e estudar Omaha junto com o meu amigo Ivan Santana. Fiz isso por um tempo e acabou sendo lucrativo, mas graças a Deus acabou esse período, eles reabriram e voltei a estudar Holdem e a trabalhar aqui nos cassinos mesmo.
BV: Mesmo sendo um especialista em cash-game, você teve um grande sucesso no Main Event da última WSOP, acha que as sessões nos cassinos ajudaram no desempenho? Quem tem experiência no cash-game leva vantagem em torneios como o Main Event da WSOP?
BC: É absurda a vantagem de quem joga cash game nos dias 1,2,3,4,5 e 6. Cheguei com mais de 100bbs então sempre jogando bem deep, algo que se assemelha ao cash-game. Tenho dificuldade de jogar entre 10 e 40bbs, acho que um jogador de torneios toma melhores decisões nessa faixa de stack.
Em eventos como a WSOP com duas horas de blinds, uma estrutura deep que podemos cometer erros e ainda estar vivo, não precisa do flip de vida ou morte né? A jogabilidade é bem maior e pra jogador de cash game esse tipo de torneio é um sonho.
BV: Qual conselho você daria para um jogador de poker brasileiro que pretende ir morar em Las Vegas?
BC: O conselho seria planejamento. Ele precisa ser bem feito ao ponto de conseguir passar pelas adversidades que venham aparecer. Os percalços do poker são comuns e a estrutura financeira e emocional das pessoas que jogam por conta geralmente não é bem preparada. É preciso entender que os percalços vão existir, calcular as chances de risco e se preparar pra isso.
Nota da redação: Após a publicação dessa entrevista, Breno Campelo pediu para ser repruduzido um belo texto sobre a vida em Las Vegas que ele publicou nas redes socias.
“Por aqui não tem big hit; não tem capa de revista; não tem forra astronômica. Por aqui não tem iCM; não nos importa a sobrevivência. Por aqui o EV é por mão, raramente tem all in pré-flop; constantemente tem overbets.
Por aqui tem conversa fiada, tem conhecer pessoas, tem tells!
Tudo na vida tem pontos positivos e negativos, pondere do seu jeito para escolher o melhor para você.”