Apesar do passado explosivo, Mireya revela que fez amizade com rivais e considera como irmãs as atletas da geração dos anos 1990

No vôlei, Mireya Luis é sinônimo de títulos e grandeza. A cubana, tricampeã olímpica entre 1992 e 2000, é lembrada por muitos brasileiros pelo papel de carrasco que exerceu nos jogos de Atlanta e Sydney, nas semifinais. 

Se Brasil e Cuba brigavam para estar nas finais olímpicas, e isso não era restrito aos pontos dentro de quadra, hoje o cenário mudou. O Brasil se manteve entre as principais forças, enquanto os cubanos sofrem com a perda de prestígio. Contudo, as cenas bélicas dos duelos são apenas um recorte de um tempo que passou. A paz reina entre algumas das protagonistas daquele espetáculo em Atlanta.

Mireya Luis: a vilã que o Brasil não queria ver nem pintada de ouro

A geração Mireya ficou para a história das Olimpíadas com um desempenho forte, mentalmente preparado e de muita técnica. Não à toa, ela é considerada por muitos a precursora do vôlei em Cuba e maior atleta da modalidade em todos os tempos.

Dois títulos mundiais, além do tri olímpico, alçaram ela a este posto. E se Cuba não vive dias bons no esporte, é natural que se olhe para o passado glorioso, quando o investimento estatal na modalidade era relevante e trazia frutos.

Embora a memória remeta a tapas e xingamentos perante a rede da quadra, com descontrole emocional da seleção brasileira e dedos em riste, Mireya não é inimiga das jogadoras daquela geração. Ao menos não de todas elas.

O episódio de Atlanta ficou para trás, garante cubana

Em entrevista ao Estadão, a cubana revela que estreitou laços com Ana Moser e Márcia Fu, duas das suas opositoras mais ferrenhas em Atlanta ‘96. “Recordo bem daquela semifinal, e é como reviver tudo mais uma vez agora que estou aqui no Brasil”, explicou. 

“Lembro que quando marquei o último ponto, a Ana Moser, a Márcia e Ana Paula começaram partiram para cima da gente e nós começamos a brigamos com elas também e nos vestiário houve o corpo a corpo. Foi um momento tenso, de muita adrenalina, mas também foi um exemplo de como se deve defender uma medalha olímpica”, comentou a tricampeã olímpica.

A amizade com as arquirrivais

Ainda que os laços não se estendam a outras integrantes da geração, não deixa de ser curioso ver uma boa relação entre a cubana e Ana Moser, Márcia Fu e Virna, com quem fez uma live durante a pandemia de covid-19. Os episódios conflituosos ficaram restritos à disputa esportiva.

“Nós seguimos com a mesma amizade, respeito e carinho que sempre sentíamos umas pelas outras. Para mim, as brasileiras são minhas irmãs de luta e sinto muito orgulho disso”, ressaltou Mireya, que alegou ter torcido para Márcia Fu no reality show “A Fazenda”, da Record, em 2023.

Virna, aliás, aproveitou o encontro virtual em 2020 para dizer que o Brasil aprendeu muito com Cuba nos dois choques das semifinais olímpicas. Tudo porque as cubanas serviram de exemplo para uma evolução no preparo físico e psicológico. Não à toa, o Brasil foi bicampeão em 2008 e 2012 no vôlei feminino.

Cuba não estará nos jogos de Paris 2024, pelo menos não no vôlei feminino. Provavelmente veremos algumas das algozes de 1996 e 2000 manifestando apoio para mais um sucesso brasileiro nas quadras. Depois do aceno de Mireya, isso já não parece mais improvável.

A ex-ponteira está no Brasil neste mês de janeiro, para uma série de eventos e clínicas em parceria com o Sesc, em São Paulo. Atualmente, a cubana é representante do COI, o Comitê Olímpico Internacional.