Novamente o nome do goleiro Bruno repercuteapós o ex-atleta doFlamengoser contratado por um clube. Desta vez, não se trata sequer de um desafio no futebol profissional. Aos 38 anos, o jogador foi anunciado pelo Orion FC nesta terça-feira (21), time de várzea em São Paulo.Bruno está em liberdade condicional concedida pela Justiça do Rio de Janeiro. Ele foi condenado a 22 anos e três meses pelo assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio, mãe de seu filho Bruninho.

Fechado com clube paulista, goleiro Bruno coleciona passagens relâmpago após habeas corpus
Fechado com clube paulista, goleiro Bruno coleciona passagens relâmpago após habeas corpus

Brunoreforçaria a equipe da Zona Sul Paulista na disputa da Super Copa Pionner. Mas, a organização do torneio agiu rápido nos bastidores e publicounesta quarta-feira (22) uma nota, proibindo a participação do arqueiro na disputa:

“Afirmamos que o atleta não disputará a Super Copa Pioneer Netshoes. Ainda que o regulamento permita a inscrição de jogadores no decorrer do campeonato, ressaltamos que em nenhum momento o jogador foi autorizado a disputar a competição, sem nenhuma inscrição oficial aprovada ao time responsável”, escreveu o perfil oficial da competição em uma rede social.

Patrocinadora oficial da Super Copa Pionner, a Netshoes se manifestou em apoio à iniciativa:”Estamos juntos nesta decisão”, comentou a marca esportiva. A contratação gerou muita repercussão negativa ao Orion nas redes sociais, especialmente com a manifestação de mulheres contra a atitude, como por exemplo o perfil Mulheres da Várzea Oficial . “Eliza presente, parem de nos matar”, enfatizou. Veja outros comentários:

“Tem que aplaudir o presidente desse time, conseguiu destruir com essa atitude lamentável”;

“Vocês deveriam ter vergonha de dar oportunidade pra esse ser!”;

“Ele tem uma segunda chance, a vítima não teve…”;

“A ressocialização deste tipo de delito cometido por ele não deve ser no futebol, no qual crianças se inspiram e veem os jogadores como heróis. Um absurdo e uma falta de respeito com as mulheres”.

Não é, nem de longe, a primeira vez que o goleiro Bruno é contratado desde que teve um habeas curpus concedido pela Justiça, em 2017. Pelo contrário, o Orion é o oitavo clube que aposta em fechar com o arqueiro após a sua condenação pela morte de Eliza Samúdio. Em alguns dos casos, ele foi anunciado mas sequer entrou em campo.

O primeiro deles foi o Montes Claros, em 2014, ano seguinte ao jogador ser condenado em júri popular. O clube, à época na segunda divisão mineira, assinou um contrato de cinco anos com o ex-flamenguista, enquanto ele estava na prisão, em regime fechado. O acordo teve direito a multa rescisória deR$ 2,86 milhões.

Ao adquirirliberdade condicional em 2017, Bruno e seu staff deram o antigo vínculocomoencerradoe ele fechou com o Boa Esporte, também do Estado deMinas Gerais. A situação rendeu polêmica com a diretoria do Montes Claros à época.

Imagem: Reprodução/CBF

Bruno defendeu o Boa Esporte por apenas cinco partidas no Módulo II do Campeonato Mineiro. Voltou à prisão no mesmo ano cumpriu mais dois anos da pena. Em julho de 2019, conseguiu uma progressão da pena e foi solto novamente. No mês seguinte, fechou com outro clube mineiro: oPoços de Caldas.

Sua apresentação teveperguntas censuradas e equipede imprensa barrada. Por lá, o goleiro jogou apenas 45 minutos em um amistoso contra um time amador local. Ele teve o seu contrato rescindido após uma polêmica:atuou- como atacante – em uma equipe amadora, na disputa deum torneio realizado em Varginha.Ele não treinava com o elenco do Poços de Caldas porque cumpria regime semiaberto justamente em Varginha, cidade que fica a 160km da sede do Vulcão.

Um ano após mais uma passagem conturbada esaída polêmica de um clube, Bruno conseguiu cosntruir a sua trajetóriamais longêva e significante desde que foi preso. Foram 18 jogos e um gol marcado, vestindo a camisa do Rio Branco-AC, na Série D do Campeonato Brasileiro de 2020. Desta vez, saiu pela porta da frente.

Mas,as polêmicas durante o período se fizeram presentes. O clube acreano perdeu um patrocinador logo após o anúncio do goleiro. Em seguida, atécnica Rose Costa, que havia acertado para desenvolver umtrabalho no time feminino do Rio Branco, se desligou do projeto. O jogador teve de recorrer a uma liminar para retirar a tornozeleira eletrônica nos treinos e jogos.

Já em 2021, Bruno foi anunciado em abril pelo Araguacema, para a disputa do Campeonato Tocantinense. Mas, o Estadual acabou cancelado por conta da Covid-19. Em maio, chegou ao Atlético Carioca, para jogar na quinta divisão do Rio de Janeiro. Marcou um gol de pênalti na estreia, mas fez apenas duas partidas e não voltou a aparecer mais na competição.
Em julho de 2022, o Atlético Carioca festejou o retorno de Bruno para reforçar a equipe novamente na Série C Estadual. Desta vez, ele foi a campo em três jogos. Já no mês seguinte, o Clube comunicou o seu empréstimo ao Búzios, para a disputa da quarta divisão do Rio de Janeiro.
Emprestado ao Búzios, Bruno fez um jogo pela equipe da Região dos Lagos e dias depois da sua chegada, acabou dispensado por conta de protestos. A presença do goleiro no Clube gerou atos de Frentes Feministas da cidade, em manifesto contrárioà contrataçãodojogador.
Bruno foi capitão do Atlético Carioca enquanto atuou pelo Clube. Foto: Divulgação/ Instagram@atleticocariocaoficial/ Clever Felix