Quem é Ángel Romero e por que ele divide tantas opiniões?

Ángel Romero, de 33 anos, é, há mais de uma década, um dos jogadores mais reconhecidos do Corinthians. Nascido no Paraguai, o atacante se consolidou como símbolo de raça, entrega e disciplina, tornando-se um dos atletas estrangeiros mais representativos da história do clube. No entanto, sua trajetória nunca foi unânime. Para alguns, é um jogador limitado tecnicamente; para outros, um guerreiro que representa como poucos o espírito corinthiano.

Ángel Romero tem grandes feitos com a camisa do Timão. Foto: Fernando Moreno/AGIF – Ettore Chiereguini/AGIF – Marcello Zambrana/AGIF
Ángel Romero tem grandes feitos com a camisa do Timão. Foto: Fernando Moreno/AGIF – Ettore Chiereguini/AGIF – Marcello Zambrana/AGIF

Romero vive, desde novembro de 2025, sua segunda e mais improvável fase de prestígio dentro do clube, depois de ter retornado ao Corinthians sob fortes dúvidas da torcida e da imprensa. Seu estilo de jogo, caracterizado por intensidade, perseguição incansável à bola, marcação forte e movimentação ofensiva, o transformou num jogador indispensável para diversos treinadores que confiaram em sua dedicação.

Embora não tenha o refinamento técnico de outros atacantes, Romero se destaca pela boa finalização, pela leitura tática e pela versatilidade. Pode atuar pelos lados do campo, explorando sua velocidade, mas também funciona como finalizador, atacando o espaço e pressionando a saída adversária. Mesmo não sendo titular absoluto no elenco atual, continua sendo visto como um trunfo decisivo, especialmente em jogos grandes.

Após retornar ao clube em 2023, Romero passou de contestado a peça confiável. O que muitos chamaram de “contratação desastrosa” se transformou, com o tempo, em uma das histórias mais simbólicas de superação, algo típico de grandes nomes da história do Corinthians.

Ángel Romero pelo Corinthians em 2024. Foto: Leonardo Lima/AGIF

Como foi a primeira passagem de Romero pelo Corinthians?

A primeira passagem de Ángel Romero pelo clube foi uma verdadeira montanha-russa. O atacante chegou ao Corinthians em 5 de junho de 2014, vindo do Cerro Porteño, ainda jovem e pouco conhecido no futebol brasileiro. Embora sua chegada tenha gerado curiosidade, o jogador precisou lidar desde cedo com críticas e desconfiança sobre sua qualidade técnica.

Mesmo assim, Romero sempre demonstrou que vestir a camisa alvinegra era um sonho antigo. Chegou declarando que defenderia o clube “até a morte”, algo que caiu imediatamente no gosto de parte da Fiel. A adaptação, no entanto, não foi fácil. No início, o atacante sofreu com o ritmo mais intenso do futebol brasileiro, com limitações no drible e com oscilações no desempenho.

A virada veio no Brasileirão de 2015, quando Romero passou a ganhar mais espaço no time e se transformou numa peça importante do esquema. Foi decisivo em partidas-chave, como no clássico contra o São Paulo, quando marcou dois gols e sofreu um pênalti na reta final da campanha que levou o Corinthians ao título nacional.

Romero passou a ser visto como um jogador tático, extremamente útil em times que priorizavam organização, compactação e intensidade defensiva. Com Tite e posteriormente com Fábio Carille, tornou-se quase uma peça “obrigatória”, principalmente nos grandes jogos.

Considerado por muitos como símbolo de superação interna, Romero encerrou sua primeira passagem com 222 jogos e 38 gols, além de diversos títulos importantes, incluindo o Brasileiro de 2015 e 2017, além do Paulistão de 2017 e 2018. Tornou-se, na época, o estrangeiro com mais partidas pelo clube e o segundo maior artilheiro da Neo Química Arena, com 27 gols.

Romero do Corinthians segura taça do Brasileirão de 2017. Foto: Ale Cabral/AGIF

Por que Romero saiu do Corinthians em 2019?

A saída de Romero foi uma das mais controversas da década no Corinthians. Em 2019, o atacante entrou na fase final do contrato e iniciou uma série de reuniões com o clube para discutir sua permanência. Entretanto, diretoria e empresário não chegaram a um acordo. As negociações se arrastaram por meses e, enquanto isso, Romero acabou afastado do elenco.

Mesmo com contrato vigente, o jogador foi impedido de entrar em campo por decisão interna da diretoria até que a situação contratual fosse resolvida. O Corinthians, naquele período, mantinha a política de não utilizar atletas que estivessem com negociação indefinida, e Romero acabou sendo uma das vítimas dessa estratégia administrativa.

Sem resolução à vista, o atacante deixou o clube de graça em julho de 2019 e foi anunciado pelo San Lorenzo, da Argentina, onde assinou por três temporadas. Lá, conseguiu bons números: 55 jogos, 13 gols e 12 assistências, sendo titular em boa parte da passagem.

Em 2022, Romero se transferiu para o Cruz Azul, do México, onde assinou contrato até dezembro daquele ano. No entanto, teve sua rescisão antecipada em novembro, encerrando uma passagem discreta no país. Durante esse período fora do Brasil, o jogador também teve participação regular na Seleção Paraguaia, mantendo-se competitivo, ainda que longe dos holofotes do futebol brasileiro.

Quando Romero retornou ao Corinthians e qual era o contexto?

Romero retornou ao Corinthians no início de 2023, em uma contratação que gerou críticas pesadas da torcida e da imprensa. Muitos entenderam sua chegada como um movimento desesperado da diretoria, que buscava recuperar identidade em meio a um elenco irregular e instável. Para a maioria, o atacante seria apenas uma lembrança do passado, sem condição técnica de impactar o time atual.

Entretanto, a narrativa mudou ao longo da temporada. Romero marcou 8 gols no Brasileirão de 2023, muitos deles decisivos em jogos importantes. Na reta final do campeonato, foi crucial para garantir a permanência do Corinthians na Série A. De acordo com números internos do clube, o atacante foi responsável direta ou indiretamente por 70% dos pontos conquistados na competição, revelando seu peso competitivo.

Como Romero perdeu espaço na equipe em 2025?

Mesmo após uma temporada histórica, na qual ultrapassou Roger Guedes como o maior artilheiro da Neo Química Arena e também superou Guerrero como o maior goleador estrangeiro do Corinthians, Romero acabou perdendo espaço na equipe a partir da metade de 2024.

A chegada de Memphis Depay, e o bom momento de Yuri Alberto reduziram seu tempo de campo. Romero passou a entrar com mais frequência no segundo tempo, sendo utilizado para fechar corredores e reforçar a intensidade ofensiva do time.

Na temporada de 2025, mesmo com muitos jogos disputados, seus números caíram. Até aqui são 51 partidas, cinco gols e três assistências, desempenho considerado abaixo de anos anteriores. Ainda assim, o jogador continuou sendo utilizado com regularidade, principalmente pela confiança que desperta em ambientes de pressão.

Romero durante aquecimento na Neo Química Arena em 2025. Foto: Fabio Giannelli/AGIF

O que Romero disse sobre as críticas e sua relação de amor com o Corinthians?

Ao longo de toda carreira, Romero sempre adotou postura humilde e direta diante das críticas. Em 2016, em uma coletiva no CT Joaquim Grava, foi questionado sobre seu estilo de jogo e respondeu de forma marcante: “Eu ganho para fazer gol. Eu ganho para isso. Não venho para ser malabarista no farol.”

A frase se tornou uma das declarações mais lembradas do jogador, porque simboliza sua identidade dentro do clube: menos espetáculo, mais entrega. Ele sempre deixou claro que não se abala com críticas e que está no Corinthians para cumprir seu papel, independentemente de opiniões externas. Em 2018, Romero voltou a responder à imprensa, afirmando: “Alguns dizem que não tenho técnica. Tudo bem. Aceito críticas, faz parte do futebol.”

Qual é o legado de Romero e o que se espera do futuro?

O legado de Ángel Romero no Corinthians é um dos mais curiosos e complexos entre os jogadores recentes do clube. De desacreditado, passou a símbolo de confiança. De reserva, passou a protagonista. De meme, virou um jogador histórico. Atualmente com contrato até 31 de dezembro de 2025, Romero ainda tem futuro indefinido no clube. Pode renovar, pode deixar o Corinthians ou pode simplesmente seguir como peça útil até o fim do vínculo.

Será que Romero conseguirá cravar seu nome de vez entre os ídolos recentes do Corinthians?

A trajetória de Romero mostra que, no Corinthians, a entrega pesa tanto quanto a técnica. O jogador voltou ao clube que o abraçou, viveu picos importantes da carreira e se tornou referência emocional para a torcida.

Mas o questionamento que fica é: será que Romero conseguirá entrar na galeria de ídolos recentes da equipe ainda em 2025? Ou sua história já provou que devido a sua entrega e raça dentro do clube o já colocou nesse patamar?