Uma década sem Palestra Itália. Situação paradoxal até, pois esta ausência não significa a falta de um estádio para o Palmeiras. Muito pelo contrário. O Allianz Parque chegou com característica acolhedora, moderna e já como uma referência para a cidade de São Paulo quanto a entretenimento, o que orgulha ainda mais o palestrino que já constrói sua história de vitórias e paixões há 5 anos e meio na nova casa.

Estádio Palestra Itália foi palco das maiores conquistas do Palmeiras em seus mais de 100 anos (Foto: Divulgação/Palmeiras)
Estádio Palestra Itália foi palco das maiores conquistas do Palmeiras em seus mais de 100 anos (Foto: Divulgação/Palmeiras)

Há exatos 10 anos, o Palmeiras se despedia de seu estádio primordial ao realizar um amistoso no dia 09/07/2010 contra o Boca Juniors. Desta maneira encerrava o ciclo que começara em 1917, com a goleada de 5 a 1 sobre o Internacional-SP pelo Campeonato Paulista daquele ano. Aqui estendemos a citação da estreia palestrina para poucos dias depois, quando no primeiro dérbi da história o Palestra batia o rival citadino por 3 a 0.

A área, que pertencia à Companhia Antarctica Paulista e foi aberta ao público em 1902 para se tornar na época o maior espaço de lazer da cidade, sediara a primeira partida de futebol oficial do Brasil. Após uma empreitada considerada ousada, chamada “Loucura do Século” por muitos, a comunidade Italiana em um esforço conjunto que contou inclusive com o auxílio do Conde Matarazzo, comprou o campo de futebol e grande parte do terreno da empresa de bebidas em abril de 1920.

Há 10 anos, o Palmeiras fazia sua último jogo no Palestra Itália, ou "Parque Antártica", como preferir (Foto: Divulgação/Palmeiras)

Como um passo gigantesco não só para seu status no momento, mas também para a trajetória de sua história, o Palestra Itália começou a planejar não só um campo de futebol, mas um local capaz de receber os imigrantes italianos em um espaço de conexão com sua cultura e com o futebol, paixão que já crescia no país.

E de 1920 a 2010 foi ali que a identidade palestrina foi construída. Dos acontecimentos mundiais que fizeram a instituição se transmutar em Palmeiras às vitórias homéricas, o Parque Antártica é a casa onde inúmeros craques se criaram e encantaram. Como toda casa, também assistiu a dissabores, inerentes a todos os esportes e trajetórias.

Mas no seu ambiente acolhedor, com seus jardins suspensos, marcou a alegria de uma torcida apaixonada. Foi no Parque Antártica, ou Estádio Palestra Itália, se preferir, que o Palmeiras sagrou-se a Libertadores de 1999 diante de 32.000 pessoas, porém trata-se de um dia que é possível afirmar que todos os palmeirenses do planeta estavam presentes no local, de maneira transcendental vivenciando este acontecimento que referencia de maneira plena o amor de vivenciar uma conquista em verde e branco.

Exemplos de catarse apoteótica se encontram aos montes na história deste Parque dos Sonhos, nome dado ao livro de autoria de Fernando Galuppo e José Ezequiel de Oliveira Filho. De maneira brilhante, os historiadores do clube jogam luz na história do Parque Antártica com um trabalho de rica pesquisa, farto de imagens que imortalizaram toda uma existência.

Para citar um destes momentos de “egrégora” palestrina, me vem à mente a espetacular virada do Palmeiras sobre o Flamengo pela Copa do Brasil de 1999. Em 10 minutos, três gols para deixar um estádio inteiro alucinado, capaz de cantar em emoção por horas após o término da partida. 

No Palestra Itália, o Palmeiras jogou mais de 1500 vezes, foram 1065 vitórias, 317 empates e 188 derrotas. Os atletas que mais atuaram no estádio representam suas gerações e momentos do Palmeiras. No TOP 5, estão: Marcos (1992/2011 - 212 jogos); Ademir da Guia (1961/1977 – 184 jogos); Heitor (1916/1931 – 171 jogos); Galeano (1989/1992 e 1996/2002 – 167 jogos) e Velloso (1988/1991, 1993, 1994/1999 – 153 jogos).

Em quase 20 anos de Palmeiras, São Marcos defendeu a camisa alviverde por 212 jogos (Foto: Divulgação/Palmeiras)

A lista de artilheiros do Parque Antártica também traz nomes de identificação com a instituição e ídolos de períodos que formam a epopeia palestina. Foram vibrados 3.693 gols palmeirenses. No topo, está Heitor, ícone palestrino que tem a fantástica façanha de também ser campeão do basquete do clube. O artilheiro marcou 175 gols, seguido por Caetano Imparato (1918/1927 – 72 gols), Luizinho Mesquita (1935/1941 – 65 gols) e Lara (1927/1938 – 61 gols).

Quem fecha a lista é ele mesmo, o centroavante que ressignificou toda uma geração. Dos 126 gols feitos pelo Matador com a camisa do Palmeiras, 54 foram no Palestra Itália.

Os novos tempos nos proporcionou o Allianz Parque, estádio de vanguarda em todos os sentidos: moderno, arena multiuso capaz de receber um mega evento Off Road ou o show de uma estrela do quilate do ex-beatle Paul McCartney. Com 6 anos de existência, a arena já começa a cravar momentos da história palmeirense, como o fato de jamais ter perdido para o rival da Vila Sônia (SPFC) na nova casa ou já ter sido o local implacável para adversários nas campanhas dos Brasileiros de 2016 e 2018.

Na cultura, assim como na vida e certamente como também no futebol, o legado passado de geração a geração depende da permanência e continuidade dos elementos que formam o DNA identitário. Desta forma, o Palmeiras tem em cada coração de seus torcedores, a permanência dos momentos cravados na eternidade, vividos no Parque Antártica. Entretanto, no Allianz Parque, o Palmeiras tem a continuidade de sua gloriosa jornada.