Na história do futebol brasileiro há muitos clubes que desbancaram clubes considerados “maiores”. Em alguns casos, é o acaso agindo. Porém, em outros, é fruto de muito trabalho e planejamento. Esse foi o caso do Criciúma em 1991, que já vinha brigando de igual para igual no fim da década de 80 com os grandes times de Santa Catarina: Avaí, Figueirense e Joinville. 

Foto: Reprodução/Instagram - Criciúma lutou para chegar ao seu primeiro título da Copa do Brasil
Foto: Reprodução/Instagram - Criciúma lutou para chegar ao seu primeiro título da Copa do Brasil

 

Aquele ano com certeza foi o melhor ano da história do Tigre. Começando com o projeto ambicioso da direção do clube, indo atrás de um treinador gaúcho ainda em começo de carreira. Os mandatários do Clube Catarinense foram ao Kuwait para trazer nada mais, nada menos, que o treinador que 11 anos depois seria o grande comandante do Penta: Luiz Felipe Scolari, o Felipão.

 

 

Naquele elenco não havia estrelas, mas era um grupo com muita vontade e entrosamento. Destaque para o lateral-esquerdo e capitão Itá, os meio-campistas Roberto Cavalo, Gélson e Frizzo, além dos atacantes Jairo Lenzi e Soares. Na agenda do Criciúma estava a Copa do Brasil. Mas o que o clube catarinense poderia conseguir lá? Apenas cumprir tabela? Não era bem assim que Felipão via.

 

Logo na primeira fase, o Tigre eliminou o modesto Ubiratan, do Mato Grosso do Sul, empatando em 1 a 1 fora de casa e goleando em casa por 4 a 1. Porém, nas oitavas-de-final, o primeiro “time grande” chegava em seu caminho. Tratava-se do Atlético Mineiro, que vinha em uma boa sequência com o treinador Jair Pereira. Os mineiros eram favoritos absolutos, com jogadores como o goleiro Carlos, o lateral Alfinete, o atacante Gérson e o jovem zagueiro Cléber, ou Clébão, aquele mesmo que se destacou no Palmeiras. 

 

 

 

Na ida em Santa Catarina, 1 a 0, gol de Vanderlei. Até então, tudo “ok”, afinal em Belo Horizonte o Galo mandaria seu jogo. Porém, o Tigre não estava para brincadeira e em pleno Mineirão, Roberto Cavalo acertou uma linda cobrança de falta, no ângulo, para repetir o placar da ida. Um feito espetacular para aquele time. A primeira grande vítima estava feita.

 

Já entre os oito melhores times da competição, o adversário agora era o Goiás. O mesmo time que havia eliminado os catarinenses na semifinal da mesma Copa do Brasil, um ano antes. Havia um tom de vingança, porém não seria fácil, afinal o Esmeraldino contava em seu elenco com jogadores como o lateral Lira, o meio-campista Luvanor e um jovem centroavante chamado Túlio Maravilha, na época com 22 anos. Mesmo com esses grandes nomes, o Tricolor Predestinado se segurou em Goiânia e empatou em 0 a 0. Na volta, o caldeirão no Estádio Heriberto Hülse empurrou o clube comandado por Felipão. Resultado: 3 a 0, em 15 minutos. Gols de Jairo Lenzi, Gélson e Grizzi, e vaga entre os quatro melhores.

 

 

 
 

A semifinal colocou o Criciúma frente a frente com o Remo. O clube paraense naquela edição tinha eliminado times como o Vasco e o Vitória. O fator torcida contava muito na campanha do Leão Azul. O Baenão era também um caldeirão, o que ajudava muito o Remo. Porém, o Tigre sobreviveu e com muito sangue frio e viu Soares marcar o único gol do jogo para dar a vitória para o Clube de Santa Catarina. Em casa, o atacante voltou a marcar, para mais tarde o gol contra de Chico Monte Alegre garantir a inédita ida do Criciúma para a final da Copa do Brasil de 1991.

 

 

Chegava a hora! O adversário era simplesmente o primeiro campeão da competição que teve início em 1989: o Grêmio. O clube gaúcho vinha com o atacante Maurício como a grande estrela do time e o capitão. Além disso, os meias João Antônio e Caio - o mesmo que depois atuou pela Portuguesa - ditavam o ritmo do meio-campo. Não seria fácil!

 

Havia muita pressão. A imprensa gaúcha já dava como certa a conquista e contava com a ida do Grêmio para a Libertadores de 1992. Porém, não foi isso que se viu. No Olímpico, com 14 minutos, Valmir abriu o placar para o Tigre, mas Maurício empatou, de pênalti, no fim da partida. Ficava tudo para o Heriberto Hülse.

 

 

A partida de volta começava já com o título do Criciúma, já que naquela época o gol fora de casa era critério de desempate. A equipe catarinense, que contou com a presença de 20 mil torcedores, soube como ninguém jogar com o regulamento embaixo do braço e quase venceu o jogo, com Soares acertando uma bola na trave. O Criciúma segurou o ímpeto do Grêmio e se sagrou Campeão da Copa do Brasil.

 

 

Aquele dia 2 de junho de 1991 e aquele time estão eternizados na memória do torcedor Tricolor. Além de tudo, de forma invicta, com seis vitórias e quatro empates. A conquista pode ser definida pelo próprio Felipão em uma entrevista no ano passado: “Sabemos que, sem os atletas e a comunidade de Criciúma, não conseguiríamos nada. Foi maravilhoso, espetacular”.