A FIFA vem trazendo projetos para reformular a Copa do Mundo, uma das ideias propostas pela entidade já foi aprovada e será aplicada a partir de 2026. De acordo com o presidente da FIFA, Gianni Infantino, já foi decidido que a Copa do Mundo terá 48 equipes a partir de 2026. Mas uma outra ideia da entidade vem gerando bastante polêmica. A FIFA pretende transformar uma das competições mais tradicionais do futebol mundial, a Copa do Mundo, em um evento que deverá ser realizado a cada dois anos e não mais de quatro em quatro como acontece atualmente.
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A proposta da FIFA encontra, inclusive, resistência da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), que já afirmou que não vê razão para o plano da Federação Internacional e as dez seleções que compõe a Conmebol (Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela) indicaram que não irão participar da Copa caso ela ocorra no intervalo de dois anos. “O projeto em questão vira as costas a quase cem anos de tradição do futebol mundial, ignorando a história de um dos eventos esportivos mais importantes do planeta. A Conmebol apoia a Copa do Mundo atualmente em vigor, com os seus prazos e sistemas de classificação, porque provou ser um modelo de sucesso, baseado na excelência esportiva e que recompensa o esforço, talento e trabalho planificado”, disse a Conmebol em comunicado.
Em uma entrevista ao Lance!, Carlos Alberto Parreira, que participou das últimas 10 Copas, também se mostrou contrario ao novo projeto da FIFA. “Sou muito tradicionalista: quatro anos é o ideal. Você tem a preparação de uma Copa, que você ganhou ou perdeu, e você tem as Eliminatórias, que aqui para o Brasil dura um ano e meio. De dois em dois anos vai tirar toda a graça dessa competição. O bacana é você desfrutar quando você ganha, e se preparar quando você perde. Ano que vem já tem outra Copa, eu já fui a dez. Parece que foi ontem! É um formato consagrado, e se mudar para dois em dois anos vai perder toda a essência, vai ficar muito banalizado. Eu sou contra. Pode agradar no aspecto político e econômico, mas eu nem sei se agrada todo mundo. A Conmebol e a Europa são contra. O único aspecto interessante é o financeiro, e acho que nesse caso não tem que ser levado em conta o aspecto financeiro. Vou repetir: de dois em dois anos vai banalizar a Copa do Mundo, vai ficar uma coisa muito comum. É essa expectativa de quatro anos que deixa todo mundo ansioso.”
Foto: Pedro Martins/AGIF | Parreira engrossa a lista das pessoas contrarias ao projeto da FIFA
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, defende a ideia e acredita que novo intervalo não irá interferir na qualidade e no prestígio do evento. “Definitivamente acredito em termos mais eventos prestigiosos, seja a Copa do Mundo ou qualquer outra coisa (…) precisamente porque ser um torneio mágico talvez seja a razão para acontecerem com mais frequência”.
Um dos pontos favoráveis a mudança foi um fato apresentado durante uma reunião virtual, em que a FIFA projetou lucrar 4,4 bilhões de dólares (R$ 25 bilhões) a mais com a redução do intervalo do torneio. De acordo com os dados, feitos por uma consultoria internacional, os valores saltariam de 7 bilhões de dólares (R$ 39,9 bilhões) para 11,4 bilhões de dólares (R$ 65 bilhões). “Os resultados econômicos apresentados são muitos fortes. Todos se beneficiariam, os mais ricos e os mais pobres. Teríamos também mais dinheiro para reinvestir no desenvolvimento do futebol em todo o mundo”, disse Infantino, presidente da Fifa, após a reunião.
Apesar da insistência no projeto, uma pesquisa organizada pela FIFPRO e sindicatos nacionais de jogadores sobre carga de trabalho e formatos de competição, com mais de mil jogadores, mostrou que 75% dos atletas do futebol profissionais masculinos querem manter a Copa do Mundo da FIFA a cada quatro anos. A pesquisa reuniu as opiniões de jogadores de seis continentes, incluindo mais de 70 nacionalidades diferentes.
O percentual muda de acordo com a região. Cerca de 77% dos jogadores da Europa e da Ásia preferem uma Copa do Mundo a cada quatro anos, nas Américas o percentual caiu para 63% e 49% na África, com o restante dividido entre um ciclo de dois ou três anos. O secretário-geral da FIFPRO, Jonas Baer-Hoffmann, comentou o levantamento. “A pesquisa dos jogadores mostra que a maioria dos jogadores de futebol ao redor do mundo tem uma clara preferência por jogar a Copa do Mundo a cada quatro anos. Ao mesmo tempo, os resultados demonstram a importância das competições nacionais para os jogadores. Essas ligas são a base do nosso jogo e temos que fazer mais para fortalecê-las tanto pelo bem dos jogadores quanto pela estabilidade geral do futebol profissional.”
Outro ponto identificado pela pesquisa foi que a maioria dos jogadores acredita que seu bem estar não é prioridade na tomada de decisão da governança internacional. “Outra descoberta importante dos jogadores é que apenas 21% deles acreditam que sua voz é respeitada e que seu bem-estar é adequadamente considerado no contexto da governança internacional do futebol. Portanto, esta pesquisa destaca a necessidade de mais estruturas de negociação coletiva em nosso setor, especialmente em nível internacional.”