Neste sábado (20) dia da Consciência Negra, o Tricolor Carioca divulgou uma entrevista com Marcão, um dos dois técnicos negros da Série A do Campeonato Brasileiro, onde o comandante do Flu fez questão de destacar a importância da luta antirracista no futebol. Segundo ele, separar o esporte da sociedade é algo lamentável e isso explica porque não há tantos treinadores negros.

Thiago Ribeiro/AGIF – Marcão, técnico do Fluminense
Thiago Ribeiro/AGIF – Marcão, técnico do Fluminense

“Não era para ser assim. Hoje na Série A estamos eu e Jair (Ventura, técnico do Juventude). Mas a gente sabe que há muitos outros muito capacitados que poderiam estar sentados nestas mesmas cadeiras que nós. Mas a gente sempre fala que é um reflexo da nossa sociedade. No país do futebol, onde a maior parte é negra, ainda tem que a todo momento reforçar e viver isso. No futebol, por ser uma paixão, o esporte mais praticado no país, acaba refletindo o que acontece na sociedade. Mas a gente continua lutando”, afirmou o técnico.

Após, o comandante relatou que se vê em vantagem no contexto atual. “Para mim eu acho que fica mais fácil, pois estamos falando de Fluminense, um clube onde fui praticamente criado, moldado. Desde a época que cheguei como jogador fui muito bem recebido e hoje como treinador eu sento em uma cadeira muito importante, de um clube gigantesco. E acabo sendo exemplo em todas as lutas, em todos os temas. E hoje, falando de racismo, o Fluminense Football Club mais uma vez dá o exemplo e novamente sai na frente”.

Pedro H. Tesch/AGIF – Marcão em ação pelo Fluminense

Pedro H. Tesch/AGIF – Marcão em ação pelo Fluminense

Atualmente com 49 anos, Marcão que já foi volante, está apenas começando sua carreira como técnico. Um dos sonhos do comandante é acabar com estigma do negro de “bom de grupo” e provar que são, também, estudiosos. “É lógico que a gente clama por igualdade, por excelência nos estudos. Temos que estar sempre melhorando, se capacitando, para que no momento que a oportunidade surgir isso se iguale. A partir do momento em que a gente está aqui nessa cadeira, acaba se tornando normal. Mas estou aqui. Só que até chegar aqui, até a oportunidade aparecer, a gente sabe que ainda há uma barreira. E para chegar aqui não podem nos limitar apenas a força física como jogador e, como treinador, não podem nos limitar a “gestor de grupo”. A gente tem que somar tudo isso. Tem, sim, que ser gestor, mas também tem que ter conhecimento”, afirmou.

Em seguida, finalizou: “Hoje o futebol brasileiro, no nível que está, em uma competição como o Brasileiro, que tem grandes treinadores, tem que estar capacitado. Tive embates com grandes treinadores e enfrentei com igualdade. Se você não for inteligente você não consegue sentar numa cadeira dessa. Nós somos, sim, estudiosos. A gente estuda o futebol e vive o futebol. A gente faz o futebol da maneira que a gente entende e aprendeu com outros grandes treinadores. E vamos sempre melhorando, aprimorando e buscando a excelência, algo que eu faço a todo momento. Porque representamos um grande clube”.