Na madrugada desta quinta-feira (24), o mundo recebeu a notícia que a Rússia havia invadido o território ucraniano e ainda bombardeado a nação. Devido a tensão no país, o Campeonato Ucraniano foi oficialmente suspenso. Situação que foi informada em um curto comunicado emitido no site oficial da organizadora da competição, que atribuiu a decisão a lei marcial imposta pela Ucrânia. “Devido à imposição da lei marcial na Ucrânia, o Campeonato Ucraniano está suspenso”, anunciou a Premier League Ucraniana (UPL).
Desde 2014, ano do início dos conflitos no leste da Ucrânia, quando grupos pró-Rússia se rebelaram contra o governo ucraniano, o Shakhtar passou a ser um clube refugiado, sem direito a retornar para sua cidade, um dos epicentros do conflito. Agora, com a Rússia oficialmente invadindo o território ucraniano, a situação vem provocando ainda mais tensão entre brasileiros que atuam no país. Os jogadores do Brasil, que atuam no Shakhtar Donetske e no Dynamo de Kiev, publicaram um vídeo nas redes sociais no qual informam a sua situação no momento e pedem ajuda ao governo brasileiro para deixar o país em segurança.
“Fala galera! Estamos todos aqui reunidos, jogadores do Shakhtare e do Dynamo com as nossas famílias e a gente está hospedado em um hotel devido toda a situação, e a gente está aqui pedindo ajuda de vocês através desse vídeo, tendo em vista que devido à falta de combustível na cidade, fronteira fechada, espaço aéreo fechado, então a gente não tem como sair. A gente pede muito apoio ao governo do Brasil que possa nos ajudar, espero que vocês possam nos ajudar a promover esse vídeo e passem para o máximo de pessoas possível.”, diz um dos jogadores no vídeo.
Os atletas estão alojados em um hotel na capital ucraniana com suas famílias. Uma das mulheres afirmou que eles deixaram suas casas às pressas para o hotel após o início dos bombardeios das tropas militares russas e pediu por ajuda, principalmente por conta das crianças. “Nós mulheres estamos com os filhos, com as crianças e a gente está se sentindo um pouco abandonado, porque realmente a gente não tem o que fazer, não sabe o que fazer. As notícias não chegam até nós a não ser do Brasil e a gente faz um apelo para vocês, até por nossas crianças. Cada um saiu da sua casa correndo para vir para o hotel, só temos uma peça de roupa, não sabemos se tem comida, como que vai ser, então a gente queria pedir ajuda para como vai ficar a nossa situação.”, disse.
Após o primeiro vídeo viralizar, outros brasileiros passaram a se manifestar nas redes sociais a cerca da situação. Vale destacar que os clubes haviam solicitado anteriormente que os atletas não se manifestassem sobre as tensões vividas no país, principalmente devido a presença de atletas russos no elenco dos clubes, situação confirmada pelo assessor de alguns desses atletas que foram procurados pela reportagem do Bolavip Brasil. O assessor informou também que os atletas estão temerosos, ansiosos para retornar ao Brasil e que o contato com os atletas está limitado tendo em vista que a internet “foi cortada” na região em que os jogadores estão.
Apesar da solicitação dos clubes pelo silencio dos jogadores, os atletas se viram obrigados a se manifestar após a invasão, tendo em vista a necessidade de conseguir apoio do governo brasileiro para deixar o país. Outro detalhe é que o acesso a informação também está limitado, fato que veio à tona após a publicação do vídeo dos jogadores. Dentre os atletas que decidiram se manifestar sobre o assunto estão o trio de brasileiros que atuam no Metalist 1925, Marlyson, Fabinho e Derek.
“Fala rapaziada! Quem tá falando aqui é o Fabinho também jogador do Metalist 1925. Estou passando pra pedir ajuda de vocês estão ajudando momento crítico aqui no país como todos sabem e nós queremos sair daqui com segurança, até porque a nossa família também está preocupada com a gente e a gente não tem notícia de nada. Então eu peço que vocês compartilhem esse vídeo aí, que ele possa chegar nas autoridades do Brasil e que a gente consiga sair daqui com segurança, não só nós, mas todos jogadores brasileiros que atuam aqui no país.”, disse Fabinho.
Derek e Marlyson destacaram a necessidade de deixar o país o mais depressa possível. “Estou passando para fazer um apelo a vocês para que vocês possam fazer esse vídeo chegar nas autoridades do Brasil para que a gente possa sair daqui em segurança o mais rápido possível, para estar perto das pessoas que a gente ama.”, disse Marlyson.
O atacante Marlyson, chegou ao país em agosto de 2021 após ser emprestado pelo Figueirense ao Metalist, e comentou a situação dos atletas em entrevista à CBN Diário, de Florianópolis, na manhã desta quinta-feira (24). “A situação não é nada boa. A gente tem bastante notícias do Brasil, pois daqui é mais difícil por estar tudo em russo. Tem alguns meios de comunicação que mostram que a situação não está nada fácil. Aqui onde estou, até então, a cidade está normal. As pessoal se locomovem normalmente, mas gente que não é do país tem muito medo. Estamos bem aflitos, espero que a gente possa sair do país logo”, comentou.
Diante do apelo dos jogadores nas redes sociais, Norton Rapesta, embaixador do Brasil em Kiev, disse à BBC News Brasil, nesta quinta-feira (24), que os brasileiros que estão nas regiões afetadas pelo conflito serão evacuados, porém não detalhou como será feita essa retirada. “Nós vamos evacuar os brasileiros. Jogadores de futebol. Todo mundo”, afirmou o embaixador por telefone
Em nota à imprensa publicada no site oficial do governo brasileiro, a Embaixada do Brasil em Kiev afirmou que “permanece aberta e dedicada, com prioridade, desde o agravamento das tensões, à proteção dos cerca de 500 cidadãos brasileiros na Ucrânia. A Embaixada vem renovando o cadastramento dos brasileiros e tem-lhes transmitido orientações, por meio de mensagens em seu site (kiev.itamaraty.gov.br), em sua página no Facebook (https:\/\/www.facebook.com/Brasil.Ukraine) e em grupo do aplicativo Telegram (https:\/\/t.me/s/embaixadabrasilkiev).”.
Além disso foi solicitado que os brasileiros em território ucraniano, em particular aos que se encontrem no leste do país e outras regiões em condições de conflito, que mantenham contato diário com a Embaixada. Caso necessitem de auxílio para deixar a Ucrânia, devem seguir as orientações da Embaixada e, no caso dos residentes no Leste, deslocar-se para Kiev assim que as condições de segurança o permitam. Em casos de emergência consular de brasileiros na Ucrânia e seus familiares, poderão entrar em contato o número de telefone de plantão consular +55 61 98260-0610, que foi disponibilizado pelo Itamaraty.
Nesta temporada, após a última janela de transferências, o Campeonato Ucraniano conta com 30 jogadores brasileiros – levantamento feito pelo GE que fez esta conta e mostrou que 30% dos atletas no torneio não são ucranianos. Atletas vivem apreensão em relação aos próximos passos do conflito no país; brasileiros, inclusive, se reuniram em hotel, em Kiev, pedindo ajuda à embaixada do Brasil.
Outros desdobramentos
O Dínamo de Kiev suspendeu negociações com o São Paulo após a Rússia invadir a Ucrânia nesta quinta-feira (24). O clube havia feito uma proposta para Rodrigo Nestor, mas os valores já não agradaram e a diretoria do tricolor recusou a primeira oferta. Antes, o clube também havia sondado Igor Gomes, em negociação agora totalmente descartada por representantes do meia. A expectativa era de que nos próximos dias houvesse uma nova proposta do Dínamo por Rodrigo Nestor, mas a tensão no país inviabilizou a continuidade da negociação.
O Schalke 04 anunciou que removerá o logotipo de seu principal patrocinador – a maior empresa russa do ramo de energia. O nome da Gazprom será substituído pela inscrição do nome do clube já no confronto contra o Karlsruher, pela segunda divisão alemã, no sábado. “Após os recentes desenvolvimentos, o FC Schalke 04 decidiu remover o logotipo do principal patrocinador GAZPROM de suas camisas. Esta decisão foi tomada após discussões com a GAZPROM Germania. Ele será substituído por letras que dizem ‘Schalke 04’.”, disse a nota publicada no site oficial do clube