Um gol anotado nos minutos finais, feito por um herói “improvável”: o Palmeiras mostrou neste sábado (27), em Montevidéu (Uruguai), que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar quando se trata de futebol. Em um jogo marcado por limitações físicas de muitos atletas e por um erro absurdo de Andreas Pereira, Deyverson balançou as redes na prorrogação e definiu a vitória do Alviverde por 2 a 1 sobre o Flamengo no Estádio Nacional.
É o terceiro título do Palmeiras na Libertadores, o segundo consecutivo – ambos em 2021, já que a edição passada terminou apenas em janeiro deste ano. E assim como havia acontecido quando Breno Lopes anotou aos 53min do segundo tempo o gol decisivo contra o Santos, o artífice da conquista deste sábado foi inesperado. Autor do gol do título, Deyverson ainda não havia balançado as redes na competição sul-americana desta temporada e só entrou em campo porque Raphael Veiga pediu para sair.
A Libertadores não tinha um bicampeão consecutivo desde o Boca Juniors, que ergueu a taça em 2000 e 2001. Entre os brasileiros, o Santos (1962 e 1963) e o São Paulo (1992 e 1993) também conseguiram o feito.
O Palmeiras ainda encerrou um retrospecto incômodo contra o Flamengo. Os dois times haviam disputado duas decisões – a Mercosul de 1999 e a Supercopa do Brasil deste ano –, e os cariocas triunfaram em ambas.
Deyverson marca e chora
Muito criticado nos meses que antecederam a decisão, Deyverson mostrou claramente o peso do gol anotado neste sábado. O centroavante pulou a placa de publicidade após ter balançado as redes e chorou.
Deyverson já havia feito em 2018 o gol que deu ao Palmeiras o título do Campeonato Brasileiro.
Duelo Arrascaeta x Piquerez define quem celebra em casa
A decisão da Libertadores de 2021 foi especial para dois jogadores. Arrascaeta (Flamengo) e Piquerez (Palmeiras), uruguaios, foram os únicos que estiveram em casa no Estádio Nacional, em Montevidéu.
O duelo entre Flamengo e Palmeiras, portanto, também foi uma disputa para ver qual dos uruguaios teria a chance de celebrar em seu país natal.
Flamenguista pede namorada palmeirense em casamento antes do jogo
Uma cena entre dois torcedores chamou atenção de quem estava no Estádio Nacional. Um flamenguista aproveitou o sábado de festa para fazer um pedido de casamento.
A declaração do flamenguista a uma torcedora do Palmeiras foi transmitida em tempo real pelo telão do estádio. Na hora do “sim”, torcedores vibraram como se tivesse acontecido um gol.
Fora de campo, show é de Anitta
Assim como havia acontecido em 2019, ano em que o Flamengo bateu o River Plate na decisão, Anitta cantou antes da final da Libertadores. A artista de 28 anos animou o público com hits como “Bola Rebola”, “Me Gusta” e “Combatchy”, e adaptou letras para evitar termos como “bumbum”. Rapidamente, o show fez da artista o assunto mais popular da rede social Twitter em vários países da América do Sul.
Problemas físicos determinam comportamento de treinadores
Disputada no fim da temporada, a decisão da Libertadores de 2021 foi orientada por questões físicas. Lesões foram o principal motivo para decisões tomadas pelos dois treinadores no Estádio Nacional.
Ainda no primeiro tempo, Renato Gaúcho perdeu Filipe Luís, lesionado, e colocou Renê em campo. Ele também precisou substituir o lateral direito Isla, que sentiu dores e deu lugar a Matheuzinho na etapa final.
Do lado do Palmeiras, Abel Ferreira perdeu dois meio-campistas por problemas físicos. Titulares na decisão, Danilo e Zé Rafael pediram para sair e foram substituídos, respectivamente, por Patrick de Paula e Danilo Barbosa. Raphael Veiga mostrou esgotamento no fim do tempo regulamentar e também deu lugar a Deyverson.
Como foi o jogo
Qualquer análise sobre o início do duelo entre Flamengo e Palmeiras deve considerar que o rumo da decisão mudou logo aos 5min do primeiro tempo. Afinal, foi a essa altura que Raphael Veiga abriu o placar no Estádio Nacional.
É verdade que o gol marcado após cruzamento rasteiro de Mayke da direita mostrou uma aposta de Abel Ferreira. O treinador moldou seu Palmeiras para atacar as costas dos laterais flamenguistas, com ênfase no lado defendido por Filipe Luís. No entanto, todo o contexto do jogo mudou depois do chute certeiro de Veiga.
Em desvantagem, o Flamengo adiantou suas linhas e teve mais volume. O Palmeiras defendia sua meta com uma linha de cinco jogadores, com Gustavo Scarpa pela esquerda, e apostava em escapadas de Dudu e Rony com muito campo para correr. Essa dinâmica perdurou por toda a primeira etapa, com os paulistas em situação mais confortável.
Renato Gaúcho trocou Éverton Ribeiro por Michael durante o intervalo, e isso deu mais profundidade ao Flamengo. Arrascaeta demonstrava falta de ritmo, e a dupla formada por Bruno Henrique e Gabigol parecia desconectada do jogo, mas o time carioca seguiu tendo mais presença no campo ofensivo.
Aos 27min do segundo tempo, Gabigol voltou a brilhar em uma decisão de Libertadores. Autor dos dois gols que deram o título ao Flamengo em 2019, o centroavante recebeu passe de Arrascaeta na esquerda e finalizou de pé esquerdo, com força, no canto direito baixo de Weverton.
O gol mudou pouco a configuração do jogo. Depois do empate do Flamengo, o que mais interferiu no ritmo da decisão foi a questão física – muitos jogadores estiveram aquém de suas condições ideais, e isso fez com que a reta final do tempo regulamentar tivesse mais entrega do que grandes lances.
A sensação de que o físico foi o fator mais relevante cresceu na prorrogação. Renato Gaúcho trocou Bruno Henrique por Kenedy, e Abel Ferreira teve de colocar Deyverson no lugar de Raphael Veiga. As duas modificações remanejaram a proposta das equipes, com o Flamengo ainda mais agudo e o Palmeiras esperando um erro do rival.
Esse erro aconteceu logo aos 4min do primeiro tempo da prorrogação: David Luiz recuou uma bola para Andreas Pereira, que dominou mal. Deyverson interceptou, conduziu pela direita e bateu na saída de Diego Alves para fazer o segundo do Palmeiras.
O gol fez com que o Palmeiras voltasse a seu jogo de recuar linhas, congestionar o meio e apostar em bolas longas. O Flamengo empilhou atacantes quando Renato Gaúcho colocou Pedro e Vitinho, mas o efeito foi o inverso – em vez de aumentar o volume, o “abafa” dos cariocas foi baseado em ações aleatórios.