Em novembro de 2005, o Grêmio tinha pela frente um dia muito complicado e difícil contra o Náutico no Estádio dos Aflitos, no Recife, Pernambuco. O nome “Batalha dos Aflitos” é usado em referência ao local da partida, e também à enorme tensão demonstrada peloos clubes durante a partida.

Arquivo/Grêmio/ Há pouco mais de 16 anos, o Grêmio vencia a 'Batalha dos Aflitos' e voltava à Elite do Campeonato Brasileiro; jogo virou até filme
Arquivo/Grêmio/ Há pouco mais de 16 anos, o Grêmio vencia a 'Batalha dos Aflitos' e voltava à Elite do Campeonato Brasileiro; jogo virou até filme

No úlimo jogo da segunda fase, o time vencedor seria promovido à primeira divisão do Campeonato Brasileiro de 2006. Um pênalti a favor do Náutico, já no segundo tempo, levou a partida à uma confusão generalizada, que paralisou o jogo por 27 minutos. Após o tumulto, quatro jogadores gremistas foram expulsos e a polícia precisou entrar em campo. A cúpula gremista tentou tirar o time de campo, mas desistiu da ideia.

Na cobrança do pênalti, o goleiro Galatto defendeu e o time gaúcho logo armou um contra-ataque em que Anderson marcou um gol, dando o campeonato da Série B ao Grêmio. Se o grêmio perdesse o jogo, iria ficar mais um ano na segunda divisão nacional. Com a vitória, o Grêmio subiu e com a taça na mão.

Divulgação Grêmio/ Há pouco mais de 16 anos, o Grêmio vencia a ‘Batalha dos Aflitos’ e voltava à Elite do Campeonato Brasileiro; jogo virou até filme

Divulgação Grêmio/ Há pouco mais de 16 anos, o Grêmio vencia a ‘Batalha dos Aflitos’ e voltava à Elite do Campeonato Brasileiro; jogo virou até filme

O campeonato

A Série B de 2005 foi disputada em três fases e apenas duas equipes subiam à Série A. Esta foi a última edição do torneio antes de ser implementado o sistema de pontos corridos. Na primeira fase, o Grêmio acabou em quarto e o Náutico em sétimo. Na segunda, com dois grupos de 4, o Náutico venceu seu grupo e o Grêmio ficou em segundo, e assim foram para o quadrangular final que determinaria as equipes que subiriam.

A última rodada, em 26 de novembro de 2005, teria duas partidas no Recife. No Estádio do Arruda, o Santa Cruz enfrentava a Portuguesa, enquanto no Estádio dos Aflitos o Náutico recebia o Grêmio. A situação financeira problemática do Tricolor Gaúcho implicava que em caso de não se classificasse, o clube poderia decretar falência.

O pré-jogo com muita hostilidade aos pernambucanos

O Náutico queria muito vencer e usou de muitas artimanhas, para se dizer assim, a fim de provocar os gremistas e levar certa vantagem.

Quando a delegação gaúcha chegou aos Aflitos, os dirigentes e torcedores gremistas foram forçados por funcionários do Náutico a entrar no estádio passando pela torcida pernambucana, enquanto os atletas entraram em um minúsculo vestiário recém-pintado, com uma porta fechada a cadeado que impedia acesso ao gramado para o aquecimento. O sufoco fortaleceu o Grêmio, que em campo, disputavajogo da vida.

O jogo, a batalha!

A partida começou muito disputada, e o nervosismo era claro em todos os jogadores. Jogadas ríspidas e reclamações eram constantes. O Náutico atacava mais, mas parava na fechada defesa gremista. O Náutico ainda teve um pênalti perdido ainda na primeira etapa.

O segundo tempo começou tão agitado como o primeiro. O Náutico seguia pressionando, mas não conseguia abrir o marcador. O Grêmio teve um jogador expulso aos 30 minutos da etapa final. O Grêmio, com o 0x0, ia atingindo seu objetivo que era ao menos subir para a Série A, porém, aos 35 minutos, o juiz Djalma Beltrami marcou pênalti para os pernambucanos, acusando Nunes de ter tocado com a mão na bola.

Aí começou uma enorme confusão. Considerando a marcação injusta, os gremistas foram tirar satisfação com o árbitro, que expulsou Nunes e Patrício após ser agredido pelos atletas. A Polícia entrou no campo, agrediu os gremistas, e instalou-se uma confusão generalizada com reservas, dirigentes e torcedores entrando no gramado.

A partida ficou parada por 27 minutos, com o meia Marcel tentou impedir a cobrança da penalidade e Domingos sendo expulso após tirar a bola das mãos do juiz. Os dirigentes do time tricolor ameaçaram tirar o time de campo em diversas oportunidades para tentar reverter a decisão no tribunal de Justiça Desportiva.

Com quatro jogadores expulsos, o Grêmio via bem longe a chance de vencer a partida. Ainda mais se sofresse o gol de pênalti. No entanto, o técnico Mano Menezes decidiu que retirar a equipe em campo seria uma marca negativa e pediu ao goleiro Galatto que tomasse parte na cobrança.

Os ânimos arrefeceram e os gremistas voltaram às suas posições. O árbitro, mesmo agredido com chutes, não expulsou o quinto jogador do Grêmio, o que implicaria na vitória da equipe pernambucana.

O jogador Ademar foi cobrar a penalidade que poderia decretar o fim da agremiação gaúcha. Porém, Galatto defendeu a cobrança, e no escanteio resultante, o Grêmio armou um contra-ataque e Anderson disparou para o campo de ataque e, sozinho, entrou a dribles na zaga pernambucana para marcar o único gol da partida aos 61 minutos do segundo tempo.

Fim de jogo: Grêmio 1 x 0 Náutico. Jogadores e comissão técnica gremista corriam para todos os lados chorando e comemorando algo que, minutos antes, conforme colocado pelo narrador Pedro Ernesto Denardin, da Rádio Gaúcha, “só aconteceria por um milagre”. O tricolor gaúcho voltava à elite do futebol brasileiro.