O futebol brasileiro pode em breve passar por mudanças em sua estrutura, isso porque os grandes clubes brasileiros vem se reunindo com o objetivo de discutir a criação de uma liga que possa gerir o Campeonato nacional que, no momento, tem todas as divisões sob chancela da CBF. Essa liga permitiria que os clubes fizessem reestruturações no calendário e os direitos de transmissão das partidas.
Na última terça-feira (15), os dirigentes de clubes das Séries A e B do Brasileirão estuveram reunidos com o presidente da LaLiga (Liga Espanhola de Futebol), Javier Tebas, e representantes das empresas XP Investimentos e Alvarez & Marsal, em São Paulo. Dos grandes clubes, apenas o Palmeiras não compareceu ao evento.
Na ocasião, Tebas apresentou uma proposta de como organizar e administrar a nova liga e detalhou como poderia ser feita a divisão de receita com direito de transmissão para a liga brasileira, baseando-se no modelo da Espanha e Inglaterra. De acordo com Tebas, o ideal para o Brasil seria 50% distribuído de forma igualitária, 25% de acordo com a performance, 25% de acordo com exposição e audiência (incluindo ocupação de estádios). No caso dos direitos de transmissão internacional, os recursos seriam distribuídos de forma igualitária.
O presidente da La Liga concedeu uma entrevista exclusiva ao GE, em que contou o que foi debatido na reunião e detalhou o projeto para a futura liga do Brasil. “Da nossa parte, transmitimos a experiência do que foi a LaLiga nos últimos anos, contamos como passamos de uma situação econômica gravíssima em 2013 para chegar em 2022 com um fundo de investimento como o CVC para investir na competição. Toda essa transição e os princípios básicos para conseguí-la. Creio que o futebol brasileiro pode fazer igual para se tornar um dos cinco ou seis campeonatos mais importantes do mundo.”, contou Javier Tebas.
O dirigente espanhol também explicou qual deve ser a prioridade dos clubes brasileiros. “Constituir uma liga, uma instituição em que estejam os clubes das Séries A e B, que tenha norma de governança, compliance e controle econômico. Essa é a prioridade mais a curto prazo. Se fizer isso a curto prazo, o segundo é o crescimento em valores de direitos de transmissão. E os fundos de investimento virão sozinhos. Mas, se não fizerem isso, eles não virão.”, disse.
Tebas ainda destacou que os clubes precisam se unir para aproveitar a oportunidade de crescer sem se preocupar tanto com a divisão do dinheiro. “ O que tem que fazer é que o dinheiro cresça. Agora já está decidida uma forma de repartição, pode ser melhor ou pior, mas não está mal. O importante é que esse dinheiro cresça, e sabemos que pode crescer. Não seria perdoável ao futebol brasileiro que não se aproveite suas oportunidades de crescer em direitos audiovisuais. Uma vez que sabemos que vai crescer, tem que variar um pouquinho o que se tem. Se eu fosse de um clube brasileiro, não me preocuparia em brigar agora por 3%. Eu me preocuparia com os 3.000% que há fora e não estão conseguindo. Digo fora do Brasil, a nível de direitos audiovisuais, patrocínios, de tudo. E tenho certeza que estão (perdendo) porque a gente está nessa indústria. Eu não me dedico a gerir clubes de futebol, me dedico a gerir competições, como a LaLiga, que crescemos. É isso que eles devem se convencer, que não se preocupem tanto com a divisão agora e, sim, com o que vamos crescer. É certo que vai crescer. Vai haver acordo de como repartir esse dinheiro? Não tenho a menor dúvida.”, pontuou Javier.
Javier também explicou o motivo pelo qual a La Liga se interessou na criação de uma liga no Brasil. “Desde anos atrás pensamos que queremos uma indústria de futebol profissional forte em todo o mundo. Não nos interessa campeonatos fracos, um Campeonato Italiano fraco, um Campeonato Francês fraco ou um futebol brasileiro fraco. Necessitamos de uma indústria forte porque se produz muito intercâmbio de recursos, jogadores e dinheiro entre as competições. Nossos clubes, não só os grandes, também os pequenos e médios saem beneficiados. Afinal, uma indústria global. É como se na União Europeia não interessasse que os polacos crescessem. Não gosto de ver competições que poderiam ser muito mais do que são porque não entendem bem a indústria ou são muito curto-prazistas.”, explicou.
Durante a entrevista, Tebas foi questionado se era possível fazer um paralelo do projeto para o futebol brasileiro com o trabalho feito pela La Liga no México e Equador. “No México nem tanto, mas, sim, em relação ao Equador, em que fizemos uma consultoria de tudo o que é relacionado a direitos audiovisuais, controle econômico, compliance. São os clubes que têm que decidir, eleger qual modelo querem para o futebol profissional brasileiro. O que eu disse a eles (dirigentes) é que temos uma oportunidade única no mundo. Há fundos que querem investir em competições, há uma disrupção no âmbito digital e, se você não está inserido, vai ficar para trás. O futebol brasileiro tem que se dar conta, eleger qual modelo quer para chegar a estar nessa tendência de crescimento. Sozinho não vai vir. E, se seguir igual, não vai vir. Isso é claro.”, respondeu.
Javier garantiu que a La Liga ajudaria i futebol brasileiro a captar recursos e sobre a ausência do Palmeiras na reunião, o mandatário explicou que o encontro é apenas o início do processo e que as equipes entenderão que projeto fará os clubes crescerem. Sobre o modelo ideal para a liga do futebol brasileiro, ele apresentou dois modelos a reportagem do GE.“O modelo é uma liga que depende da federação, mas a primeira e a segunda divisão são autônomas na hora da decisão, com normas de compliance importantes e normas de controle importantes e venda centralizada dos direitos audiovisuais de transmissão. A partir daí, cresce. Esse é o modelo. Se quiser seguir com o modelo que há agora, com essa mescla de divisão de receitas individual e coletiva, mas sem controle de uma instituição, esse é outro modelo, mas com ele não vai crescer.”.