El Clásico, Santiago Bernabéu, 23 de abril de 2017. O placar marcava 2 a 2, e o árbitro havia adicionado mais três minutos à partida. Sergi Roberto vem de trás, arranca até o campo de ataque, e toca para André Gomes. O português abre para Jordi Alba, que serve Messi. A finalização é de primeira, no canto direito de Navas. Vitória do Barcelona.
Porém, o que ficou marcado não foi o gol, tampouco a vitórianos acréscimos sobre o maior rival em pleno Santiago Bernabéu. A comemoração, na qual Messi mostra a camisa 10 para a torcida do Real Madrid, ficou eternizada. Não só na mente dos torcedores do Barça, como na pele de um brasileiro: Igor Magalhães, profissional do corpo de bombeiros,33 anos, de Brasília.
Em 2019, ele fez a tatuagem representando o momento da comemoração de Messi. Ele mostrou a tatuagem a um repórter argentino que acompanhava a delegação argentina em Brasília. O camisa 10 viu a publicação da TyC Sports, televisão local, e se dispôs a fazer um encontro com Igor, autografando logo abaixo do desenho feito pelo tatuador Tony Vilella, de Porto Alegre. O Bolavip Brasil conversou com Igor a respeito do assunto.
Desde quando você é fã do Messi? Você tem alguma paixão pelo Barcelona ou pela seleção argentina?
Demorou um tempo, mas a admiração vem desde o início. Primeiro pelo Barcelona, que eu sempre gostei. Desde novo, eu gostava de ver o Romário jogar, sempre gostei das cores do time. Uma coisa foi levando à outra. Depois veio a era do Ronaldinho, em que ele conduziu o Barcelona a muitos títulos, e depois o Messi assumiu naturalmente a posição dele, pegando a camisa 10 e sendo o grande cara. Também teve aquele início na seleção argentina, no mundial sub-20. Vendo o que ele fazia novinho, dava para perceber que ele era acima da média. Depois teve a Copa do Mundo, em que o Pekerman não colocava o cara… Mas, fã mesmo, de acompanhar, foi em 2009 e 2010. Não perco um jogo do Barcelona e da seleção argentina.
De acordo com o seu perfil no Instagram, você é são-paulino. Desenvolveu uma paixão maior pelo Barcelona e pela seleção argentina do que pelo São Paulo por causa do Messi?
Eu vivi todos os períodos de glória do São Paulo, e agora eu peguei o momento só de seca, de o time perder, de ter só decepção. Já fui mais fanático pelo São Paulo, mas hoje eu sou um torcedor menos passional de um clube brasileiro, não consigo ser fanático. Eu assisto aos jogos, não vou deixar de torcer nunca, mas aquela paixão que eu já tive, acho que não terei mais. Sai um gol e já estou preocupado em tomar outro gol. Analiso mais do que vibro. O Messi é o único jogador que me faz parar na frente da televisão e assistir ao jogo do começo ao fim, sem mexer no celular. No futebol brasileiro, não tem esse grande ídolo, já foi assim com o Rogério Ceni, de quem já fui bastante fã, mas com o Messi é diferente. Faço questão de não perder os jogos do Messi porque eu sei que está acabando a carreira dele.
Na Copa do Mundo de 2014, a Argentina jogou em Brasília contra a Bélgica…
Eu fui, estava no meio da torcida argentina.
Foi a primeira vez que você viu o Messi jogar? Como foi aquele dia?
Foi a primeira vez. Eu comprei o ingresso muito tempo antes, tinha intuição de que a Argentina iria classificar e jogaria aqui em Brasília. A ansiedade começou muito antes, porque a Argentina tinha que se classificar em primeiro. Acabou que deu certo, fui para o estádio, levei a minha camisa da Argentina. Desde o aquecimento, eu já ficava maravilhado com ele lançando a bola, trocando passes com o Higuaín, com todo mundo. Ali eu já estava tremendo. No jogo, então, mais ainda, com a torcida inclusive.
O que você viu de diferente no Messi da TV para o ao vivo?
A tranquilidade que ele tem para jogar futebol. Parece que ele sabe o que vai fazer, ele não se desgasta, é muito objetivo, não faz nada de forma desnecessária. Ele não é aquele cara que vai “pentear” a bola mais que os outros, dar um drible para trás desnecessário. O jogo dele é muito objetivo, busca o coletivo o tempo todo, usando a genialidade dele para achar os atalhos e conquistar as vitórias.
A sua tatuagem foi do gol contra o Real Madrid em 2017, em que ele mostrou a camisa para a torcida. É o momento mais emblemático para você?
Aquele foi o mais icônico de todos. Só superaria se ele levantasse a Copa do Mundo aqui no Brasil. Inclusive essa ideia da tatuagem foi por causa desse momento. Eu acreditava que a Argentina iria ganhar e fiz uma promessa. Para ele, acabaria todos os argumentos contrários ao ganhar uma Copa, com o Galvão (Bueno) narrando. Como não aconteceu esse momento, o gol de 2017 foi o que eu explodi, desde a arrancada do Sergi Roberto. A forma com que o Messi corre para bola, bate nela, no minuto que aconteceu, a comemoração… É histórico.
Que mensagem foi passada pelo Messi quando ele mostrou a camisa para a torcida do Real Madrid, em sua opinião?
É mais ou menos o que o Cristiano faz do “eu estou aqui”. Pode ser um ato de rebeldia, talvez. É difícil achar uma palavra. Ele mostrou que tem que respeitar, não sei dizer.
Pode falar mais de como surgiu a ideia da tatuagem e como foi o planejamento para fazê-la?
Eu pesquisei primeiro aqui em Brasília, buscando a imagem certa. Eu tinha pensado em outro momento, mas não tinha como não ser aquele (gol contra o Real Madrid, em 2017). Conversei com vários tatuadores aqui, mas não levei muita fé. Comecei a pesquisar em outros lugares, avaliando o custo-benefício, e alguém que realmente comprasse a ideia. O tatuador de Porto Alegre, o Tony (Vilella), na hora em que viu o desenho, me mandou um áudio dizendo: ‘Vamos fazer’. Até me deu um desconto. Marquei um, dois meses antes, comprei a passagem e fui.
Como foi para explicar no trabalho que você iria para Porto Alegre fazer a tatuagem?
Só alguns amigos mais íntimos sabiam, não contei para quase ninguém, guardava mais para mim. Só coloquei nos stories quando o tatuador terminou, para dar os créditos. As pessoas sabem que eu tenho, mas não é algo que eu fico mostrando. O que aconteceu no hotel foi algo meio que de impulso. Quando o jornalista chegou falando um espanhol difícil de entender, eu fiquei sem saber o que fazer. Depois, mostrei a tatuagem e aconteceu tudo isso.
Como foi a ideia de pedir para o Messi autografar?
Eu fui ao hotel querendo uma foto dele, estava bom demais. Nem pensei em autógrafo. O que aconteceu foi que ele respondeu na postagem da TV da Argentina (TyC Sports), que queria me conhecer e assinar a tatuagem. Na hora que ele escreveu isso, foi para tudo quanto é canto, ganhou força. Aí eu tatuei para eternizar.
Teve algum episódio na sua vida pessoal e profissional que supere este momento?
Incomparável. Nada do que aconteceu na minha vida chega perto disso. Não fui pai ainda… Essa emoção pura, explosiva, nunca aconteceu.
Como você enxerga a indefinição da carreira do Messi? Vai torcer para ele onde estiver?
Eu gosto muito do Barcelona, quero muito que ele fique lá. Apesar de saber que o clube não está, nos últimos anos, no nível competitivo que ele merece. Mas lá ele se encontra, gosto muito da lealdade de um jogador com um determinado clube. Ficar lá por mais tempo seria bom, até porque o Agüero foi contratado, ele está se dando bem com o Pedri, De Jong… Eu acredito que ele fica, mas se sair para qualquer time, vou torcer para ele se dar bem.
Ele está prestes a fazer 34 anos (Messi faz aniversário em 24 de junho). Como é a ideia de que a carreira dele está no fim?
A gente está sendo preparado há tempos. Todas as mudanças que ele sofreu ao longo da idade, se adaptando às posições do campo, correndo menos… O Messi é genial, pode jogar até os 40. Mas aquele cara das arrancadas, dos dribles, talvez tenha ficado no passado, e agora ele é um cara mais do passe, do drible curto… É triste, mas todos os jogadores encerram a carreira um dia.
Você vê a Argentina com condições de vencer essa Copa América? Ela é a principal favorita?
O Brasil com certeza tem uma seleção mais preparada, mais sólida. Ele sobra aqui no continente, em termos de organização, nomes. Até sem o Neymar conseguiria chegar longe, como em 2019. É uma seleção muito forte, complicada de se enfrentar. Mas tenho gostado bastante do desempenho da Argentina, está com bons nomes, (Emiliano) Martínez no gol, que eu gosto muito. Porém, os problemas defensivos ainda acontecem. Comete alguns vacilos que a seleção brasileira não dá.
Certamente, muita gente falou contigo pelo Instagram. Como foi a reação, em média, do público?
As pessoas que chegam no Instagram, e que mandam mensagem, estão 100% apoiando o que eu fiz. Acho que 90% dos que mandam são argentinos, mas muitos brasileiros falaram: “parabéns, você zerou a vida”. Os argentinos disseram até para pegar a nacionalidade argentina. Não tem nada ruim. Mas nem estou olhando muito os comentários das redes sociais, em blogs, etc.
A Argentina pode jogar pelo menos mais duas vezes em Brasília na fase final. Você pretende fazer alguma coisa para acompanhar os passos do Messi, mesmo com a pandemia?
Sei que o Messi é um cara reservado. Não quero forçar mais nada, o que ele já fez por mim foi o máximo. Se os estádios estivessem liberados, eu tentaria assistir a um jogo. Mas eu gosto muito ver pela TV, sem muvuca. Sou discreto também. Aquilo foi o máximo, não precisa de mais nada.
Para você, quem foi melhor: Messi ou Maradona?
Eu não acompanhei a carreira do Maradona, vi tudo o que poderia no YouTube. Ele é um símbolo, representa mais do que um jogador de futebol. Passar por cima disso, principalmente para quem acompanhou o Maradona, é muito difícil. Mas as pessoas estão enxergando o Messi de outra forma. Talvez o Messi tenha feito mais pela seleção argentina no geral, mas o que o Maradona ganhou talvez supere, é muito difícil de bater. O que o Maradona fez, é muito difícil de superar. Talvez isso acontecesse se o Messi levantasse a Copa de 2014.
Agora é torcer para ele vir jogar uma Libertadores pelo Newell’s Old Boys…
Se ele vier aqui, pode ter certeza que eu vou ao estádio vê-lo.