As fichas improvisadas
“O meu tio perdeu uma fazenda no poker”, certeza que você já ouviu essa frase de alguém. O mais nobre dos jogos de cartas é uma atividade fascinante, mas também traz aquela sensação de perigo iminente. O difícil é perder uma fazenda jogando alguns centavos, ou ainda quando as fichas são pedaços de feijão ou macarrão cru.
Eu comecei a jogar poker assim, com os amigos do colégio, improvisando as fichas de qualquer maneira e sem envolver dinheiro algum. Aqui peço desculpas ao amigo leitor por me transportar para o texto – foi só essa vez – a real é que este humilde redator também se aventura nas mesas de baralho e o começo dele foi igualzinho ao de muitos profissionais.
Antes dos craques do nosso esquadrão rodarem o mundo em salões luxuosos, onde as mesas de transmissão parecem verdadeiros estúdios e o barulho ininterrupto de uma ficha batendo na outra forma um tilintar uníssono e viciante – um som melhor do que qualquer orquestra. Todos jogaram poker por pura e simples diversão, uma noite entre amigos ou familiares.
Embora no Brasil o nosso joguinho demorou para ser difundido – a grande maioria dos jovens sempre optou pelo truco. Quem experimenta a sensação de formar um “Full House” (uma trinca e um par), passar um grande blefe, ou ainda vencer aquela mão improvável, acaba sendo picado pelo mosquitinho do esporte da mente.
Jogo não, esporte por favor
Isso mesmo, o poker é um esporte da mente. A discussão é grande, mas há uma década a atividade ganhou esse status, faz parte inclusive da IMSA (International Mind Sports Association) e a modalidade “Match Poker” briga inclusive para entrar nas olimpíadas. Será que algum medalhista já perdeu uma fazenda com o esporte dele?
É claro que não podemos endeusar o jogo. Ele tem perigos sim. É preciso respeitar, estudar estratégias, as jogadas mais positivas ao longo prazo – um dos grandes segredos é esse tal longo prazo, que pode ser muito longo, viu. Ah, o controle emocional também é peça chave e pode perguntar para qualquer profissional uma dica e terá a certeza que ele vai abordar a questão do gerenciamento de “bankroll”.
Não invista o que não pode perder
“Se você não pode queimar uma nota de cem dólares, não pode jogar poker”, eu não sei ao certo quem disse isso, talvez tenha sido o Phil Ivey, mas pode ser uma invenção que li em algum lugar. A verdade é que essa frase é muito bem apropriada, por que na grande maioria das vezes, até mesmo os melhores jogadores vão sair derrotados.
Justamente por isso, os valores investidos no esporte da mente não podem ser significativos para você. Se o teu tio perdeu uma fazenda no poker, não tem o menor problema se ele tem outras cem mil. Quem sabe ele não ganhou umas 15 ou 20 também? O universo do baralho é fantástico, cheio de adrenalina e novidades a cada rodada, mas como em qualquer atividade possui as regrinhas fundamentais para o sucesso e a primeira delas começou com a diversão.