Quem é Marcão e por que ele está em pauta hoje?
Marco Aurélio de Oliveira, o Marcão, é um ex-jogador e ídolo do Fluminense que, em setembro de 2025, assumiu novamente o comando técnico do time em um momento de instabilidade, carregando a missão de estabilizar a equipe e provar que pode ser mais do que um “treinador interino”.

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Ele é uma figura emblemática do Tricolor das Laranjeiras, reconhecido pela forte identificação com o clube e pelo papel constante nos bastidores tricolores. Após encerrar a carreira como jogador, ele se consolidou como presença confiável na comissão técnica. Sempre que assume o comando da equipe, mesmo em momentos turbulentos, demonstra firmeza e compromisso com o grupo, apostando na organização tática e no comprometimento coletivo como pilares de trabalho.
Seu histórico de contribuições reforça a imagem de um profissional comprometido, que representa os valores internos do Fluminense e que, mais uma vez, busca transformar uma oportunidade emergencial em afirmação definitiva como treinador. Após a demissão do técnico anterior, Marcão foi efetivado mais uma vez, gerando um debate entre a torcida: ele é a solução definitiva ou apenas o “bombeiro” de sempre para apagar incêndios?

Marcão atuando como técnico do Fluminense durante partida contra o Sampaio Correa pelo Campeonato Carioca 2025 – Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Como foi a carreira de Marcão como jogador do Fluminense?
Marcão foi um volante de marcação que se tornou capitão e símbolo de raça para a torcida do Fluminense no início dos anos 2000, sendo peça fundamental em um período de reconstrução do clube. Ele começou sua carreira no futebol de maneira discreta, atuando por clubes como Bangu, Criciúma e Bragantino. Durante esse período, enfrentou dificuldades para se firmar em um time de maior expressão, mesmo sendo notado por seu desempenho defensivo. Chegou ao Fluminense em 1999, aos 26 anos, já com um perfil diferente do típico jogador profissional, reservado, sem ostentação e ligado à sua origem humilde no bairro de Santíssimo, no Rio de Janeiro.
Marco Aurélio veio para o clube em um dos momentos mais difíceis da sua história, quando a equipe disputava a Série C do Campeonato Brasileiro, e viu na oportunidade a chance de mudar o rumo da sua trajetória no futebol. Dentro de campo, Marcão se destacava pela entrega e dedicação. Não era um jogador midiático nem daqueles que despertavam atenção pelos lances técnicos, mas sim pela consistência defensiva e espírito de liderança. Seu estilo combativo, de forte marcação e disposição física, rapidamente conquistou a confiança da torcida. Com o tempo, tornou-se capitão e um dos atletas mais respeitados do elenco, permanecendo no clube por sete anos consecutivos.
Durante esse período, foi campeão da Série C em 1999 e venceu os Campeonatos Cariocas de 2002 e 2005. Chegou a ser lembrado em uma lista prévia da Seleção Brasileira, mas não foi convocado. Mesmo assim, mantinha os pés no chão, afirmando não se considerar ídolo, apesar do reconhecimento que recebia no clube. Em julho de 2005, Marcão deixou o Fluminense a pedido próprio para jogar no futebol do Catar, mas retornou ao clube poucos meses depois, por dificuldades de adaptação e permaneceu até o fim de 2006, totalizando 397 partidas e 22 gols com a camisa tricolor.Depois disso, passou por outras equipes, como Cabofriense, Juventude, Joinville e CFZ, encerrando a carreira no Bangu em 2011, aos 38 anos.
Após se aposentar, ele iniciou sua carreira como treinador no Bangu em 2011. Contudo, foi demitido em 29 de janeiro de 2012, devido aos maus resultados no Campeonato Carioca daquele ano. Pouco tempo depois, em 14 de fevereiro de 2012, foi contratado pelo Bonsucesso para assumir o comando técnico da equipe. No final de abril de 2012, acertou com o River-PI, time do Piauí, onde permaneceu por cerca de um mês e meio. Sua saída se deu novamente em razão dos resultados insatisfatórios no Campeonato Piauiense.
Mesmo com as dificuldades iniciais na nova função, Marcão manteve uma ligação forte com o Fluminense, retornando para desempenhar funções na comissão técnica do clube, mantendo assim um vínculo sólido e uma relação de respeito e identificação que se estende desde sua chegada como jogador.

26/02/2014 – Marcão, durante o treino do Fluminense no CT Laranjeiras – Foto: Armando Paiva/AGIF.
Quando Marcão começou a assumir o time como técnico interino?
Desde que se tornou membro da comissão técnica permanente, Marcão foi acionado diversas vezes para assumir o time interinamente após a demissão de treinadores, notabilizando-se por conseguir resultados imediatos. O ex-jogador iniciou sua trajetória como auxiliar técnico do Fluminense em 2014, função que exerceu até 2016. No dia 6 de novembro de 2016, ele foi promovido a treinador efetivo para comandar o time nas últimas quatro rodadas do Campeonato Brasileiro daquele ano. Esse momento representou sua primeira experiência oficial como técnico principal, em um cenário delicado para o clube, que passava por uma fase instável dentro da competição.
Em 2019, após um período fora da comissão técnica, o ídolo retornou ao Time de Guerreiros como auxiliar permanente, em uma posição independente da escolha do treinador principal, reforçando sua importância dentro do clube. Pouco tempo depois, no dia 4 de outubro, ele foi novamente efetivado como treinador, assumindo o time em meio a uma crise que deixava a equipe na zona de rebaixamento do Brasileirão. Com sua liderança, conseguiu reerguer o grupo, promovendo uma arrancada decisiva que culminou na classificação para a Copa Sul-Americana de 2020. Em dezembro daquele ano, com a chegada de Odair Hellmann como novo treinador, Marcão retornou ao cargo de auxiliar e passou a comandar o time sub-23.
No fim de 2020, com a saída de Odair Hellmann, ele foi confirmado novamente como treinador principal do Flu. Apesar de alguns altos e baixos, conseguiu estabilizar o desempenho do time, terminando o Campeonato Brasileiro invicto nos últimos oito jogos após uma goleada sofrida contra o Corinthians. O clube fechou a temporada na quinta colocação, com 64 pontos, assegurando vaga direta na Copa Libertadores da América. Essa fase evidenciou sua capacidade de recuperar a confiança do elenco e melhorar o ambiente interno, mesmo diante das dificuldades. Em fevereiro de 2021, com a chegada de Roger Machado, ele voltou a ser auxiliar técnico.
Em agosto de 2021, acabou sendo efetivado pela terceira vez como treinador principal após a saída de Roger Machado. Sob seu comando, o Fluminense alcançou o sétimo lugar no Campeonato Brasileiro, garantindo vaga para a fase preliminar da Copa Libertadores de 2022. Mais uma vez, seu trabalho destacou-se pela simplicidade tática, foco na recuperação do grupo e pela melhora do clima no clube, especialmente em momentos de instabilidade. Em 24 de junho de 2024, Marcão assumiu pela quarta vez como técnico do Fluminense, após a demissão de Fernando Diniz. Esse retorno reforçou a confiança que o clube deposita nele para conduzir o time em momentos de crise, recuperando o desempenho e estabilizando o ambiente.
Por que Marcão foi novamente efetivado como técnico do Fluminense?
Em 2025, após uma sequência de resultados ruins, a diretoria recorreu a Marcão pela sua capacidade de gestão de grupo e por sua profunda identificação com o clube, buscando uma resposta rápida em campo. Em março deste ano, ele voltou a assumir o comando do Fluminense de forma interina após a demissão de Mano Menezes. A troca ocorreu em meio a um ambiente conturbado, com críticas ao desempenho do time e pressão crescente da torcida por mudanças. Mais uma vez, a diretoria recorreu ao velho conhecido da casa para estabilizar o vestiário e conter a crise.
Agora, com a recente demissão de Renato Gaúcho, que surpreendeu a diretoria do Fluminense ao pedir para deixar o cargo, o ídolo tricolor iria ser novamente chamado para assumir o comando do time. Essa seria a décima vez que o auxiliar-técnico permanente assumiria a função de treinador interino, mas apesar disso, o clube carioca anunciou a contratação de Luis Zubeldía para o cargo de treinador.
Por que parte da torcida e da imprensa questiona o trabalho de Marcão?
As críticas se concentram na dúvida sobre sua capacidade de evoluir taticamente a equipe a longo prazo e de implementar um trabalho autoral que vá além da gestão de vestiário. Apesar de ter se tornado uma figura histórica dentro do Fluminense, seja como jogador, auxiliar ou treinador interino, o trabalho de Marcão como comandante ainda divide opiniões entre torcedores e analistas esportivos.
Sua relação com o clube é inegavelmente forte, e seu retorno ao comando da equipe em momentos de crise quase sempre traz uma resposta emocional positiva. No entanto, parte da torcida e da imprensa questiona até que ponto sua presença no cargo vai além do papel de “apaziguador de ambiente”. As críticas mais recorrentes apontam que o trabalho de Marcão funciona como uma espécie de “injeção de ânimo”, já que ele recupera a confiança do elenco, estabiliza o vestiário e traz simplicidade para o campo, o que muitas vezes é suficiente para uma reação imediata.
Quando o cenário exige um repertório tático mais sofisticado, suas limitações se tornam mais visíveis. Seus times costumam ter organização básica, mas carecem de variações ofensivas, alternativas de jogo e uma proposta clara a longo prazo. Em comparação com outros treinadores que se destacam no futebol brasileiro, como Abel Ferreira, Fernando Diniz e Dorival Júnior, Marcão ainda é visto como um técnico mais reativo e menos propositivo.
O tom de parte da imprensa reflete essa visão. Durante um dos programas esportivos da semana, o apresentador Benjamin Back ironizou a nova efetivação de Marcão: “Lá vem o Marcão pela 132ª vez comandar interinamente o Fluminense.” A fala, embora carregada de humor, traduz o sentimento de desgaste em torno do uso recorrente do ex-volante como solução caseira para os problemas do clube.

Técnico Marcão do Fluminense durante partida contra o Corinthians no estadio Arena Corinthians pelo campeonato Copa Sul-Americana 2019 – Foto: Daniel Vorley/AGIF
Como é a relação de Marcão com os jogadores e a torcida?
Marcão é visto como uma figura paternal por muitos jogadores e respeitado como um ídolo pela maioria da torcida, que reconhece seu amor incondicional pelo clube. Ele mantém uma relação sólida com o elenco do Time de Guerreiros, especialmente com os jogadores formados em Xerém. Por conhecer o ambiente do clube como poucos e ter sido figura constante na transição dos jovens da base ao profissional, ele é visto como um aliado dentro do vestiário.

Marcelo do Fluminense comemora gol com Marcão na final do Campeonato Carioca 2023 – (Photo by Buda Mendes/Getty Images)
Por outro lado, a torcida vive uma divisão quando se trata de Marcão. Há um carinho evidente por sua história no Fluminense, tanto como jogador quanto como auxiliar técnico, já que ele é visto como alguém identificado com a camisa, que representa os valores do clube. No entanto, parte significativa da torcida demonstra impaciência com sua efetivação recorrente. “Se o Fluminense efetivasse o Marcão até o fim do ano, talvez fosse a melhor coisa.”, avaliou um torcedor. “Gosto do Marcão mas ele ainda está no clube por gratidão… Não faz um bom trabalho“, apontou um usuário do X (antigo Twitter).
O que Marcão diz sobre ser visto como um “eterno interino”?
Marcão afirma que seu foco é sempre ajudar o Fluminense, independentemente do cargo, e que se sente preparado para os desafios de ser o treinador efetivo do clube. Ele já demonstrou, em diversas entrevistas, estar ciente do rótulo que carrega dentro do clube de “eterno interino”. Por mais que tenha assumido o comando do time em inúmeras ocasiões, quase sempre em meio a crises e transições, ele evita alimentar qualquer polêmica sobre a falta de efetivação definitiva.
Em vez disso, reforça seu compromisso com o clube e o foco no trabalho diário. Em uma de suas declarações, resumiu bem seu posicionamento diante das críticas: “Sei da responsabilidade e da desconfiança, mas meu trabalho é dentro de campo, com os jogadores.” Para o ex-atleta, mais importante do que o título no cargo é o serviço prestado ao Fluminense. Seu discurso é de lealdade, entrega e compreensão do seu papel. “O Fluminense é a minha casa. Estou aqui para servir ao clube da melhor forma possível”, afirmou em outra entrevista.
Qual é o legado de Marcão e o que esperar de seu futuro no Fluminense?
O legado de Marcão já está consolidado como um dos maiores símbolos de lealdade ao clube, e seu futuro como técnico dependerá de sua capacidade de transformar a estabilidade em títulos. O ídolo tem importância histórica no Fluminense por unir duas eras, a do jogador símbolo de raça no fim dos anos 90 e a do integrante fiel da comissão técnica nas últimas décadas. Sua presença constante atravessa crises, trocas de comando e gerações de atletas, sendo visto como alguém que representa a alma do clube. Ainda assim, ele carrega o desafio de romper o estigma de “técnico tampão” e se firmar como treinador de ponta.
Marcão construiu uma trajetória rara no futebol brasileiro. De volante aguerrido, que conquistou a torcida pela entrega dentro de campo, a homem de confiança nos bastidores, tornou-se o porto seguro do clube nos momentos mais turbulentos. Sua história no Fluminense é única, marcada por lealdade, identidade e dedicação.

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Será que Marcão conseguirá finalmente traduzir seu amor pelo Fluminense em um trabalho longevo e vitorioso? Ou sua história será para sempre a do ídolo que esteve presente para cuidar do clube, mas nunca para levá-lo à glória máxima como treinador?








