As "Bruxas de Salem" ficaram marcadas na história por conta de uma perseguição contra o povoado de Salem, Massachusetts, EUA, em 1692. Na ocasião, o reverendo Samuel Parris foi avisado por um médico que  sua filha Betty Parris (9), e sua sobrinha Abigail Williams, 11, eram bruxas. As meninas apresentavam fala truncada e seus membros se contorciam, e, após elas, diversas outras pessoas começaram a apresentar os mesmos sintomas. Foi aí que se iniciou uma "caça as bruxas", que matou muitas pessoas.

Imagem: Reprodução/Pixabay.
Imagem: Reprodução/Pixabay.

Séculos após o acontecido, em 1976,  Linnda Caporael criou uma teoria de que os sintomas que afetaram a população de Setem foram causados fungo do centeio, que causa "ergotismo convulsivo" (espasmos musculares, alucinações e convulsões). Outras teorias ainda foram criadas, alegando que os sintomas eram causadas por plantas psicoativas, doenças autoimunes, bactérias e várias outras possibilidades.

Entretanto, todas essas teorias foram descartadas. Um dos motivos, segundo informações do portal BBC, foi: "Os principais sintomas de envenenamento por fungo do centeio, por exemplo, não foram observados nas meninas de Salem, como fortes queixas gastrointestinais, coloração pálida da pele e apetite insaciável.". Porém, uma nova possibilidade foi criada por Michael Zandi, neurologista do University College de Londres, e um dos seus alunos, Johnny Tam, na publicação Journal of Neurology.

Essa nova possibilidade é a encefalite anti-NMDAR. Ainda conforme o portal, um quadro de uma paciente comum afetada pela doença consiste em desenvolver, no estágio inicial, uma doença parecida com a gripe. Em algumas semanas, a paciente fica obcecada por Deus ou pelo demônio, consumida pela paranoia e atormentada pela insônia. "Ela repete as mesmas palavras e, em seguida, fica totalmente muda. Depois, vêm as convulsões, contorções dos membros e estranhos movimentos repetidos da boca e da língua. Seus batimentos ficam lentos ou acelerados, sua pressão sanguínea aumenta e cai. Ela transpira, baba, grunhe e faz caretas. Ela fica catatônica e então entra em coma.", diz o site.

Graças a uma pesquisa feita em 2007, sabemos hoje que  essa condição é causada por um distúrbio neurológico, em que um anticorpo ofensivo reage contra os receptores de NMDA (N-metil D-aspartato). Por mais que tenham, segundo os criadores da nova teoria, muitos pontos em comum entre os comportamentos das "bruxas" e dos portadores, algumas perguntas ainda ficam sem respostas. Como as primas apresentaram os mesmos sintomas sendo que a doença não é infecciosa? Zandi afirma que a doença é hereditária e as duas poderiam ser portadoras, mas admite que "sim, é mais provável que apenas uma a tivesse e não as duas".

Os pontos em comum entre os habitantes de Salem e os portadores da encefalite anti-NMDAR, segundo o portal BBC, são: 

"A ansiedade e os delírios persecutórios causados pela encefalite anti-NMDAR parecem ter sido apresentados pelas meninas de Salem;

A encefalite causa convulsões e as meninas tiveram "diversos ataques de dores";

As discinesias (movimentos involuntários dos membros) de encefalite anti-NMDAR podem coincidir com esta descrição: "seus membros destroçados as atormentavam... seus braços, pescoços e costas se retorciam de um lado para o outro e depois voltavam ao normal";

Existem paralelos entre a perda da inibição e a alteração do status mental da encefalite e este relato: "ela primeiro corria violentamente para dentro e para fora do quarto... e começou a atirar brasas pela casa...";

A indicação de que as meninas estavam sofrendo alucinações: "às vezes, parecia que ela iria voar, esticando seus braços o mais alto que podia e gritando whish, whish, whish...";

As meninas às vezes "ficavam mudas", o que talvez sugerisse um estado catatônico;

Inchaços do cérebro podem comprometer a fala. "As bocas [das meninas] paravam, suas gargantas engasgavam..."".