Britney vs Spears não conta uma história nova. O mundo inteiro sabe do colapso mental que Britney Spears teve em 2007, que a obrigou a ficar sob a tutela do pai, Jamie Spears. Desde então, muitos fãs da cantora e alguns teóricos de conspiração das redes sociais levantaram a hashtag “Free Britney”, indicando que ela sofria abusos e que seu pai, na verdade, estava tirando dinheiro dela ao invés de preservá-lo.
E realmente era uma conversa de teórico de conspiração, até que há pouco mais de um ano, essas notícias começaram a se provar verdadeiras. Diversos indícios de que Britney sofreu abusos durante a sua tutela começaram a aparecer, culminando com o chocante depoimento que ela deu em julho deste ano, em que falou abertamente sobre como quer se livrar do controle que Jamie Spears exerceu em sua vida e carreira.
A partir disso, o nicho de documentários descobriu a história. “Framing Britney Spears”, que recentemente ganhou um Emmy, foi o pioneiro em tentar desvendar o que estava realmente acontecendo com a cantora e ajudou a dar credibilidade para o movimento “Free Britney”, que ultrapassou as barreiras dos muito-fãs e se tornou algo real, onde muita gente embarcou, inclusive diversas celebridades amigas de Britney.
Então, diversas produções começaram a fazer investigações para tentar alguma manchete nova a respeito do caso de Britney. Esse “Britney vs Spears” é um exemplo disso, mas que não traz absolutamente nada de novo. A diretora Erin Lee Carr escolhe entrevistar figuras que são, no mínimo, sem credibilidade para falar sobre a artista: Sam Lutfi, por exemplo, é ex-associado de Britney, mas é acusado de drogá-la, mesmo que sempre faça questão de negar as acusações; os fãs dela não vão muito com a cara dele, e com razão, já que ele tem toda a pinta de mafioso.
O documentário também conversa com Adnan Ghalib, ex-namorado de Britney que era ‘paparazzi’, mas que não tem nada de interessante para dizer a respeito do tempo que passou coim ela. Quem realmente se destaca é Felicia Culotta, ex-assistente de Britney que tem dado entrevistas a praticamente todos os documentários sobre ela até aqui. Extremamente simpática, gentil, querida dos fãs, Felicia sempre tenta passar um retrato fiel de quem era Britney antes de toda a confusão que aconteceu com ela em 2007. Mas até ela, que sempre fez questão de prestar esclarecimentos e informações sobre a cantora, parece meio sem assunto aqui.
Poucas novidades
O que esse documentário tem de novo são as páginas e mais páginas de documentos confidenciais, que foram obtidas através de uma fonte anônima, e que poderiam jogar luz em cima de diversas situações vividas por Britney Spears nos últimos anos. Comentários sobre o histórico médico da cantora, os remédios que ela teria recebido através dos anos para dar conta do trabalho depois do colapso, entre outras coisas, poderiam ser a chave para tornar o documentário relevante, mas acaba esbarrando na falta de aprofundamento. Não dá para saber se foi a Netflix que exigiu isso para não ter problemas legais ou se foi deslize da diretora.
E, como já havia acontecido nos outros documentários, faz falta um depoimento da própria Britney Spears aqui. Dela, só ouvimos em trechos de entrevistas resgatados e a sua chocante declaração ao tribunal em julho, e nada mais. Sabe-se que ela não tem interesse em falar para as produções que jogam luz no período mais negro de sua vida, mas ainda assim, parece que fica faltando ouvir quem realmente tem interesse em desvendar essa trama.
Como documentário, “Britney vs Spears” pode ser bem inferior a “Framing Britney Spears”, por exemplo, por não ser tão contundente e nem querer se aprofundar mais no drama da cantora. Serve mesmo como fan service, para animar os numerosos admiradores da estrela pop que tenta, agora, se livrar de um sistema que a oprimiu por vários anos. Como cinema, porém, é fraco e não quer dizer muita coisa além dessa tentativa de atrair quem gosta de verdade de Britney Spears e se preocupa com ela.