Casos emblemáticos e cultura de silêncio

A jogadora alemã Giulia Gwinn lançou recentemente sua autobiografia “Write Your Own Story”, onde narra momentos decisivos de sua trajetória no futebol. A obra também expõe as dificuldades enfrentadas por mulheres no esporte, principalmente o assédio virtual. “Estou sempre a receber fotografias de homens nus”, revelou a meio-campista do Bayern de Munique. A atleta se mostrou determinada a seguir forte, apesar das violações constantes à sua privacidade.

Autobiografia de Giulia Gwinn. Foto: Reprodução/Instagram/@giuliagwinn
Autobiografia de Giulia Gwinn. Foto: Reprodução/Instagram/@giuliagwinn

Segundo Gwinn, o assédio nas redes sociais é contínuo e desgastante. “As fotos e as mensagens são sempre de contas anônimas. Apago-as e denuncio as contas. Isto é assédio!”, disse. A jogadora afirmou que não permite que esses ataques a afetem emocionalmente, mas destaca que esse comportamento é uma das desvantagens mais marcantes de ser mulher no futebol. Ela espera inspirar outras atletas a resistirem com coragem.

Além do assédio, Giulia contou já ter recebido diversas propostas para posar para revistas adultas. “Publicar uma fotografia de biquíni está ‘ok’, mas tudo o resto ultrapassa os meus limites pessoais”, declarou. Ao manter firme seus limites, a atleta reforça a importância da autonomia feminina sobre seus corpos e suas imagens. A exposição constante imposta às mulheres no esporte muitas vezes ignora esse direito básico.

Jogadora Giulia Gwinn. Foto: Reprodução/Instagram/@giuliagwinn

Apoio e reconhecimento no lançamento

O lançamento de sua biografia contou com cerca de 350 convidados, incluindo o presidente do Bayern de Munique, Herbert Hainer. “Giulia não só deu uma melhor compreensão do futebol feminino, mas também chamou a atenção para a forma como as mulheres podem afirmar-se no mundo de hoje”, disse.

O apoio institucional à atleta evidencia a importância de transformar essas falas em políticas de proteção às esportistas. O caso de Gwinn se soma a episódios como o de Jenni Hermoso, alvo de assédio pelo então presidente da Federação Espanhola, Luis Rubiales, em 2023.

Também em Portugal, jogadoras do Rio Ave denunciaram o ex-técnico Miguel Afonso por mensagens íntimas e assédio contínuo. Esses episódios refletem a cultura de silêncio, abuso de poder e impunidade que ainda predominam em várias modalidades esportivas ao redor do mundo.

Futebol feminino precisa de respeito

Enquanto o futebol feminino cresce em visibilidade e competitividade, as estruturas de proteção às atletas ainda são frágeis. A coragem de Giulia Gwinn em denunciar o assédio que sofre é um passo importante para romper o ciclo de abusos. É urgente que as entidades esportivas atuem com firmeza. As mulheres merecem jogar, competir e existir em paz nos mesmos espaços ocupados pelos homens.