O gosto da prata pode não ser dos melhores em determinadas situações. Depois da virada histórica contra o Japão, de superar novamente a toda-poderosa Itália, o grito de campeão ficou entalado na garganta das meninas da Seleção Brasileira. A atuação abaixo do esperado aliado a uma Sérvia imparável pôs fim ao sonho do inédito título do Mundial de vôlei feminino. Mas não apaga uma renovação bem conduzida, um time que exala união e companheirismo, além de inspirar boas perspectivas para o futuro do time brasileiro

Elenco da Seleção no Mundial disputado na Holanda e Polônia
© Foto: FIVBElenco da Seleção no Mundial disputado na Holanda e Polônia
Sob a batuta de José Roberto Guimarães, o elenco se transformou dos Jogos de Tóquio, do ano passado, para a Liga das Nações deste ano. Em dez meses, o time perdeu alguns pilares consolidados na Seleção, como Fernanda Garay, Natália e Camila Brait. Surgiram novatas, como Kisy, Júlia Bergman e Julia Kudiess. No Mundial, Tainara, Nyeme e Lorenne ganharam espaço. Aos olhos do público, nem mostravam que vestiam a camisa amarela pela primeira vez em um torneio deste nível. Metade do time que esteve em Tóquio se foi, mas o padrão e o nível dentro de quadra continuou intacto
Isso tem dedo, na verdade uma mão inteira de Zé Roberto. Que promove uma renovação inteligente mesclando com a experiência de Gabi, Carol, Pri Daroit, Carol Gattaz e Macris. Mas não somente isso. O encaixe das mais novas funcionou tão rápido por conta de uma palavra dita e repetida à exaustão pelas próprias jogadoras: união. Uma se doava pela outra em quadra e fora dela. Mostrava um grupo de ambiente leve e que se conhecia de longa data. Atestado pelo próprio Zé, que chegou a comentar um fato curioso: o de nunca ter visto a levantadora Macris defender tanto.
Contra o Japão nas quartas, o maior teste de fogo. Dois sets abaixo, um time irreconhecível e tudo dando certo para o lado da quadra das asiáticas. Uma queda mental não seria nada anormal. Vindas do banco, Roberta e Lorenne deram uma nova vida ao time brasileiro. Que renasceu, também com a presença de Rosamaria e Nyeme. Mudam os nomes, mas não se altera o conjunto. Um time na acepção da palavra. Com um poder de superação e uma personalidade marcante. 
 

Em quadra, a combinação do saque eficiente com o bloqueio calibrado se mostrou presente em diversos momentos. Carol brilhou no Mundial como a recordista de bloqueios da competição, se destacando na semifinal contra a Itália, com 10 pontos no fundamento. No ataque, Gabi liderou a pontuação brasileira na maioria das partidas, sendo uma bola de segurança para Macris/Roberta, sobretudo vinda do fundo. Variando, Tainara, Pri Daroit, Lorenne e Rosamaria registraram bons números no ataque ao longo da campanha. No entanto, ainda não há um "segundo" nome consistente para dividir a pontuação com frequência, além de Gabi, bem marcada na decisão contra a Sérvia. Destaques na Liga da Nações, Kisy teve o seu tempo de quadra reduzido e Júlia Bergmann não disputou o Mundial.

Entre as líberos, tanto Natinha como Nyeme mantiveram um bom nível, independente de quem estivesse atuando. Fica a dúvida sobre a continuidade da veterana Carol Gattaz, de 41 anos, que continua entregando uma boa regularidade e confiança. Jovens, as centrais Lorena e Julia Kudiess não tiveram muito espaço por conta das "Carols" e são apostas para o futuro. 
Futuro que já chegou na Seleção. Certamente, antes do esperado. O vice do Mundial não deve ser visto somente sob a ótica da partida contra a Sérvia. É um processo de reconstrução que ganhou mais um tijolo visando os Jogos de Paris 2024. O mestre de obras conhece como poucos o caminho. Zé sabe como explorar o potencial que existe e já estamos colhendo. A prata deve ser comemorada. Para conseguirmos apreciar ao máximo os feitos que estarão por vir deste time.