Parte da teoria do caos, o efeito borboleta consiste na ideia de que uma pequena ação pode culminar em resultados completamente diferentes. É o que diz o estudo do meteorologista Edward Lorenz, realizado em 1961, que mostrava que o vento que causa o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode ocasionar um tornado no Texas, nos Estados Unidos, por exemplo.
O fim de 2022 parecia trazer uma temporada promissora para o Flamengo em 2023. Tetracampeão da Copa do Brasil e tricampeão da Libertadores, o Rubro-Negro disputaria quatro títulos logo no primeiro trimestre do ano. No entanto, nada saiu como o planejado pelo Clube. Derrotado em todos os duelos decisivos e com quatro (cinco, se contarmos a estreia de Tite) treinadores diferentes no período de um ano, o Flamengo tem um personagem principal na frustrante história da atual temporada: Marcos Braz.
Pouco após a conquista da terceira taça da Libertadores, o vice-presidente do Clube viralizou nas redes sociais, após puxar o grito “Real Madrid, pode esperar, a sua hora vai chegar” no vestiário dos campeões. Logo depois, a demissão do treinador Dorival Júnior foi anunciada pelo Rubro-Negro. De acordo com a visão da diretoria, o comandante, apesar de vitorioso e bem-quisto pelo elenco, não correspondeu ao esperado nas finais disputadas, tampouco no Brasileirão, onde o Flamengo terminou em quinto lugar.
A chegada do treinador ‘com mais repertório’
Sendo assim, o português Vítor Pereira, ex-Corinthians, foi procurado por Braz, durante suas férias na Bahia, para assumir o comando do Flamengo em 2023, e o negócio foi selado. O treinador estreou poucas semanas antes da decisão pela Supercopa do Brasil, diante do Palmeiras, após as férias de 60 dias concedidas ao elenco carioca. O resultado foi o primeiro amargor que a Nação provaria no ano: derrota de 4 a 3 para a equipe alviverde.
A próxima decisão seria o Mundial de Clubes. Pouco antes do início da temporada, Braz havia prometido publicamente ao menos quatro reforços, sendo dois “de peso” para a grande disputa. Porém, a única contratação anunciada foi o repatriamento de Gerson, campeão no histórico 2019. O volante chegou a ser expulso ainda no primeiro tempo do duelo contra o Al-Hilal, e a segunda – e vexatória – decepção se desenhou. O Flamengo ao menos chegou a final, e o Real Madrid segue esperando o momento prometido.
Recopa Sul-Americana, Taça Guanabara, Campeonato Carioca. Nenhum título. Nenhum reforço. A solução encontrada foi pela clássica demissão do treinador. O Rubro-Negro até sonhou com o retorno triunfal de Jorge Jesus. Porém, acabou assinando com o argentino Jorge Sampaoli, que trouxe ainda mais decepções para a Nação. O episódio da briga entre o preparador físico Pablo Hernández e o atacante Pedro parecia ser a gota d’água na trajetória de um técnico que pouco convenceu. No entanto, a diretoria flamenguista insistiu em sua permanência. Consequentemente, uma nuvem de caos se instalou no CT Ninho do Urubu, que foi o octógono de mais uma briga – dessa vez, protagonizada por Gerson e Varela.
Tropeços sequenciais no Brasileirão, um novo vexame – desta vez na Libertadores, com direito a eliminação precoce – a Copa do Brasil era a luz no fim do túnel de um 2023 caótico para o Flamengo. No entanto, o Clube se viu acertando contas com Dorival Júnior, agora treinador do São Paulo, time que concorria à sua primeira taça na competição. E a máxima do futebol se cumpriu: a bola puniu as decisões iniciais da diretoria rubro-negra, e Dorival foi campeão junto aos tricolores.
Porradaria no Flamengo e piadas na internet
De reforço estrelado, Gerson tornou-se lutador de UFC nas redes sociais. De solução para o Flamengo pouco criativo de 2022, Vítor Pereira se transformou no algoz dos vexames do início do ano. Antes treinador rechaçado, Dorival Júnior conquistou, junto com o São Paulo, o título da Copa do Brasil, sobre o Clube que o demitiu em dezembro. Porém, mais do que uma superstição futebolística, o Flamengo provou da incompetência do pilar principal da derrocada do antes promissor 2023. Rosto das negociações, promessas e declarações públicas, Marcos Braz foi o bater de asas do tornado Rubro-Negro.
Para piorar a sequência de péssimas decisões, o dirigente ainda protagonizou uma vergonhosa briga, junto a um torcedor. Não bastasse a derrota do Flamengo no primeiro jogo decisivo pela Copa do Brasil, os torcedores ainda viram o vice-presidente morder a virilha de um rapaz no meio de um shopping do Rio de Janeiro. A derrota já vinha anunciada. Porém, quem pagou pelos pecados foi, novamente, o treinador. Não que o trabalho de Sampaoli tenha sido primoroso – longe disso. Porém, não há muito que se esperar de uma diretoria que acumula soluções rápidas e planejamentos mal executados.
A bola da vez e grande esperança de 2024 é Tite. O Flamengo promete uma reformulação total, e novos reforços já são discutidos. Porém, a falta de confiança e profissionalismo do representante principal (uma vez que Landim prefere permanecer escondido) da cúpula rubro-negra pode, mais uma vez, colocar tudo a perder. Enquanto Marcos Braz não entender que o Clube de Regatas do Flamengo não gira em torno de seus caprichos, o caos interno não parece ter solução.
No fim, quem paga é o torcedor, que vê seu time do coração refém da péssima administração de alguém que prefere culpar treinadores, jogadores e a própria torcida, ao invés de admitir que o fracasso é o resultado de um trabalho questionável e pouco eficaz à frente do Clube mais expressivo e rico do Brasil. Enquanto Braz volta a fazer promessas para o próximo ano, o flamenguista conta os minutos para o fim da gestão que, apostando no tudo ou nada, mais acumula episódios vergonhosos do que vitórias grandiosas. Hoje, ao invés de troféus, a Nação espera qual será o próximo tornado a desolar o Flamengo. Mas uma coisa é certa: Braz, enquanto permanecer como dirigente, terá participação direta na bagunça.
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