No meio de um agitado dia político, fomos surpreendidos por uma nova MP do Governo Federal que agora prevê que os clubes mandantes são responsáveis por negociar individualmente seus direitos de transmissão com as emissoras. É válido lembrar que os contratos vigentes terão de ser cumpridos e a MP dependede aprovação em outros poderes.
O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, se mostrou feliz com a oportunidade e falou de maior chance de negociação. O clube anunciou uma Super APP, desejo antigo da diretoria, que contará com loja virtual, vídeos, transmissões pela TV Leão e mais.
Depois de formar uma Liga para negociar os direitos de transmissão internacionais, parece um tamanho retrocesso. A forma é parecida com o que foi feito nos últimos anos, tendo clubes como o próprio Fortaleza fechando com a Turner (e tendo diversos problemas) e outros com o grupo Globosat. O modelo proposto parece com a Liga MX, do futebol mexicano, em que16 emissoras transmitem os jogos dos 18 clubes. Um terço desses clubes sequer conseguiu firmar direitos com emissoras abertas, as diferenças chegam a ser 200-300 milhões de pesos por equipe, isso só em direitos nacionais.
No Brasil, as cotas já são absurdamente discrepantes, a negociação individual e não em forma de liga só parece prejudicar os pequenos e mata qualquer ideia de divisão igualitária de cotas. Enquanto a Premier League faz isso e outras ligas seguem o modelo, vamos na contramão em nome do streaming, sem sequer ter tecnologia ou alcance populacional necessário para lá chegar.
O Fortaleza certamente verá vantagem nos Estaduais, algo que provavelmente irá sufocar ainda mais as pequenas cotas dos clubes menores. As Federações também saem enfraquecidas e provavelmente não irão abrir mão da publicidade ou irão pedir parte dos direitos de venda dos clubes, outro fator que deve ser melhor discutido.
Clubes como Flamengo, Corinthians e outros do famoso G12 irão se beneficiar certamente, já que poderão negociar o que acham justo sem se preocupar com os adversários,o que pode e deve abrir ainda um maior abismo financeiro de cotas. O Fortaleza pode até ganhar mais dinheiro, a questão é que os adversários também e a divisão igualitária se torna distante, e a desvantagem financeira também.
Se o clube planeja transmissões por streaming tem que estar preparado para um alto investimento com câmeras, equipe, operador e um servidor potente. Streaming não é live em redes sociais para 10 mil pessoas, é um serviço e caro em manutenção. O Fortaleza tem condições de fazê-lo? Sem dúvidas. Com o poder de organização atual e o investimento correto tem a chance de fazer algo bom e de qualidade, mas primeiramente precisatestar o serviço em jogos menores, com uma parceria com a FCF TV, transmitindo amistosos, futebol feminino, da base, até para divulgar áreas não tão vistas e criar uma cultura, um gosto por isso.