No dia 21 de março, Formiga, ex-atleta do São Paulo, revelou ao Uol os problemas internos que fizeram com que a jogadora desistisse da ideia de se aposentar dos gramados usando a camisa do clube que a revelou para o esporte mundial. Durante a entrevista, Formiga relatou a precariedade das condições de treino e recuperação para a equipe feminina do time.
![Getty Images. Formiga rebate afirmações do São Paulo](https://bolavip.com/__export/1680121409097/sites/bolavip/img/2023/03/29/gettyimages-660302578.jpg_1624932088.jpg)
Depois de 30 anos longe do time do coração, a jogadora conta que encontrou as mesmas condições que vivia no Clube nos anos 1990, sem se adaptar à evolução do futebol feminino nesse período. Formiga conta que a academia tinha um horário estabelecido para ser usado pelas atletas, além de apenas um turno disponível para fisioterapia.
Formiga machucou as duas coxas em sua segunda passagem pelo São Paulo e precisou de fisioterapia intensiva para se recuperar. Por conta da limitação de horários, ela relata que buscou tratamento particular como alternativa para voltar mais rápido aos gramados. "Ouvi do supervisor [Kaio Pereira, que já não está mais no clube] que eu não deveria fazer fisioterapia fora do São Paulo, que não era certo. Mas se só me ofereciam um período, eu ia fazer o quê? Ficar em casa dormindo? Eu queria voltar a treinar logo", revelou ao Uol.
A ex-atleta da Seleção Brasileira revela que seus pedidos por melhorias para a equipe feminina eram recebidos com deboche por parte da supervisão. "Quando voltei ao São Paulo, foi algo absurdo. Um choque de realidade muito grande. Fiquei muito triste com o que vi. A gente juntava a galera para conversar e debochavam quando eu sugeria melhorias. A estrutura que dão até hoje para o futebol feminino não é boa. Não é bacana", complementa.
"Vi muitas meninas rompendo o ligamento do joelho por causa do gramado sintético. Não tem como você treinar a semana toda no sintético para chegar no fim de semana e jogar num campo. Tem uma diferença grande, e é o que acontece ali. No campo, você escorrega. É difícil de acostumar. E o clube não oferece sequer uma chuteira de society para elas treinarem. Eu sou cascuda, estou acostumada, então não me prejudicava. Mas eu via as meninas sofrendo. E não imaginava que ainda hoje tudo isso aconteceria. Estamos num momento em que não podemos dar passos para trás. Daqui para frente, tem que ser só melhoria", disse a jogadora.
Colega de seleção e atualmente no Santos, Cristiane usou suas redes sociais para salientar o relato de Formiga, revelando que, quando teve sua passagem pelo São Paulo, o cenário foi o mesmo apresentado pela veterana. Cristiane deixou o Tricolor em 2019 sob maus termos com a gestão da equipe. Confira o posicionamento da atacante abaixo.
Nesta quarta-feira (29), Formiga voltou a falar sobre a experiência que viveu em sua segunda passagem pelo Tricolor, e ainda ressaltou que a realidade não fica dentro apenas dos muros do clube paulista. "É a estrutura. É campo, academia, é você ter uma nutricionista, fisioterapia, não só um período. É poder escutar atleta para buscar melhorias, isso não acontece. Muitas vezes, nós levamos porta na cara. Não é só o São Paulo, outros clubes passam por essa situação. Então, não adianta um presidente ou um diretor querer, às vezes, ameaçar as atletas. Quando eu saí do PSG e voltei para o Brasil, eu achei que a situação poderia estar melhor. Na década de 90, a gente tinha mais coisas do que tem hoje dentro desse Cube. Para mim, é inadmissível você chegar em uma equipe de camisa e não ter uma academia decente para treinar", salientou Formiga.