O São Paulo vive dias de forte turbulência política após a denúncia de suposta comercialização irregular de camarotes no Morumbis. Em entrevista ao ge, o CEO do clube, Marcio Carlomagno, falou abertamente sobre o caso e adotou um tom de indignação ao comentar o episódio que ganhou repercussão nacional. O dirigente afirmou que seu sentimento é de “revolta e tristeza” diante do impacto causado à imagem do clube.

Carlomagno confirmou que, a pedido de Mara Casares, diretora feminina, cultural e de eventos, autorizou a cessão do camarote da presidência para o show da cantora Shakira. Segundo ele, porém, não houve qualquer permissão para que o espaço fosse comercializado, nem orientação para exploração financeira do local. O dirigente destacou que a autorização era apenas para uso institucional.
“Meu sentimento é de revolta e tristeza. Basicamente é isso. Meu sentimento é esse hoje (…). “Não ganhei dinheiro. A única coisa que ganhei foi um grande problema para a gente resolver. Sou um funcionário de carreira aqui. Não sou um ente político. Muitas vezes sou confundido com um ente político, mas sou funcionário. Sou um funcionário de alto escalação que vem trabalhando de forma incessante, insana para que o São Paulo consiga o superávit, chegue a uma receita deu 1 bilhão e diminua o endividamento. Fizemos varias ações para que o São Paulo melhorasse a governança. Se, em algum momento, algo respingar em mim diretamente, eu sou o primeiro a pedir a licença do cargo. Mas, no momento, não tem. É um áudio em que eu sou citado, não vou nem falar que sou vitima, porque vitima é o São Paulo. Mas é um áudio no qual eu sou citado e tenho o entendimento que usaram meu nome como ferramenta de pressão”, disse ao GE.
A situação, segundo o CEO, saiu do controle no próprio dia do evento. Ele afirma que tomou conhecimento da comercialização após uma confusão envolvendo ingressos e a empresa que havia adquirido o espaço. A partir desse momento, o São Paulo passou a tratar o tema internamente como um problema grave de governança.
Decisão e mudança de postura
Diante da descoberta, Marcio Carlomagno afirma que proibiu imediatamente a cessão do camarote da presidência para outros eventos no Morumbis ao longo de 2025. A medida, segundo ele, foi preventiva e buscou evitar novos desgastes ao clube em meio a um cenário já delicado nos bastidores políticos e administrativos.
Apesar disso, nenhuma medida punitiva foi tomada contra Mara Casares naquele momento. O dirigente explicou que a prioridade inicial era conter o dano institucional e compreender exatamente o que havia ocorrido, antes de qualquer decisão mais dura. Internamente, o caso passou a ser tratado com cautela.
Carlomagno também negou de forma categórica ter recebido qualquer valor relacionado ao episódio. Segundo ele, não houve benefício financeiro, vantagem pessoal ou participação em qualquer tipo de negociação envolvendo camarotes ou ingressos no estádio do São Paulo.
Nome citado e pressão indevida
O CEO revelou ainda que ficou incomodado com o fato de seu nome ter sido citado em áudios divulgados publicamente. Para ele, a menção foi feita de forma indevida e teria como objetivo pressionar Rita de Cássia Adriana Prado, intermediária do caso, a retirar um processo judicial que poderia expor o clube nos noticiários.
Carlomagno reforçou que é funcionário de carreira do São Paulo e não um agente político. Segundo ele, existe uma confusão recorrente sobre seu papel dentro do clube, mas sua atuação sempre esteve ligada à gestão, à governança e à busca por equilíbrio financeiro, não a disputas de poder.
O dirigente afirmou que, se em algum momento houver qualquer comprovação de envolvimento direto de sua parte, será o primeiro a pedir licença do cargo. No entanto, garante que, até agora, trata-se apenas de um áudio em que foi citado sem ter participado dos atos descritos.
Impacto institucional e próximos passos
Para Marcio Carlomagno, o maior prejudicado em toda a situação é o próprio São Paulo. Ele afirmou que o clube vinha avançando em metas importantes, como superávit financeiro, aumento de receita e redução do endividamento, e que o episódio gera um desgaste que foge completamente desse planejamento.
O caso segue sob apuração interna, enquanto conselheiros e grupos políticos se movimentam nos bastidores. A diretoria entende que a transparência será fundamental para preservar a credibilidade do clube diante da torcida e do mercado.
Nos corredores do Morumbis, a avaliação é de que o desfecho do episódio pode influenciar diretamente o futuro político do São Paulo, inclusive com reflexos em possíveis mudanças na estrutura de comando e na antecipação do processo eleitoral.