Tinha por volta dos 7 ou 8 anos quando fui aos meus primeiros jogos do Fortaleza. Lembro fielmente de ir com meu tio Orlando para as partidas no PV. Parávamos no sítio, que para os mais novos que não conhecem era literalmente um sítio que ficava na Avenida dos Expedicionários, onde faziam de estacionamento.
Lembro de bem jovemdescer a Rua Costa Sousa até chegaràpracinha que fazia esquina com a Marechal Deodoro, dos espetinhos, das camisas falsificadas à venda no varal, de entrar pelos portões gradeados do PV, de tomar Coca-Cola gelada providenciada pelo saudoso Rato, de entrar em campo com meus ídolos, modestos eles.
No fim dos anos 1990, nossos sonhos eram modestos comparados ao período similar que vivemos nos anos 2010. Chegaràfinal do Estadual era feito a se comemorar, mesmo quando perdíamos cruelmente o título no último minuto de prorrogação para nosso maior rival, me dando a primeira grande decepção no futebol, em 1997.
Na última quinta-feira (25), o Liverpool, depois de trinta anos de espera,voltou a vencer o Campeonato Inglês. Era com distância o maior vencedor da sua liga, permaneceu gigante, levantou 17 títulos nesse período, entre eles duas Champions, uma Copa UEFA (atual Liga Europa), um Mundial de Clubes, três Supercopas Europeias, além de dez torneios nacionais divididos entre a Supercopa Inglesa e as duas Copas nacionais. Teve grandes jogadores como Michael Owen, Steven Gerrard, Fernando Torres, Luis Suárez, bateu na trave várias vezes, viu o título escapar por suas mãos, virou uma obsessão maior até que a principal competição de clubes do planeta.
Ao fim do jogo do Manchester City, os trintas anos de espera acabaram. O primeiro vídeo que vi foi do B/R Football, um pequeno desenho de um pouco mais de 1 minuto, de um garoto e seu pai, e o caminho até o esperado título inglês. Foi impossível segurar as lágrimas. Em seguida, na própria página oficial do Liverpool, um monólogo inicial deJurgen Klopp que exalta o hino do clube ‘You Will Never Walk Alone’ (Nunca caminharás sozinho), com imagens de títulos do passado, dos grandes craques e técnicos dos últimos trinta anos, seu respeitoaeles por tentarem o sonho, além de imagens da campanha vencedora.
Posso estar alongando um pouco, mas é difícil não lembrar dos anos difíceis em que todo torcedor tricolor viveu na década passada e, para os que são filhos dos anos 90, uma obsessão enorme que era superar a Série C. Me vieram as lembranças do Luca garoto, daquelas que iam pro jogo comigo,que a vida injusta aquela que nos tirou do convívio e não puderam acompanhar o que vivemos hoje. É inacreditável até imaginar que,apesar de termos vivido um inferno, crescemos no período de maior dificuldade do clube.
A torcida cresceu, ficou mais intensa, mais apaixonada, encarnou sua canção ‘Fortaleza Eterno Amor’ e cumpriu, nunca abandonou e sempre vibrou pelo clube. Colocou nos braços e apoiou contra tudo e contra todos. Ver vitórias como a do Liverpool me relembram a essência de amar um clube, me lembra o porquêdo Fortaleza ser o meu clube de coração. Não foi um canal de televisão, não foi só a família, foi um sentimento intenso que cresceu ainda mais quando ele precisou. Esse é o diferencial do torcedor tricolor, é por isso que adquirimos a capacidade de crescer mesmo no pior momento. Isso é Fortaleza!